segunda-feira, 5 de outubro de 2009

AGENTES DA POLÍCIA RODOVIÁRIA ARRANCAM SUSPIROS DA MULHERADA...

FONTE: *** Mariana Rios (CORREIO DA BAHIA).

O mau humor some rapidinho, assim como a sensação de tempo perdido na abordagem . Motoristas, principalmente as mulheres, que trafegam na BR- 324 têm encontrado motivos para sorrir, puxar conversa e adiar a viagem, quando são advertidas ou abordadas nas blitze realizadas na rodovia. Nos 109 km da árida, desnivelada e perigosa via baiana - a principal do estado - um time de agentes da Polícia Rodoviária Federal virou atração na pista.
Para além da cortesia e da polidez no tratamento, os policiais mostram que são bem mais que rostinhos bonitos. “São tudo de bom. Me pararam uma vez próximo à Brasilgás,e não resisti: perguntei se ele não queria fazer uma vistoria mais detalhada, vasculhar meu interior. Das vezes que fui parada, fiquei sem fôlego”, conta, rindo, a designer Luciane Carneiro, 29 anos, que a cada 15 dias viaja para Feira de Santana.
Agente Ramos: “As mulheres são mais tranquilas, parecem conhecer mais seus direitos e tendem a conversar mais”, justifica o agente sobre a “conversa” feminina.
Alguns agentes riem da ousadia das moças e contam que mantêm a pose. Outros desconversam e puxam a entrevista para a exaustiva falta de rotina - afinal, trabalham em esquema de plantão, 24 horas na pista. “Temo fetiche da farda. Os feios também recebem cantadas”, entrega o inspetor George Paim, chefe da delegacia em Simões Filho, a maior do estado. A mesma farda, no entanto, parece inibir o assédio masculino. Nenhum dos policiais relatou comportamentos mais atrevidos de motoristas homens.
Rafael Jesuíno Para o agente de 28 anos, e cinco de PRF, as mulheres gostam mesmo é da farda. Casado, já recebeu cantada até de passageira de ônibus - que jogou o telefone pela janela. “Eu não gosto quando dão em cima. Dou risada, mas tento manter a pose. É constrangedor, a gente está trabalhando e temque mostrar atitude”.
BOA PINTA

A unidade de Simões Filho é um dos 26 postos da PRF, responsáveis pelos 6.512 km da malha rodoviária federal na Bahia. E lá está a maior concentração dos boas-pintas. A agente Renata Cristina de Azevedo, 31, é uma das três mulheres que trabalham no local - ao lado de uma centena de homens -, e revela: as motoristas olham sim. “Olham para conferir, com certeza, mas respeitam a farda”.
Há 15 anos na PRF, inspetor Paim, 37 anos, assume que já recebeu cantada,“apesar de não gostar”. Casado e pai de dois filhos, uma das “chamadas” marcou: uma mulher com 40, casada, disse que queria fazer uma proposta indecente. “E me perguntou se eu já tinha recebido uma. Respondi: graças a Deus não. Não adiantou, mesmo sem graça, ela deu o telefone”.

Harley Mesquita Costa: São cinco anos de Polícia Rodoviária Federal e mais de 20 anos de surfe, esporte que pratica, além do jiu-jítsu. Aos 34 anos, conta as artimanhas das motoristas. “Algumas param e dizem que faltou gasolina, dão telefone, jogam um papo e umas indiretas”. Nas abordagens, as mulheres costumam ser mais comunicativas - “são mais prestativas”. Já sobre as cantadas, diz que é legal, “não tem quem não goste”, mas costuma ser profissional. “Não se pode confundir as coisas”.
ANIMAÇÃO
Os ataques mais verbais, diretos, em geral, são cíclicos. Tem época que elas ficam mais indóceis. Principalmente no que os agentes chamam de controle de via, quando acontecemas festas no interior, como São João. “Uma ou outra passageira está mais animada e grita: gostoso e tal. Então você finge que não é com você”, conta o agente Ramos, 36 anos, casado e pai de um menino.
Segundo ele, a abordagem séria inibe comportamentos atrevidos. Não tem como negar, no entanto, que elas são chegadas a uma “conversa”. “As mulheres são mais tranquilas, parecem conhecer mais seus direitos e tendem a conversar mais”, justifica o agente Ramos, que se considera “de porte” - quando responde se acha bonito.


Giovani França Cordeiro Cirurgião-dentista formado pela Universidade Federal da Bahia, atuou por 11 anos na profissão. Há quatro anos na Polícia Rodoviária Federal, conta que se sente mais útil. Para enfrentar as 24 horas do plantão, não dispensa o protetor solar com fator de proteção 50. Casado, diz que as motoristas mais saidinhas ficam sem graça: “Corto de imediato”.
Para manter o “porte”, o agente Ramos malha uma hora e meia, quatro vezes por semana - “o cinto de guarnição aumenta a pança” -, se preocupa com alimentação e usa protetor solar. Entre as operações, a preferência é por gerenciamento de crises e aberturas de pista. “Não adianta partir para a agressão quando tem manifestante. O motorista mais afoito reclama ‘tem que abrir, dá porrada’. Temos que lidar com esses dois lados: o manifestante exaltado e o motorista que quer prosseguir a viagem”
CARA-DE-PAU
Para aliviar a rotina de acidente, crime, retirada de animais da pista, alguns dos policiais não escondem que se divertem com as peripécias femininas. O agente Harley Mesquista foi cantado por uma mulher, acompanhada pelo marido.O homem estava ao volante e precisou abaixar a cabeça para pegar um documento. A mulher não perdeu tempo. “Ela ficou movendo os lábios. E precisei fazer leitura labial para entender que era de gostoso para baixo”, conta Harley, que tem namorada.
Alguns, antes de assumir a farda, na seleção, contam que foram alvos das brincadeiras femininas. “Elas ficavam falando se era concurso de beleza”, brinca o agente Rafael Jesuíno.

George Paim Chefe da delegacia em Simões Filho, aos 37 anos, já sofreu assédio de uma mulher casada, que queria lhe fazer uma “proposta indecente”. Casado e pai de dois filhos, diz que finge não ser com ele, quando ouve alguma piadinha. “Mesmo sem graça, elas dão o telefone'.

*** Notícia publicada da edição impressa do dia 05/10/10 do CORREIO.

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