sexta-feira, 16 de outubro de 2009

NÃO ENTRE NESSA COMPANHEIRO...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

O governador Jaques Wagner não deseja se meter na celeuma acerca da proposta de criação de um salário vitalício para os governadores, incluindo, sobretudo ele, que tenha completos dois anos de mandato. A generosidade partiu da Assembleia Legislativa, onde Wagner tem maioria. Em tese, diria que o marido de dona Fátima não deseja botar a mão no fogo por ele saber que vai se queimar. Ou, em outras palavras, ele talvez ainda não tivesse tempo para atinar sobre o alcance negativo da repercussão da medida. Para a oposição o tema tem gosto de caviar (para quem gosta de caviar) e deve predominar as mesas dos restaurantes mais requintados de Salvador.
O cerne da questão não está na aposentadoria vitalícia para o governador, mas no seu aspecto imoral e inconveniente sob todos os pontos de vista. Explico: não se ganha (ou nem sempre se ganha) uma eleição do porte governamental admitindo o recebimento de benesses pessoais. Não cabe (ou não deveria caber) no perfil de Wagner um troco desses. Aliás, poderia ele se quisesse dar o exemplo rejeitando antecipadamente não apenas o aumento do próprio salário (governadores têm casa, comida, roupa lavada, carro, motorista, avião e uma segurança infernal, tudo pago pelo contribuinte), como da pensão até o dia da sua morte.
Obviamente que Wagner não vai resolver os problemas da Bahia dando um pontapé no próprio pescoço. Assim como eu, ele também com certeza aprendeu desde cedo que o exemplo vem de cima. Portanto, o sensato seria ele chamar sua bancada, encher os pulmões e berrar para que todos ouçam: "Não levem essa ideia maluca, antipopular e antidemocrática avante"! Se o governador não sabe, posso perfeitamente alertá-lo que tem gente por aqui com a insegurança reinante no Estado, além da falta de delegados em uma centena de cidades e pelo menos um déficit de dois mil professores na rede de ensino público. Imagine, então, a dor do zé povinho e da classe média em geral que vão bancar todas as mordomias (como sempre) só em saber que um único homem privilegiadíssimo terá, após deixar um cargo eletivo, uma aposentadoria de fazer inveja a Satanás e, além disso, o direito de escalar uma secretária particular e dois seguranças.
A conta será bancada por nós. Como se nada disso contasse, vamos supor que os nossos deputados estaduais caiam na asneiras de aprovar esse escárnio. Haveria, em consequência, o chamado efeito dominó. Se o governador pode, os prefeitos também podem. Só na Bahia são 417. No Brasil são mais de cinco mil. Enfim, teríamos um show de pura falta de vergonha. Wagner insiste que não se mete. Se não o fizer estará sendo conivente com uma – perdão se pareço agreste – verdadeira indecência.
Seria um desrespeito aos desgraçados segurados do INSS que penam a vida toda para, no final, restar-lhes apenas - quando muito – o dinheiro para o próprio funeral, já que têm consciência que a morte chega mais cedo quando o doente se vê obrigado a recorrer à rede de saúde pública. Ou será se Wagner teme perder a reeleição e quer assegurar, desde já, o privilégio? Cabe a ele decidir. Ouvindo não os parlamentares, mas a voz do povo nas ruas.

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