segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ATO POLÍTICO...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Ao manter a censura ao jornal O Estado de S. Paulo, o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão eminentemente política. Portanto, longe de exercer o papel de guardião da Constituição, o que seria seu dever, a maioria dos ministros do STF optou por lavar, ensaboar, enxaguar e estender a mão para o atraso, cerceando a liberdade de imprensa e, o pior, protegendo a divulgação de atos suspeitos perpetrados por gente suspeita, segundo se deduz de gravações atribuídas à Polícia Federal. Mais uma vez, fica a sensação de que os ricos e poderosos podem tudo neste Brasil cujo povo, como bem apregoou o presidente Lula, está na merda. Eu acrescentaria: na merda e totalmente descrente em todas as esferas do Judiciário.
A ação para impedir o Estadão de noticiar da Operação Boi Barrica (rebatizada de Faktor) foi movida por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O empresário entrou com o processo depois que o jornal divulgou trechos de gravações telefônicas, captadas pela Polícia Federal, em que ele conversava com o pai sobre a nomeação do namorado de uma de suas filhas para o Senado. Aí tem.
Suponho que os grampos foram autorizados pela própria Justiça. Mas aí vem o relator Cezar Peluso e diz que “o princípio da liberdade de expressão não pode estar acima dos princípios fundamentais como a honra, a imagem e a privacidade das pessoas”. Ou seja, ele desqualifica as escutas da PF. E se o faz para beneficiar o filhinho íntegro e honesto de Sarney cujo passado o condena (estão lembrados dos atos secretos recentes e do desastre de sua passagem pela Presidência da República, onde os céus eram oferecidos de bandeja aos amigos?) terá de agir da mesma forma em quaisquer outras situações análogas.
Ou seja, se a PF me grampear (sai de mim Satanás!) ou a você que está rindo aí com a minha possível desgraça, o STF terá de ser célere e reafirmar a censura não apenas a um, mas a toda a mídia nacional. Aliás, bandidos barra pesada e até políticos salafrários que foram expostos em função dos grampos ilegais ou legais precisam exigir do Supremo o mesmo tratamento dado à “coisinha tão bonitinha do pai”.
Falar nisso, se a PF por um acaso atuou arbitrariamente, grampeando o homem por conta própria, o STF deve, aí, sim, baixar um ato não punindo o jornal, mas, se possível, extinguindo ou demitindo sumariamente (se isso for legal) todos os delegados e agentes espertalhões. Para concluir. Sabe o que Sarney, o papai, falou sobre o filho cujas peripécias não podemos conhecê-las na sua inteireza graças à intervenção política do Supremo? “Decisão contra jornal não deve ser discutida”. Discordo. Deve ser discutida, cara pálida. Ou ficará sempre a sensação que o bebezinho de Sarney, esperto que nem ele andou, como digo eu e não Lula, fazendo coco nas calças. Dos outros, claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário