quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

ALTO FALANTES...

FONTE: Roberta Cerqueira (TRIBUNA DA BAHIA).

Já passam das 20 horas e apesar do calor, a dona-de-casa Marizete da Conceição, 55 anos, é obrigada a fechar a janela da sala, para escutar a televisão. Na cozinha da modesta residência, no bairro de Periperi, a filha de 15 anos, tenta ler um livro, enquanto sua avó, de 98 anos, arrisca, sem muito sucesso, um cochilo, em outro cômoda da casa. O barulho, ensurdecedor, que as impede, vem do som de um carro, estacionado próximo a um bar, a menos de dois metros da casa.
“Já virou rotina, pedimos, várias vezes, para que baixassem o volume, explicamos que temos uma idosa em casa e etc., algumas vezes eles reduzem, minutos depois, voltam a altear e nós não podemos fazer mais nada, as pessoas não respeitam nem os mais velhos”, lamenta.
Apesar de uma lei municipal (n.º 5.354), em vigor desde de 1998, que prevê que o volume máximo permitido, em ambientes externos, deva ser de até 60 decibéis, das 22h às 7h e 70 decibéis, das 7h às 22h, o drama vivido pela família de Marizete é mais comum do que parece e além de perturbar o sossego de milhares de pessoas, na capital baiana, pode trazer danos irreparáveis à saúde. Estudos comprovam que o ouvido humano pode suportar até 85 decibéis, durante oito horas por dia. Para cada cinco decibéis a mais, é preciso reduzir duas horas de exposição ao ruído. Só para ter uma noção, uma avenida movimentada é capaz de atingir a pressão sonora limite para o homem.
De acordo com a Superintendência do Meio Ambiente (SMA) – autarquia responsável, desde de abril deste ano, pela fiscalização da poluição sonora, em Salvador – os automóveis estão em segundo lugar no ranking das reclamações, responsáveis por cerca de 35% das denúncias, seguidos pelos bares, que dividem o 65% restantes com as residências, igrejas e construções.
Os bairros mais barulhentos da capital são Cajazeiras, Liberdade e Ribeira e os que mais registram denúncias, no entanto, são Pituba, Itapuã, Boca do Rio e Brotas.
Só de abril até novembro, foram notificados 485 veículos, que foram flagrados utilizando som, em volume e horário inapropriados e acima do permitido, pela legislação municipal. A multa para tal infração varia entre R$ 100 e R$ 90 mil.
As cifras parecem não assustar quem curte o barulho. “Para instalar o equipamento tem gente que paga até R$ 20 mil, em alguns casos, o som vale mais que o próprio carro”, conta Kin Makamura, 52 anos, há 32 anos instalando som em automóveis. Proprietário de uma loja que leva seu nome, na Avenida Heitor Dias, na Sete Portas, Kin optou por não trabalhar com equipamentos mais potentes, os chamados sons pesados. “O lucro desse tipo de equipamento é maior, principalmente, por causa da necessidade de manutenção, mas, eu preferi abrir mão, pois sei o quanto eles incomodam as pessoas”, diz o consciente empresário. Na Av. Vasco da Gama, a Serv Sound disputa clientes com outras dezenas de lojas especializadas.
O equipamento mais a instalação não sai por menos de R$ 500, os mais simples – para o uso de som ambiente – e R$ 2 mil, o menos arrojado, dentre os mais potentes.
BARULHENTOS PODEM TER PROBLEMAS GRAVES.
Um alto-falante de 12 custa, em média, R$ 320, um kite de 6/9, R$ 280, outro de 6/6, R$ 150, um módulo com quatro canais, R$ 580, duas cornetas, R$ 280, duas twitas, R$ 280 e uma caixa selada R$ 150, total R$ 2.040. “Quem quer um som potente precisa comprar todas estas peças”, explica o gerente da loja, Edvaldo Silva, ressaltando que os sons pesados representam cerca de 20% das vendas. O próprio Edvaldo já investiu mais de R$ 2 mil no som do seu veículo particular.
“Gosto, mas, não incomodo ninguém”, garante, confessando já ter sido advertido, pela polícia, por estar, em via pública, com volume acima do permitido. Especialistas alertam sobre os riscos da exposição ao som alto. “É importante fica longe de caixas de som, pois o som alto é capaz de lesar o nervo auditivo e provocar uma surdez parcial ou até mesmo total, a depender da sensibilidade de cada ouvido”, destaca a otorrinolaringologista Clarice Saba, presidente da Sociedade Baiana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (Soesba). “Aquela sensação de ouvido entupido, já pode sinalizar um dano ao nervo auditivo”, salienta Saba.
O superintendente do Meio Ambiente, Luiz Antunes Nery, diz que as fiscalizações conjuntas, entre SMA, Transalvador (Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador), Sesp (Secretaria de Serviços Públicos e Prevenção da Violência) e Polícia têm surtido efeito, nos últimos meses. “Apesar de não ter sido divulgado, temos feito muitas operações, algumas com até 80 fiscais”, garante.

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