segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

CÊ TEM ONDE MORAR?...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Vou matar a charada: o Tribunal de Justiça da Bahia autorizou o Tribunal de Justiça da Bahia que autorize à sua alta cúpula, inclusive juízes, o pagamento de salários atrasados há sete anos – 1994 a 2001 – sob a rubrica de auxílio-moradia. Permita-me apontar três sugestões. 1) O TJB advogou em causa própria; 2) Os magistrados só se autoconcederam o privilégio porque se inspiraram em Caymmi quando este se queixava não ter onde morar e era por isso que ele (Caymmi) morava na areia; 3) Toda e qualquer mordomia é uma dádiva de Deus e, como tal, torna-se irrecusável. Ia esquecendo: estamos diante de um típico caso caracterizado pela máxima segundo a qual a Justiça tarda, mas não falha, principalmente se o mimo é para os integrantes mais ilustres do Poder.
Falar nisso, o Tribunal também estendeu a cortesia (segundo manda a lei, que sempre é legal com aqueles que as idealizam, as fiscalizam e as cumprem) aos Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios e ao Ministério Público. Êpa! Falei Ministério Público? E daí. Os senhores procuradores e promotores, assim como os juízes, conselheiros e desembargadores, também são filhos da lei. Cada um pode receber uma bolada de mais de R$ 100 mil. Os cofres do Estado podem ficar mais magros em algo em torno de R$40 milhões. Eu ia recorrer ao temível MP para uma ação contra o que considero um acinte ao trabalhador baiano, mas já não está mais aqui quem falou. Eles vão dizer que não são responsáveis se os auxílios eram (e são) concedidos aos deputados federais e senadores e ainda aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Por uma questão de efeito cascata, os demais tribunais de todo o país passaram a mamar na mesma teta – ou melhor –, nos milhões de tetas dos contribuintes.
Passei a dar o maior valor ao presidente Lula quando ele disse que o brasileiro vivia na merda e que ele tiraria nossos compatriotas da bosta (uso bosta para não repetir merda).
Pelo menos Lula não vai precisar se preocupar com ministros do STF, desembargadores, juízes, Ministério Público e todos aqueles que se porventura moram na merda é porque assim desejam. Pô, eles têm um auxílio que lhes proporcionam uma moradia para lá de digna. Eu, pessoalmente, não moro na merda. Conheço milhares de pessoas que não moram na merda. E, assim como eu, nenhuma delas percebe auxílio-moradia.
Sobrevivem com o salário de trabalhador. Sejamos, porém, justos: quem mandou a gente (me incluo) não estudar para ser doutor ou ter um padrinho forte que nos coloque numa corte dessas vistosas, com carro, motorista, plano de saúde, assessores, casa, comida e roupa lavada e ainda, em algumas situações, auxílio-paletó? Quero saber como eu, cidadão explorado e sacaneado até a alma pelo Estado brasileiro que estimula a desigualdade, a arbitrariedade e que por natureza é discricionário, devo fazer para acabar com determinadas sem-vergonhice e desfaçatez? A Justiça pode ser tudo, menos cega, sobretudo quando procura resguardar seus ganhos pessoais. Que merda!

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