quinta-feira, 22 de outubro de 2009

“CHACRINHA ERA PAI SEVERO”: ENTREVISTA COM RITA CADILLAC...

FONTE: Vinícius Santos (CORREIO DA BAHIA).
Poucas pessoas podem descrever Chacrinha com tanta propriedade quanto suas famosas e talentosas dançarinas de palco: as Chacretes. Entre elas, uma desponta: Rita Cadillac. Como ela mesma define, Rita é “a única, entre todas elas, que continua fazendo a mesma coisa que fazia antes”. E a relação com o rei das tardes de sábado era mais do que profissional: era de pai para filha. Ou melhor, filhas.
Rita participa com depoimentos do documentário “Alô, Alô Terezinha”, sobre Chacrinha, que estreia no próximo dia 30 de outubro em todos os cinemas do país. Em entrevista exclusiva ao CORREIO, ela conta como foi a participação, como era a vida entre as Chacretes e como tomou a decisão de partir para o cinema pornô.

CONFIRA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA:

CORREIO - O documentário “Alô, Alô Terezinha” busca mostrar Chacrinha mantendo o foco nas Chacretes. Quais são suas lembranças daquela época?Rita Cadillac - Com as Chacretes eu não tinha muito relacionamento, porque eu entrava no palco, fazia o que eu tinha que fazer e pronto. Uma história legal que eu me recordo é que, quando terminavam as gravações do programa, a gente saía muito pra tomar chá. Ao invés de jantar, a gente tomava chá, que era mais econômico. Quem convidava a gente era o Chacrinha. Ninguém sabia, mas ele era muito pão-duro. Ele tomava o chá e, no meio do caminho, ia embora e deixava a conta para as Chacretes pagarem. Eu tenho grandes lembranças de todos, não só do Chacrinha, como dos cantores. Eu tenho uma saudade, mas saudável. Acho que na vida tudo passa.

Qual o poder que as Chacretes tinham no Programa do Chacrinha?Nós tínhamos um poder de sedução incrível. Isso era o que eu mais gostava, esse poder de dominação e de seduzir quem participava do programa e quem estava assistindo em casa. A gente chegava e todo mundo parava para olhar, pois eram todas meninas lindas e a gente sabia seduzir.

Algumas Chacretes contam no filme que chegara a sair com os famosos. Você tem alguma história desse tipo? Qual foi a coisa mais louca daquele tempo?Olha, a coisa mais louca que eu fiz foi em um show do Chacrinha em Belém. Eu namorava o Christian na época [da dupla Christian e Ralf]. Ele namorava com a Gretchen, mas na época eles já estavam separados. Estava no apartamento do hotel e então eu pulei para um outro hotel que ficava bem do lado de onde a gente estava para encontrar o Christian. Ainda bem que o Chacrinha não ficou sabendo disso...

Dizem, inclusive, que o Chacrinha era muito ciumento. Como vocês conseguiam lidar com isso?Ele era um pai pra gente, e um pai muito severo. Mas eu aprendi muito com ele, levei sempre para o lado do profissionalismo, mais do que para este lado severo e de condutas que o Chacrinha tinha. Na época, eu não entendia muito o porquê de ele ser tão severo, quase que um “pai de virgem”. Acho que, não somente eu, nenhuma de nós entendia. Ele era muito chato, mas hoje eu percebo que ele estava certo. O Chacrinha cuidava de preservar a nossa imagem, porque a fama que tínhamos era de prostitutas. Coisa que nós não éramos, entendeu? As pessoas acabavam pensando nisso porque eram mulheres que ficavam ali no centro rebolando, com um mini-maiô e achavam que a gente era aquele fogaréu todo. Na real, nós não éramos. A gente queria apenas encantar o público. Hoje eu aceito, mas na época eu ficava revoltada com isso.

Como você tomou, recentemente, a decisão de fazer filmes pornôs?Fazer filme foi por acaso, veio de um convite que recebi há cinco anos da produção da série Brasileirinhas. Eu aceitei porque, do jeito que estava a situação, eu tinha que aceitar. Eu achei que não tinha estrada mais pra mim. Antes eu havia recebido convites e nunca aceitei, pois eu ainda tinha um caminho a percorrer. Aos 50 anos, a sua estrada já não é tão longa. Na época em que decidi fazer os filmes, eu imaginei que a minha carreira, que o nome “Rita Cadillac”, estava morrendo. Mas, graças a Deus, as pessoas souberam compreender, souberam respeitar a minha decisão e viram que fiz aquilo por necessidade de dinheiro. Não fiz para poder aparecer e nem pra chamar atenção. Eu fiz aquilo e acabou.

Mas hoje ainda saem alguns filmes que caem na internet e outros que são lançados em DVD...Mas são cenas que foram feitas há cinco anos. Eu fiz 20 cenas para as Brasileirinhas e eles podem utilizar estas 20 cenas do jeito, da maneira e quando eles bem entenderem. Então, amanhã ou daqui a 10 anos, pode sair um filme.

Outro ponto curioso do documentário é que quem toma seu depoimento é um fã que visita a sua casa. Como é a sua relação com os fãs?Tranquila. Eu falo até hoje: eu levo mesmo os fãs pra minha casa, deitam na minha cama. Se quiser ir na minha casa, pra me conhecer, pra ver como que é... Vai, não tem problema algum. Eu sempre lidei bem com isso porque tudo que eu sou hoje e se eu fui alguém e continuo sendo, eu devo aos meus fãs. Porque, sem eles, não somente eu, mas qualquer artista, não é ninguém.

Além de participar como Chacrete, o que mais te chamava atenção no Chacrinha e na forma como ele conduzia o programa?Eu gostava daquele ser humano que ele era. Ele era uma pessoa de visão, ele sabia e tinha o dom de olhar para uma pessoa e descobrir o seu melhor e de investir nisso. Eu lembro que quando a Xuxa começou ele sempre falava o seguinte: essa menina vai ser um nome nacional. A cena do Byafra mesmo, no documentário, que é muito gozada, ele disse que aquilo foi o Chacrinha. E eu tenho certeza: foi realmente o Chacrinha. O Biafra, quando ia no programa, era muito tímido. Cantava ali no centro do palco e lá ficava. O Chacrinha odiava e por isso pegava ele pelo braço, carregava o Biafra pra cima e pra baixo, parecia um bonequinho.

Como é a sua relação com as Chacretes hoje?Com algumas eu ainda mantenho a amizade, outras eu só vejo em algum evento. Com a Fátima, por exemplo, eu sempre tive uma amizade muito forte, mesmo antes de a gente se tornar Chacrete. E ela tinha sumido, porque ela foi morar em Lumiar [Rio de Janeiro]. Eu reencontrei agora, por causa do documentário, fiquei hiperfeliz e vou tentar manter o contato. Há outras com quem eu não me comunico mais porque cada uma foi fazer alguma coisa. Uma foi ser psicóloga, outra foi ser professora e eu fui pra mesma estrada em que eu tava. Acho que sou a única louca, entre todas elas, que continua fazendo a mesma coisa que fazia antes.

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