quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O MUNDO (A BAHIA) ESTÁ PERDIDO...

FONTE: Jolivaldo Freitas (TRIBUNA DA BAHIA).

O mundo, como dizia minha avó, a Bahia está sem bússola. Veja bem que um ladrão decidiu roubar o pouco que tem o hospital de Irmã Dulce. O cara tem de ser o mais miserável dos miseráveis para tentar tirar alguma coisa de onde nada se tem e ainda tem de dar. Mas, são tantos casos desses no gênero humano que eu sequer levo a sério. Muitos são mesmos hilários e todo dia alguém me conta uma história "terrível" ou as informações chegam via e-mail. Eu até tento deletar, mas a curiosidade é maior.
Outro dia mesmo me disseram que a polícia foi chamada para acabar com uma briga que já durava horas, na madrugada da Avenida Sete de Setembro, entre dois sem teto que disputavam uma caixa de papelão. Ela servia como cobertor de um deles e o outro foi passando como quem não queria nada, puxou e correu. Outros acordaram, pegaram o ladrão e começou a briga. No final nada restou da caixa.
Semana retrasada eu passava pela Câmara dos Vereadores quando presenciei uma manifestação de surdos-mudos. Eles queriam ser recebidos pelos edis e um não pode entrar por estar de bermuda. Ele tentou trocar as vestes por uma calça com um vendedor de milho. O cara não entendia nada da conversa de gestos e gritos. O surdo perdeu a paciência, jogou o cara no chão com a ajuda de mais dois que lhes arrancaram as calças. O vendedor ficou de cueca, mas comemorou dizendo que tinha ganhado uma bermudas nova no lugar de uma calça velha.
Ontem, recebi e-mail em que uma senhora denuncia outra por causa de uma galinha, e claro, mandei que procurasse os programas populares de televisão. Dona Ivete acusa dona Mara de ter dado sumiço em sua galinha poedeira. A prova que ela quer levar para a delegacia é que toda vez que ela comentava que a galinha tinha posto dois ovos num só dia a vizinha suspirava e dizia: "Ah se eu tivesse uma galinha dessas!". A penuda sumiu, ninguém sabe, ninguém viu, mas dona Ivete tem certeza de que dona Mara é a ladrona de galinha. Vai confirmar numa cartomante.
E Zé, barraqueiro de praia, me conta que certa vez teve uma briga sem tamanho, no Porto da Barra, por causa da desconfiança de um banhista. A história é longa, mas merece ser contada. Quando o cara chegou com a mulher, num domingo, sentou junto de um grupo de rapazes e ouviu muito bem quando eles faziam a vaquinha para comprar picolé Capelinha.
O casal foi na água e voltou. O cara tinha 50 reais no bolso da bermuda e não viu que o mar levou. De repente ele prestou atenção ao grupo que dividia horas antes o picolé, na maior farra, tomando cerveja e comendo acarajé. Não ligou até a hora de ir embora e procurar a grana para pagar o consumo na barraca e o aluguel das cadeiras. Viu que perdera a cédula. No susto já foi acusando os meninos de terem surrupiado o dinheiro, "verdade" aceita por outros banhistas, e foi areia e cadeiras voando para tudo que foi lado. Chamaram a polícia que disse nada poder fazer sem provas e cada um foi para seu lado. Os meninos ainda compraram mais Capelinha para seu desespero.
Mas, o pior exemplo de coisas que só acontecem com quem é pobre é a reação de um motorista na Avenida Dorival Caymmi na tarde de sábado, cena que me foi relatada com horror por uma amiga, mas que não resisti e soltei um risinho disfarçado. O garoto pegou ônibus no estilo "morcego", dependurado no pára-choque. O veículo passou por quebra-mola e ele voou longe, caindo na frente de um automóvel. O motorista teve tempo de frear, desceu calmamente, perguntou o motivo dele ter viajado de forma tão perigosa e o menino disse que estava duro, sem grana. O motorista ainda com calma, perguntou se ele estava bem, se tinha partido algum osso e quando o garoto garantiu que estava bem, o motorista o encheu de cascudo que era para ele nunca mais repetir a dose. Entrou no carro e foi embora deixando o povo que tudo olhava sem ação. O menino nem teve tempo de chorar. Ê Bahia!

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