terça-feira, 20 de outubro de 2009

MOTORISTAS ABUSAM DAS ‘ROUBADINHAS’ E PROVOCAM ACIDENTES...

FONTE: *** Bruno Vila e Jorge Gauthier (CORREIO DA BAHIA).

“Ninguém está olhando, vou poupar tempo e gasolina. É só uma roubadinha!”. Quem conduz veículos pelas ruas de Salvador certamente já pensou isso ao se deparar com uma rua vazia e um retorno distante. Contudo, aproveitar a liberdade e efetuar conversões em locais proibidos pode custar caro ao motorista. O risco de acidentes é alto como aconteceu na última sexta- feira (16) com o juiz Benedito Conceição dos Santos. Ao dar uma roubadinha em frente ao prédio do Tribunal de Justiça da Bahia (Centro Administrativo) acabou colidindo com uma moto. O acidente culminou na morte do motociclista Anderson Jorge dos Santos, 31 anos.
O Código Nacional de Trânsito considera a manobra grave, o que pode pesar no bolso com uma multa de R$ 127,69 e mais cinco pontos na carteira. Em Salvador, há cerca de dois mil locais de conversões - um prato cheio para motoristas imprudentes já que não há fiscalização em todos os pontos.
Na Avenida Dorival Caymmi, em Itapuã, por exemplo, a falta de fiscalização deixa os motoristas que vão em direção à orla à vontade para antecipar irregularmente o retorno no sentido Paralela em frente ao 7º Centro de Saúde. “Aqui tem acidente e briga direto. Ou eles batem porque freiaram de vez para fazer a roubadinha ou quando atravessam a pista e o motorista que vem do outro lado não consegue parar. Se o exemplo não vem de onde deveria, o que esperar do motorista particular?”, questionou o ambulante Luís Bispo ao comentar uma manobra irregular feita por uma viatura da Polícia Militar minutos antes.
IMPUNIDADE.
A imprudência do motorista e a falta de ordenamento do trânsito são apontadas pelo professor Elmo Felzemburg, especialista em trânsito da Universidade Federal da Bahia (Ufba), como facilitador das roubadinhas. “A cidade tem muitos retornos e as entradas/ saídas das edificações são muito próximas a eles. “O motorista tem a tendência de se achar impune. Tem a cultura de achar que nada vai acontecer quando se dá uma roubadinha”, opina o especialista. 'Isso é um prato cheio para que o motorista pense em poupar tempo, mesmo sem avaliar os riscos das manobras”, disse.
ENTRECRUZAR.
No caso do juiz, o professor esclarece que a manobra foi irregular. “Em normas de trânsito existe um conceito chamado entrecruzamento, que estabelece a possibilidade do carro atravessar de um lado a outro. São considerados o traçado da pista e o volume de tráfego.
No cruzamento onde aconteceu a batida com o juiz, por exemplo, hoje, não há nenhuma possibilidade do veículo atravessar a pista de forma segura. 'Isso era possível há dez anos, quando ainda não tinha grande fluxo no CAB”, esclareceu.
A técnica da Secretaria de Administração da Bahia, Camila Azevedo, comemorou o fechamento do retorno, que foi feito após o acidente. “Foi ótimo ter fechado. Aqui sempre acontece acidente e engarrafa muito porque os motoristas querem atravessar de qualquer jeito”, explicou a funcionária pública que “perde” dois minutos diariamente para fazer o retorno sem dar a “roubadinha” para almoçar no prédio do tribunal.
FISCALIZAÇÃO.
A Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) não possui dados da quantidade de acidentes envolvendo conversões irregulares. Nenhum representante do órgão foi localizado até o fechamento desta edição para comentar sobre o assunto no que se refere à fiscalização em pontos de conversão.
O professor Élio Santana Fontes, especialista do Departamento de Transportes da Ufba, acredita que o monitoramento é falho. Apesar disso, considera economicamente inviável instalar fiscalização em cada ponto de conversão. “O ideal seria ter um agente em cada local ou um sensor, mas é impossível. O correto é montar estratégias e intensificar a educação dos motoristas. Sabemos que quando tem um agente visível ninguém comete infração”
OS DEZ PONTOS DE SALVADOR ONDE A ESPERTEZA É DE LEI.
1. VIADUTO DONA CANÔ, PATAMARES.
No Viaduto Dona Canô, saindo de São Marcos para Patamares, as roubadinhas ocorrem, em média, a cada 30 segundos. Entre as 16h20 e as 16h25, a reportagem do CORREIO viu pelo menos dez motoristas e motoqueiros descerem a Avenida Paralela sem fazer o retorno na Avenida Pinto de Aguiar, como deveriam. Apesar das infrações, não há fiscalização da Transalvador no local. O órgão apenas colocou três blocos de concreto para tentar intimidar os infratores.

