segunda-feira, 12 de outubro de 2009

DE VOLTA AO CENÁRIO BIPOLAR...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).

A candidatura presidencial da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, depois de romper com o PT e ingressar no PV e o lançamento, pelo PSB, da candidatura de Ciro Gomes à sucessão do presidente Lula foram dois fatos que pareceram quebrar o cenário desejado pelo governo, de uma eleição presidencial bipolarizada – de um lado, o governo, o PT e aliados e a candidata Dilma Rousseff e do outro lado o candidato do PSDB e seus aliados, entre eles o Democratas, o governador paulista José Serra.
Este cenário bipolar é muito interessante para o governismo, cuja estratégia básica é a de estabelecer uma comparação entre o governo de oito anos de Fernando Henrique Cardoso e o governo que estará quase completando os mesmos oito anos, de Luiz Inácio Lula da Silva.
A grande vantagem para o atual governo e sua candidata na bipolarização e na comparação descrita é a de que FHC assumiu com o Plano Real implantado a apenas seis meses, um modelo econômico totalmente desatualizado e cometeu o erro grave de, na segunda metade de seu primeiro mandato, teimar em manter artificialmente o real sobrevalorizado ante o dólar, o que um custo altíssimo e quase leva o País à bancarrota.
A queda de Gustavo Franco e sua substituição por Armínio Fraga na presidência do Banco Central foi o momento de inflexão para a correção de rumos que permitiria a FHC passar a Lula, pouco mais de quatro anos depois, a presidência de um país com uma economia estável (a única instabilidade foi provocada pelo receio dos agentes econômicos e de parte da população pela perspectiva e em seguida pelo fato da eleição de Lula, em quem muitos não confiavam).
O grande acerto de Lula foi o de não mudar a política monetária e financeira do segundo governo de FHC. Ele até radicalizou nessa política, elevando demasiadamente os juros. Primeiro, para neutralizar a pouca confiança dos investidores em seu governo. Depois, para manter muito atrativos os títulos do governo, permitindo assim a rolagem da dívida pública, bem como, segundo insistentemente se alegava, manter a inflação é índices baixos.
Muitos analistas, na verdade quase a unanimidade, avaliavam que não seria preciso uma taxa básica de juros (Selic) tão alta para manter baixos os índices de inflação e que o discurso a respeito era apenas uma forma de encobrir o fato de que o governo mantinha a Selic na estratosfera para garantir a colocação de seus títulos. Para investidores e/ou especuladores foi uma grande farra, só recentemente em parte esvaziada.
Mas voltando à sucessão presidencial, há uma crescente conciência de que a candidatura de Marina Silva pelo PV tende a murchar a partir das convenções partidárias, em junho do ano que vem e sobretudo a partir do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão.
Quanto a Ciro Gomes, do PSB, o presidente Lula está atuando duramente, embora de forma dissimulada, para destruir a candidatura de seu ex-ministro e ex-ministro do presidente Itamar Franco, ex-governador do Ceará e ex-candidato a presidente da República. Lula quer que Ciro desista da candidatura a presidente em 2010 e dispute o governo de São Paulo: o PT considera nulas as próprias chances de ganhar a eleição para o governo paulista e, assim, Lula quer Ciro disputando o Palácio dos Bandeirantes para atrapalhar a estratégia política de José Serra e dar um palanque forte a Dilma Rousseff em São Paulo.
Daí que Lula e o governo teriam pressionado – com êxito – o PSB para forçar Ciro a mudar seu domicílio para São Paulo, enquanto o PT proclama que não há hipótese de Lula comparecer ao palanque de Ciro se este for candidato a presidente. Socialistas já estão qualificando a pressão do Planalto para que Ciro desista de concorrer à presidência de terrorismo político. Resta saber se o PSB e Ciro vão enfrentar ou se curvar. Caso se curvem, estará garantida a bipolarização que Lula, o governo e o PT desejam na sucessão presidencial.

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