segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ADMIRÁVEL GADO NOVO...

FONTE: Janio lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

O uso da logomarca do governo baiano em ovinos e caprinos ainda vai dar bode. Devo admitir se tratar de uma iniciativa que vai além da barreira da criatividade por tão absurda que soa. Ao contrário da oposição, não vejo propaganda política no ato em si. Encaro a coisa como um tremendo mau gosto. Já pensou: a Secretaria Estadual da Agricultura, através de programa específico, doa os animais às famílias residentes em municípios do semiárido onde a situação é de miséria incontestável, mas o beneficiado é obrigado a receber, também totalmente de graça, os bichos com as orelhas furadas e nelas a plaquinha "Bahia, terra de todos nós". Não é um primor? Sugiro apenas que ao abater a cabra (esse negócio vai dar bode, olha o que estou dizendo) o contemplado tenho o cuidado de retirar o "brinco". Não é por nada. Servirá apenas para evitar engoli-lo distraidamente ao saborear a carne.
Quem vibrou com a novidade foi o mau caráter do meu sobrinho. Ele até já juntou os trapos e rumou para uma cidadezinha do sertão brabo. Está à espera de receber o seu quinhão. O puxa-saco quer não apenas "brincar" as orelhas, mas o corpo todo dos animais, inclusive com fotos do governador Jaques Wagner e do secretário Roberto Muniz. Na verdade, o estúpido do meu sobrinho quer tão somente agradar as autoridades. Quem sabe dessa maneira consegue um emprego público, mesmo residindo num local onde se morre de fome e de sede. O descarado quer mostrar serviço. Anda espalhando que a ideia dos brincos foi dele. Pura mentira do lambe-botas. O falsário é capaz de cometer todo tipo de ilícito, de falcatruas e bandidagens. É um corrupto e de uma subserviência ímpar.
Não ia contar por vergonha, porém decidi abrir o jogo para alertar as pessoas de bem dessa terra. O larápio do meu sobrinho, um alcaguete inqualificável, resolveu pregar nele próprio a logomarca do e seu slogal. Não apenas furou as enormes orelhas (o imbecil tem orelhas do tamanho das dos jumentos – que me perdoe os jumentos) como também perfurou as costas, o peito, a barriga e as pernas. Quem o vê a cem quilômetros de distância logo percebe as inscrições "Bahia, terra de todos nós" e o sorriso glamoroso de Wagner. Num plano menor, o verme cravou a foto de Muniz. Tinha até o retrato do prefeito João Henrique, que ele preferiu apagar depois que lhe explicaram que o programa era estadual e nada tinha a ver com Salvador. O psicopata do meu sobrinho transformou-se num outdoor ambulante. Desta vez, afirma, não há como o governador não se sensibilizar com seus apelos por uma boquinha no Estado. O filho da ... (é isso mesmo que vocês estão pensando), como se não bastasse o papel ridículo e insano que desempenha, ainda providenciou um CD de Zé Ramalho, praticamente imprestável depois de tanto ouvir "Admirável Gado Novo", que ele acha lindo. Para quem gosta, ai vai a letra da composição, muito apropriada para o momento. Ou não?
"Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos projetos do futuro/É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber/E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer/E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer/Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz/Lá fora faz um tempo confortável, a vigilância cuida do normal/Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no jornal/E correm através da madrugada a única velhice que chegou/Demoram-se na beira da estrada e passam a contar o que sobrou/Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz/O povo foge da ignorância apesar de viver tão perto dela/E sonham com melhores tempos idos, contemplam essa vida numa cela/Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar/A arca de Noé, o dirigível, não voam nem se pode flutuar/Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz".

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