2. RUA DA ALFAZEMA, CAMINHO DAS ÁRVORES.
Atrás do Hiperbompreço do Iguatemi, os motoristas que vêm pela Rua da Alfazema e desejam seguir pela Rua do Timbó “roubam” na rotatória que liga as duas ruas. Eles deveriam seguir em direção à Avenida Paulo VI para fazer o retorno.

3. LADEIRA DO CAMPO SANTO, FEDERAÇÃO.
A roubadinha acontece no sentido Hospital Santo Amaro. Os motoristas cortam caminho pela Rua do Trilho.
4. RUA CAETANO MOURA, FEDERAÇÃO.
O retorno da rua em direção à Avenida Garibaldi deveria ser feito depois da ladeira do Eng. Velho da Federação.

5. AVENIDA PAULO VI, PITUBA.
Na altura da panificadora A Francesa, motoristas dão a roubadinha para fazer o retorno em direção ao Shopping Iguatemi. Agentes de fiscalização da Transalvador dão plantão no local para evitar as infrações. “Todas as tardes, estamos aqui, mas os motoristas não respeitam. Costumo dar umas 40 multas por dia”, declarou o agente Silvio Roberto.
6. AVENIDA DORIVAL CAYMMI, ITAPUÃ.
No semáforo que fica na altura do 7º Centro de Saúde Professor José Mariani, os motoristas que vão em direção à orla fazema roubadinha para retornar à Avenida Paralela. Populares afirmam que carros oficiais também cometema infração. O retorno deveria seguir pela Rua Santo Amaro e do Areal. Entre as 15h55 e as 16h, seis motoristas cometeram a infração.
7. RUA WALDEMAR FALCÃO, BROTAS.
Na altura da Fundação Fiocruz, sentido Avenida Vasco da Gama e Horto Florestal, há uma rotatória onde os motoristas dão a roubadinha para descer para a região da Lucaia ou para a Ceasa, na Avenida Juracy Magalhães. O retorno deveria ser feito a cerca de 200 metros onde ocorrem as infrações.
8. RUA PROFESSOR MANOEL RIBEIRO, STIEP.
Na saída da Faculdade Integrada da Bahia (FIB), as roubadinhas para seguir em direção à Avenida Paralela já causaram acidentes graves. “Um mês atrás, um motorista que ia na contramão atropelou um motoqueiro”, contou a ambulante Eliete Barreto. Ela quase foi atropelada ontem, às 13h, por um motorista que dirigia na contramão.

9. RUA CAETANO MOURA, FEDERAÇÃO.
Em vez de subir a ladeira para fazer o retorno, as manobras são feitas no início da ladeira para chegar na Av. Garibaldi.
10. AVENIDA PAULO VI, PITUBA.
Motoristas vão da Pituba e Itaigara, pela contramão da Avenida Paulo VI, ao Hipertposto, na Avenida ACM, para abastecer. As infrações são comuns nos finais de semana.
RETORNOS DA BR 324 TAMBÉM FACILITAM S ROUBADINHAS.
O problema das roubadinhas não está apenas nas vias da capital baiana segundo o professor Elmo Felzemburg. “Assim como a maioria dos retornos da capital, os da BR-324 (sentido Salvador- Feira) tem a engenharia das vias feita de forma errada. Eles dão a falsa impressão ao motorista de que é possível atravessar”, afirmou.
RETORNO É FECHADO, MAS NINGUÉM ASSUME A AUTORIA.
O retorno onde aconteceu o acidente envolvendo o juiz Benedito Conceição dos Santos foi interditado no final de semana, mas nenhum órgão ainda assumiu a autoria do fechamento. Em nota, Luís Alberto Barradas Carneiro, diretor geral da Superintendência de Construções Administrativas da Bahia (Sucab), afirmou que a Coordenação de Apoio ao CAB teria realizado diversas reuniões com a Transalvador para tratar do trânsito na região.
Ele disse que a responsabilidade sobre o trânsito é da Transalvador, não podendo a Sucab fazer qualquer tipo de intervenção na área sem o consentimento do órgão municipal. A Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) foi procurada pela reportagem, mas nenhum representante do órgão se pronunciou até o fechamento da edição.
*** Notícia publicada na edição impressa do dia 20/10/2009 do CORREIO.

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