quinta-feira, 8 de outubro de 2009

PERIGOSOS MAUS COSTUMES...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).

Nove bilhões de pessoas habitarão a Terra daqui a 40 anos, ressalvados, claro, grandes desastres naturais, grandes guerras – basicamente, nucleares – ou pandemias de alto índice de mortalidade, capazes de alterar de modo muito significativo os cálculos dos demógrafos.
A Folhaonline divulgou ontem matéria assinada por Boris Cambreleng, da France Press, sobre a disponibilidade de alimentos para essa população de nove bilhões de seres humanos que o planeta poderá ter ao fim das próximas quatro décadas.
Pessoalmente, não creio que a população chegue a tanto no prazo referido. É que já temos uma progressiva aparentemente regular intensificação dos desastres naturais, com o agravamento do efeito estufa, que eleva a temperatura média do planeta.
Se não for o único fator da rápida intensificação de grandes perturbações ambientais (das quais os últimos dias foram bem férteis), é um deles, talvez o principal. Mas não é impossível que haja algum outro fator, como uma atividade diferente da habitual no Sol, uma atividade, digamos, mais intensa no astro que centraliza o nosso sistema, como especulam alguns poucos cientistas. Poucos, mas não necessariamente errados.
Além do efeito estufa e de suas causas específicas, o grande aumento do número de seres humanos no planeta vem provocando uma progressiva e a curto prazo inexorável degradação do solo e de sua capacidade, em muitos lugares, para produzir alimentos.
O estudo em que se baseou a reportagem de Boris Cambreleng diz que poderá ser adequadamente alimentada a população que haverá (ressalvados aqueles acontecimentos naturais ou provocados ou de ambos os tipos) daqui a 40 anos se houver uma mudança dos "hábitos agrícolas e alimentares". Acrescento: também da infraestrutura (armazenagem transporte, conservação etc.) necessária a evitar a perda de alimentos produzidos.
Serviu de base à reportagem uma pesquisa de dois institutos franceses, que concluíram que 30 por cento da produção atual de alimentos é unutilizada. Foram criados dois cenários. Um deles corresponde à continuidade da utilização da biomassa de um modo inteiramente liberal. Neste cenário, continuariam crescendo os rendimentos agrícolas, mas continuariam também aumentando terras dedicadas à criação de animais, com o aumento do consumo de carne. As desigualdades de acesso à alimentação aumentariam.
O segundo cenário implica em "uma ruptura", com a humanidade adotando condições de desenvolvimento sustentável do planeta. Assim, em 2050, a quantidade média de calorias disponível seria de 3 mil quilocalorias (kcal) por habitante por dia, das quais somente 500 kcal de origem animal. Este cenário alimentar presume uma redução de 25 por cento do consumo individual nos países industrializados (hoje com uma média de consumo excessivo de calorias) e um aumento equivalente na África subsaariana, segundo os autores da pesquisa.
Eles sugerem que existe a possibilidade de grandes ganhos na luta contra o desperdício. Atualmente, 4.800 kcal são produzidas por dia por habitante na Terra, mas 600 kcal são perdidas no campo e 800 nas cadeias de transformação e distribuição. Fazendo a conta: de cada 4.800 kcal produzidas, 1.400 são simplesmente perdidas.
Mas o que mais me impressiona é a quantidade de alimentos vegetais destinada à ração para animais de abate (produção de carne) – de acordo com Ongs que estudam o assunto, a metade da produção de alimentos vegetais no mundo é transformada em ração para animais de abate. Nos países industrializados, a produção de carne mantém sob exclusividade parte importante das terras cultiváveis. São necessárias sete calorias vegetais para produzir uma única caloria de carne bovina ou ovina. Quanto a porcos e aves, a relação é de quatro para uma.
Se metade dos alimentos vegetais no mundo vai para a ração de animais de abate, a qual percentual se chegará se àquela metade somarmos o que vai para ração de gatos, cachorros e outros bichos "de estimação" e a enorme quantidade de vegetais gasta para alimentação de animais para abate sem que esses vegetais sejam transformados antes em ração?

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