sábado, 19 de dezembro de 2009

FECHE A BOCA...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

É irritante a passividade com que a sociedade brasileira engole calada a manutenção da censura imposta ao jornal O Estado de S. Paulo pela Justiça, recentemente confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. Voltamos à era das incertezas. Hoje é o Estadão. Amanhã, por exemplo, pode ser a Tribuna da Bahia. E depois de amanhã, quem sabe, toda a mídia nacional estará amordaçada, fulminada pelos raios da intransigência e dos trovões inibidores da democracia plena. Não venham, pelo amor de Deus, dizer como fez (em causa própria, aliás), o senador José Sarney, presidente do Congresso, que decisão do Supremo não se discute.
Claro que se discute. Tanto se discute que os ministros do STF que desejam a reimplantação dos tempos sombrios no país estão sendo alvos de críticas severas por parte de organismos e intelectuais mais destemidos, inclusive dentro da nossa maior corte jurídica. Não se entende porque vetar trechos de conversas do filho de Sarney, Fernando Sarney, em que a este é pedido emprego para um familiar qualquer, através do pai. A gravação é da Polícia Federal. A maioria dos ministros do STF, porém, entendeu que o investigado pode ter sua honra e sua privacidade denegridas caso o Estadão coloque à tona o lado mais picante de possíveis conversas entre o papai e seu neném. Ora, se foi apenas um pedido de emprego, onde está a sujeira? Imoralidade maior é atribuída a Sarney com a edição dos tais atos secretos e a proteção deslavada de diretores do Senado tidos e havidos como corruptos. Nessa toca tem tamanduá e dos grandes. Falar nisso, por que o mesmo pessoal que se esborrachou com a Polícia brasiliense (pessoal ligado ao PT, à CUT, MST, UNE e outras entidades patrocinadas pelo Palácio do Planalto) não resolveu fazer uma vigília na sede do Supremo (muito luxuosa, por sinal) em protesto contra essa aberração que é ressuscitar a censura? Será que tanta condescendência tem a ver com o fato de os Sarney serem amiguinhos do peito do presidente Lula? Não vislumbro outra explicação. Nada demais que se puna o jornalista ou o órgão de imprensa que, por motivos torpes e até venais (eles existem) tentaram macular a imagem de gente de bem. Mas jamais, sob nenhuma hipótese, pode-se admitir a proibição da divulgação de fatos.
Se os trechos do diálogo entre os Sarney em mãos do Estadão foram falseados, aí cabe um belo de um processo contra o jornal. Mas a conversa é autêntica e está sob o poder da PF. Sugiro que qualquer bandido grampeado pelos federais (ou alguma quadrilha) providencie imediatamente uma espécie de salvo conduto junto ao STF para frear qualquer tentativa de divulgação do conteúdo de seus diálogos nos jornais, rádios e tevês. Ou a “democracia” não é para todos?

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