domingo, 4 de outubro de 2009

MARIA BETHÂNIA FALA DOS NOVOS CDs EM ENTREVISTA AO CORREIO...

FONTE: *** Hagamenon Brito (CORREIO DA BAHIA).
A cantora Maria Bethânia, 63 anos, foge à máxima folclórica de que baiano é preguiçoso. Ao mesmo tempo em que lança dois bons álbuns simultaneamente (Encanteria e Tua, que chegam às lojas amanhã), com festa e entrevistas, participa de um importante seminário no Departamento de Letras da PUC-Rio (sobre a relação entre a música popular, literatura e memória), prepara o novo show (que estreia no Rio, dia 23, e chega ao Teatro Castro Alves, em 22 de novembro) e acorda cedo, em um sábado, para conversar por telefone com a reportagem do CORREIO.
“Menino, minha plateia ontem era chique (risos), tinha José Miguel Wisnik. Naverdade, foi a convite da Universidade Federal de Minas, em março, que eu fiz a primeira leitura de poesias e textos brasileiros e portugueses. Aí isso caiu na internet e agora me chamam para a Casa do Saber, para esse seminário ontem (NR: dia 2) na PUC... Faço isso de graça. O reitor da PUC me deu uma medalha de prata e ficou brincando que sou atriz, professora (risos). Que nada,sou cantora e já faço coisa demais”, conta.
CORREIO - Assim como em 2006, agora você lança dois discos de vez, um procedimento nada habitual no mercado fonográfico (no Brasil e no mundo). Existe um motivo especial ou é apenas decorrência de uma atividade criadora intensa?
Maria Bethânia - Quando entrei em estúdio em não pensava em lançar dois discos. Queria ver como estava o Brasil, discutir a composição, renovar o repertório. Solicitei músicas a algumas pessoas, umas íntimas e outras que eu nem conhecia, e a resposta foi muito feliz, me comoveu. Quando vi, tinha material para dois discos com unidade entre eles. O CD, como muita coisa na vida hoje, é um objeto obsoleto, mas as pessoas continuam fazendo CDs - e eu recebi muitos CDs. Eu, por exemplo, gosto de pegar um CD nas mãos, assim como gosto de pegar um livro - não vou ler livro na tela de um computador. Eu não sei para que esse pressa infernal de hoje em dia, não vou entrar nisso.
Além de ‘Tua’ (com participação especial de Lenine) e de ‘Encanteria’ (com participação de Caetano e Gilberto Gil na chula ‘Saudade dela’, em homenagem à saudosa Edith do Prato), você gravou um disco compoesias e textos portugueses e brasileiros. Que projeto é esse?
Foi decorrente exatamente dessas minhas leituras em universidades. A capa ainda não está pronta, ele será distribuído gratuitamente para escolas públicas.Sete das 22 canções dos dois discos foram compostas por Roque Ferreira. É quase um CD inteiro (risos).
O que te agrada tanto em Roque?Ele é extraordinário, sempre é uma novidade e anda por vários caminhos, de uma guarânia a um samba-de-roda do Recôncavo. Encontrei comele, no Verão baiano, e pedi músicas para um disco novo. Ele simplesmente me mandou um CD com nove canções, depois outro com oito e ainda outro com cinco (risos).
Nos últimos anos, mesmo quando você interpreta um samba, passa uma sensação de brasilidade interiorana. Santo Amaro, como sinônimo de interior, te acompanha mundo afora?
Eu só consigo ver as coisas e o mundo pela ótica de Santo Amaro, mesmo se eu estiver em Paris. Tua e Encanteria têm um pé na urbanidade e outro pé na roça - eu sou assim.
‘Tua’ fala de amor e ‘Encanteria’, de fé. Amor e fé são as suas “armas” na vida e na arte?
Amor, festa e devoção são os lemas de minha mãe e, como subtexto, fé, esperança e caridade. Isso explica a energia e o seu espírito para com a vida, os seus 102 anos... Tudo isso são aprendizados para mim. O novo show é uma homenagem a ela. Só agora consigo traduzir em música, intenção e gesto tudo que ela representa para mim.
A formação de sua banda no novo show, com cinco músicos, soa até minimalista para a exuberância dos seus espetáculos. Por que um show mais enxuto?
Não tenho muito dinheiro (risos), ninguém quer pagar pela cultura atualmente, seja no Brasil ou no mundo. Quando existe uma dificuldade, aprimeira verba que se corta é a da cultura, mas no Brasil também faltam saúde, educação, saneamento. Numa cidade deslumbrante como é Salvador, só 20% das moradias têm saneamento básico.
Você participou do mais recente CD/DVD de Ivete Sangalo, que tem uma carreira muito diferente da sua. Foi boa a experiência?
O filho dela nasceu! Marcelo, um meninão. Fiquei muito alegre. Foi ótimo participar do disco de Ivete. Não gosto da música axé, mas tenho admiração por Ivete desde os tempos em que ela estava na banda Eva. Ela canta bem e tem verdade e naturalidade naquilo que faz. Agora, toda vez que falo de Ivete, dizem que fica parecendo que não gosto de Daniela (risos). Eu gosto muitode Daniela também, adoro quando ela, no Carnaval, inventar de colocar um piano em cima do trio elétrico. Tenho deferência por Ivete e por Daniela, assim como tenho por Margareth Menezes, que é uma força.
E o futebol, tem acompanhado a agonia do seu Bahia?
Eu era apaixonada por futebol por causa do meu pai (que torcia pelo Botafogo, em Santo Amaro, e pelo Fluminense, no Rio),e por causa do tio Lay, pai de Jota. Depois, o futebol mudou. Gostei muito até Ronaldinho Gaúcho, que adoro, ele joga com prazer. É um dos homens mais gostosos do mundo para mim (risos). Os maiores são Pelé, Maradona e Ronaldinho. Sou Bahia, Fluminense, no Rio, e Corinthians, em São Paulo. Bahia e o Fluminense estão em situação difícil, mas continuo amando os dois.

*** Entrevista publicada na edição do dia 04/10/09 do CORREIO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário