terça-feira, 13 de outubro de 2009

SE FICAR SEM MANDATO, EU VOU BUSCAR MANEIRAS DE SERVIR A BAHIA...

FONTE: Janio Lopo, Editor de Política (TRIBUNA DA BAHIA).

Visivelmente mais magro, numa combinação de dieta alimentar e atividade física, o ministro da Integração Nacional e pré-candidato ao governo do Estado, Geddel Vieira Lima (PMDB) dá mostras de que está preparado para enfrentar uma maratona, que inclui o desafio de tornar seu nome conhecido pelo eleitorado baiano, já que deve enfrentar nas urnas dois pesos-pesados em termos midiáticos e capital político: o ex-governador Paulo Souto (DEM) e o atual chefe do Executivo, Jaques Wagner (PT). Nesta entrevista concedida aos jornalistas Janio Lopo e Cíntia Kelly, Geddel faz críticas ao governador Jaques Wagner, a quem chama de manemolente. “A manemolência do governo e do governador Jaques Wagner é algo que assusta quem em 2006, como eu, acreditou que a Bahia ia avançar”. Quando questionado sobre a semelhança entre seu discurso e o de Paulo Souto, nas críticas ao governo Wagner, Geddel não perdoa o democrata. “Não vejo no ex-governador Paulo Souto uma pessoa cuja crítica seja ouvida pela sociedade, porque haverá sempre alguém para perguntar: o senhor teve oito anos e por que não fez?”

PERGUNTA –
Se falou muito nos últimos dias sobre uma conversa que o presidente Lula teria tido com o senhor por conta do rompimento com o governo Wagner. Houve isso mesmo ou é coisa da imprensa?
Geddel Vieira Lima – Nem é coisa de imprensa. Faz parte de uma tática especulativa que foi feita pelo PT a propósito da postulação da nossa candidatura. Acho absolutamente natural. Senão vejamos: primeiro foi dito que nós ficaríamos isolados partidariamente. Depois que o presidente Lula me chamaria para uma conversa para que eu retomasse a composição de novo com o PT. Em seguida veio a informação que nós seríamos afastados do Ministério (Integração Nacional). Depois foi que o prefeito de Salvador, João Henrique, sairia do PMDB. Por ultimo foi dito que o vice-governador Edmundo Pereira deixaria o PMDB. Nada disso acontece. Continuamos consolidados e somos uma alternativa política e administrativa. A mane-molência do governo e do governador Jaques Wagner é algo que assusta quem em 2006, como eu, acreditou que a Bahia ia avançar.
PERGUNTA – O senhor se sente à vontade sendo adversário do PT na Bahia e compondo com o primeiro escalão de Lula? Isso não o constrange?
GVL – Não há constrangimento. Sinto-me muito à vontade. Nós somos dois partidos. Não fizemos uma fusão para nos transformar em um partido. O fato de apoiarmos uma aliança nacional, participando, sendo ouvido e contribuindo para o sucesso do governo, não nos obriga nem na Bahia e nem em outro estado da Federação a repetirmos essa aliança, sobretudo quando não somos ouvidos e sabemos que podemos contribuir com o sucesso do governo. Não há vínculo, uma relação de causa efeito. Isso se repete no Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pará. Essa não é uma realidade apenas do PMDB. Outros (partidos) são aliados em Brasília e adversário nos estados. Nós estamos em uma federação com características muito claras. Não vivemos em um país com um governo central onde as características estaduais não devam ser respeitadas.

PERGUNTA - Como o senhor vê uma ala do PMDB, como Orestes Quércia, apoiando a candidatura de José Serra, do PSDB, à Presidência da República, e outra com o senhor e Michel Temer defendendo a candidatura apoiada por Lula? Essa é uma situação estranha...
GVL – Fala-se sempre do PMDB, mas o Partido dos Trabalhadores tem sete, oito ou dez alas. O PMDB tem divergências internas, então não vamos buscar a unanimidade, mas a maioria. Portanto, o rumo que o partido vai adotar vai ser aquele da maioria. Cabe a cada um dessas alas usarem seus argumentos, fazer seus proselitismos e construir a maioria que vai ser exposta quando da convenção nacional do partido. Enquanto isso não ocorre, é absolutamente natural e salutar que haja o combate interno. É o que está acontecendo no PMDB. Eu defendo que se preserve a aliança nacional com o presidente da República. Outros defendem posições contrárias. Vai chegar o momento que haverá de permanecer não a unanimidade, que nenhum partido tem, mas a vontade da maioria, de forma que eu vejo isso com muita naturalidade.
PERGUNTA - Nas pesquisas que estão sendo veiculadas, o senhor patina entre 11% e 13%. Como pretende mudar esse cenário? O PMDB está com uma propaganda na TV massificando seu nome, tornando suas ações à frente do Ministério da Integração conhecidas. Essa é uma das táticas?
GVL – Primeiro me deixe dizer uma coisa que eu tenho repetido como mantra. Eu não faço política nem tomo decisões sustentadas por pesquisa de momento. Eu faço política defendendo convicções, com projetos, correndo riscos. Se eu fizesse política sustentada em pesquisa e não em tese, eu não teria conduzido o PMDB a apoiar Jaques Wagner quando ele tinha 4%, e muitos tinham a candidatura dele como uma piada. Eu ali me apeguei a uma tese, a de que a Bahia precisava mudar politicamente. Se eu fizesse política sustentada em pesquisa, não teria apoiado a candidatura de João Henrique quando ele tinha 60% de rejeição. Ali eu defendia uma tese, uma ideia. A nossa posição nas pesquisas ao invés de nos desestabilizar, ela nos estimula. Está-se fazendo um ano antes uma comparação entre alguém que está se colocando a 30, 40 dias como alternativa (ao governo) com alguém que já foi governador duas vezes, foi senador da República, acaba de disputar um governo do Estado, portanto alguém muito conhecido. Um outro que disputou uma eleição majoritária para prefeito e perdeu, para governador e perdeu, e é o atual governador, que navega numa postura tão combatida, mas que eles conseguiram suplantar com as maiores orgias publicitárias que eu já vi na Bahia nos últimos anos. Se tem alguém patinando, pode ter certeza que não é o candidato do PMDB.
PERGUNTA - Qual a possibilidade de o senhor integrar a chapa encabeçada por Paulo Souto?GVL – Zero.
PERGUNTA – O senhor quer dizer que hoje a possibilidade é zero?
GVL – Hoje, amanhã, é zero. Eu estou discutindo apoio, consolidando em torno de um projeto que nós vamos apresentar para o Estado e que tenho discutido exaustivamente com técnicos e políticos mostrando que não quero ficar preso a discussões adjetivas da herança maldita, do passado que não deixou saudade e um presente que não serve de expectativa, que frustra as pessoas. Eu quero discutir o futuro, o novo modelo de administração para a Bahia. Eu quero falar de atitude. Quem quiser agregar a essa proposta será bem-vindo.
PERGUNTA - No meio político fala-se que vai ser difícil o senhor ficar sem mandato - são quase 20 anos como deputado federal - e quando perceber que a situação não é favorável, o senhor pode rever a sua candidatura ao governo do Estado e tentar, talvez, disputar o Senado.
GVL - O que todo mundo fala no meio político é problema de todo mundo. Nem política e nem mandato para mim é emprego. Se eu fosse buscar conforto eu teria uma eleição para deputado federal que seria um verdadeiro mamão com açúcar. Se eu estivesse buscando o conforto da sombra das varandas do Palácio de Ondina, eu poderia ter feito uma aliança para disputar o Senado. Mas que marca de político seria eu, se buscasse as vitórias previsíveis? Eu tenho o dever de ousar, tenho obrigação de propor. Se ficar sem mandato, eu vou buscar outra maneira de servir a Bahia. Política para mim não é emprego, mandato para mim não é emprego. Mandato é um instrumento para realizar uma vocação que eu descobri desde muito cedo na minha vida, a de tentar, por meio da vida pública, mudar a realidade para melhor. Portanto, se equivocam esses que imaginam que eu sou daqueles homens públicos que tenha receio de eventuais derrotas. Talvez esse seja o hábito de as pessoas julgarem como se julgam. Eu não tenho receio. Eu vou para a luta. E vamos vencer essas eleições.
PERGUNTA – Nas hostes do governo se comenta que essa eleição vai ficar polarizada entre Paulo Souto e Jaques Wagner. Nelson Pellegrino, atual secretário de Justiça, em recente entrevista disse que o senhor é um apoiador de segundo turno.
GVL - É absolutamente normal que eles pensem assim. Eles gostariam muito de fazer a escolha de Paulo Souto como adversário para ficar na mediocridade do debate sobre a herança maldita, sobre o que não foi feito no passado e comparar as frustrações que os projetos causaram para a Bahia. É claro que não querem no projeto alguém que fale de esperança, que diga: vocês já deram a chance aos dois. Estão satisfeitos com o que tiveram? Portanto, meu desafio é fazer a Bahia mudar. O que se quer não é, necessariamente, o que vai acontecer. Se Nelson Pellegrino fosse bom em previsão eleitoral já tinha conseguido uma vitória para a Prefeitura de Salvador.
PERGUNTA - O senhor falou de modelo. O senhor acha que o modelo do governador do Estado, embora esteja no terceiro ano, já está esgotado?
GVL – Não tenho dúvida. Acho que tiveram alguns avanços políticos daqueles que sonhamos. E evidentemente que o governador tem um espírito democrático, é alguém que tem características pessoais extremamente interessantes. Não tenho dúvidas de que a vitória que juntos construímos em 2006, do ponto de vista político, significou uma mudança de hábito, aliado a isso o desaparecimento da liderança personalista do senador Antonio Carlos Magalhães mudou. Mas do ponto de vista administrativo, eu não tenho dúvida nenhuma que o Estado perdeu sua capacidade de investimento, o Estado não criou uma política nítida de atração de investimento, o Estado não incorporou quadros competentes que faz com que nem a execução orçamentária seja implementada. Significa dizer, para vocês que me leem, que existe o dinheiro, o orçamento, mas não existe quadro competente para gastar o dinheiro em áreas sensíveis como a segurança pública; e quem diz isso não sou eu.

PERGUNTA - O seu discurso é muito parecido com o de Paulo Souto. O senhor acha que o eleitor vai conseguir dissociar a sua candidatura da de Souto?
GVL – Eu não vejo nenhuma semelhança no discurso com Paulo Souto. Não vejo nenhuma semelhança.

PERGUNTA – Mas quando o senhor critica a falta de atração de investimento, quando fala da origem das obras que estão sendo feitas na Bahia, por exemplo, se assemelha sim.
GVL – Não vejo isso. Não vejo no ex-governador Paulo Souto uma pessoa cuja crítica seja ouvida pela sociedade, porque haverá sempre alguém para perguntar: o senhor teve oito anos e por que não fez? As chances que eu tenho tido para contribuir para a Bahia, eu tenho contribuído. Eu não tive chance ainda, portanto tenho autoridade para fazer a crítica substantiva. Não quero enveredar pelo caminho da adjetivação pura e simples.

PERGUNTA – Mas o seu partido não seria co-partícipe, já que ficou quase três anos no governo?
GVL – Não. Apresentamos críticas permanentes internas e externas, mostrando claramente que não estávamos concordando com aquilo e tentando por dentro mudar.

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