segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RECÉM- FORMADOS PENAM PARA ACHAR EMPREGO...

FONTE: Karina Baracho (TRIBUNA DA BAHIA).

Foi-se o tempo em que ter o terceiro grau concluído era sinônimo de emprego garantido e estabilidade financeira. Mercado inchado, crescimento indiscriminado de faculdades, falta de espaço e muitas vezes critério no mercado de trabalho são os principais fatores que não garantem o retorno esperado após a conclusão de um curso superior, que dura em média quatro a cinco anos. A cada dia mais e mais formandos se desesperam e mesmo antes de terminarem a faculdade entram numa especialização. Se a situação de desemprego continuar, eles passam para outras profissões, para a autonomia ou mesmo ingressam em outro curso superior.
Formados em fisioterapia, os gêmeos Tales e Tadeu Ramos, 29 anos, atualmente voltaram aos bancos da faculdade e estão no primeiro ano do curso de medicina. "Em fisioterapia a situação é complicada. Para ter um salário razoável – de R$ 1.500 a R$ 2.000 – como fisioterapeutas precisávamos de três empregos, eu atuava os três turnos", disse Tadeu Ramos. De acordo com ele, trabalhar seis horas diárias rende ao profissional apenas R$ 600. "Nem paga o combustível", acrescentou.
Desde que ingressaram na universidade pela segunda vez os irmãos dizem estarem satisfeitos. "São outros caminhos que vão se abrindo. Estou no segundo semestre mas já tenho meu tempo totalmente preenchido. Quando não estou na aula estou no hospital-escola", disse Tales. Ele destacou que as portas para medicina são bem melhores. "Estou bastante confiante!", concluiu Tales.
Formada em administração de empresas, Fabiana Silvério, 27 anos, comercializa confecções informalmente. "Não tenho loja, mas vendo de casa-em-casa e já tenho minha clientela". O ofício começou ainda nos tempos de faculdade e aos poucos a pequena empresária conseguiu conquistar espaço. "O custo da faculdade era alto e eu precisava me sustentar. Diariamente fazia diversas cópias de apostilas e tinha ainda o transporte e alimentação, sem contar a mensalidade, que era um absurdo", ressaltou Fabiana. "Quando me formei pensei que aquele diploma era a minha grande conquista e que eu iria arranjar um emprego logo e ter estabilidade financeira".
O tempo passou e Fabiana não conseguiu trabalhar no ramo. "Tive que voltar a vender minhas confecções que hoje são o meu sustento. Com o lucro pago as contas inclusive as dívidas remanescentes da universidade". Segundo a autônoma, a situação piora a cada dia. "Infelizmente ter nível superior não significa trabalho garantido. Você tem que ter um diferencial". Mesmo com o negócio informal ela disse que não se arrepende dos anos de estudo. "Foram quatro anos de luta. O estudo é o nosso grande tesouro. Mesmo não atuando na área".
Outra grande preocupação entre os jovens é a estabilidade nos empregos. Crise e mão-de-obra mais barata são alguns motivos que fazem com que as empresas demitam funcionários. Estar empregado hoje não significa ter salário amanhã. Cansada de viver esta incerteza, a engenheira de alimentos Poliana Costa, 30 anos, resolveu voltar aos cursinhos. Munida de apostilas, cadernos, canetas e lápis, ela estuda, pelo menos oito horas por dia para passar num concurso público. "Quero uma estabilidade", ressaltou a engenheira.
Para se dedicar de corpo e alma à nova meta, Poliana, que trabalhava numa multinacional pediu demissão. "Já estava insatisfeita, pois ganhava abaixo do meu piso salarial e não exercia a minha função de formatura, atuava como analista de laboratório de físico-química". O objetivo agora é ingressar no funcionalismo público. "Se continuasse no trabalho anterior não iria conseguir me dedicar o suficiente. Não teria muito tempo disponível para estudar".
Formada por uma universidade estadual na Bahia, a engenheira não concorda com a situação e sempre achou um verdadeiro desrespeito com os profissionais. "Conclui o curso no primeiro semestre de 2005 e sempre trabalhei em grandes empresas que não atuam apenas no Brasil, mas não há reconhecimento profissional. Recebia menos que o valor estipulado no piso da categoria. Além da incerteza", concluiu.
De acordo com o diretor da Casa dos Concursos e professor de direito administrativo, André Dorea, um cargo público é direito de todo o cidadão brasileiro. "Mas para isso precisa dedicação. Nem todo o mundo está disposto a abdicar de pelo menos seis horas por dia durante oito meses no mínimo para conseguir passar num concurso público". Segundo o professor, no Brasil existe anualmente uma média de 200 mil vagas para o funcionalismo público em todas as esferas.

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