sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MAIS UM ANO SE VAI...

FONTE: *** ÚLTIMA INSTÂNCIA.
REFÚGIO – Mais um ano termina. Como sempre, o povo diz que “este ano passou muito rápido”. É a repetição da observação comum todo final de ano. É a ilusão decorrente da rapidez com que os fatos acontecem, tornando o ritmo de vida mais acelerado.
De um modo geral, até se poderia considerar tranqüilo o transcurso do ano, no Brasil, não fosse o desastre com um avião da Air France, vitimando quase três centenas de pessoas, a maioria brasileiros.
Também ocorreram os dramas e tragédias decorrentes de excesso de chuvas, de forma inusitada, fenômenos atribuídos às mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. A falta de chuvas, notadamente no norte, também causou problemas e prejuízos.
No campo político-governamental, o ano se iniciou com um nefasto retrocesso: a eleição, mais uma vez, de José Sarney para a presidência do Senado e do Congresso Nacional. Coisas da baixaria e falta de compostura com que é conduzida a política no Brasil.
Ainda quanto a Zé Sarney, a nação tomou conhecimento de mais uma série de bandalheiras envolvendo o notável (no sentido mais pejorativo possível) “coronel maranhense”. Irregularidades, nepotismo, atos secretos e tudo o mais que se possa imaginar, ilustrou a folha corrida do “dito cujo”. Os conchavos e a politicalha garantiram-lhe a impunidade, com o arquivamento de vários processos que poderiam resultar na cassação do seu mandato. Manteve-se impune, ainda agraciado (ele e sua família) com a aberrante decisão judicial que estabeleceu a censura em um dos mais prestigiados jornais do país. Deve a sua sobrevivência política à forte pressão e empenho do presidente Lula. Interessante é que, quando era presidente, Sarney foi chamado de ladrão pelo então candidato Lula, em 1989.
A nação foi surpreendida com a esdrúxula decisão do Ministro da Justiça, concedendo o status de refugiado político ao homicida italiano Cesare Battisti. O caso evoluiu, o Supremo Tribunal considerou ilegal a decisão de Tarso Genro, mas titubeou ao “autorizar” e não simplesmente determinar a imediata extradição do bandido. Agora, tudo está nas mãos do presidente, com as limitações impostas de última hora pelo próprio STF.
O presidente Lula, logo no início do ano, voltou a criticar a mídia, principalmente os jornais. Apesar de dizer que não os lê e, quando o faz, sente azia, sempre sabe o que a imprensa informou. Isto o incomoda. O seu intento seria manter os veículos de informações sempre subservientes, dizendo somente o que é do seu interesse. É um fiel adepto daquele rei de França autor da máxima “O Estado sou eu”!
Aliás, não somente a mídia é alvo dos destemperos verbais do presidente. O Tribunal de Contas da União também. Entrou na lista dos execráveis, depois que apurou irregularidades e mandou interromper obras do tão sagrado PAC.
O senador Jarbas Vasconcelos “botou a boca no trombone” e, da tribuna do Senado, disse o que a nação inteira sabe, mas nenhum membro do partido jamais ousara dizer:o PMDB é uma mixórdia de espertalhões, que mercadejam o apoio em troca de cargos e outras coisas inconfessáveis.
Uma brasileira, vivendo na Suíça, denunciou que havia sido atacada, roubada e que, em decorrência, abortara os gêmeos dos quais estaria grávida. Foi o bastante para que o ministro do Exterior e o próprio presidente Lula fizessem declarações apressadas, criticando os procedimentos policiais nas investigações, chegando até a insinuar um incidente diplomático. Pouco depois veio a verdade: a jovem pernambucana havia simulado todo o incidente de que se disse vítima. Processada, recebeu condenação. Não se viu manifestações do governo desculpando-se das acusações infundadas que fizera às autoridades suíças.
Quase vieram à tona as profundas camadas do Pré Sal, tamanho o entusiasmo que o governo e seus adeptos, notadamente o presidente Lula, extravasaram quando foi anunciada a descoberta das jazidas de petróleo em águas territoriais brasileiras. O Brasil, na visão do governo, logo, logo, bem rápido, vai deixar a condição de subdesenvolvido ou emergente, para tornar-se superpotência. Deus os ouça!
Menor não foi o entusiasmo, quando foi anunciado que o Rio de Janeiro havia sido escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016. O governo vai gastar trilhões para custear o evento. Enquanto isso, a falta de recursos para a educação, o sistema de saúde e a segurança pública é assunto de somenos importância.
Na área política, não causou surpresa o gesto do senador Aloísio Mercadante. Da tribuna e em entrevistas, gritou, esbravejou e proclamou que estava renunciando, em caráter irretratável e irrevogável, à liderança do governo no Senado Federal. Bastou um recado do presidente Lula e um “puxão deorelhas” para o intrépido senador petista fazer um discurso com conotação fúnebre, dando o dito por não dito. Lá se foi pelo esgoto a palavra de honra do destemido senador paulista.
Ressurgiu das cinzas, quem de lá jamais deveria ter saído. O ex-presidente Collor, na bancada do Senado, engrossou a voz, fez caretas e trejeitos de homem corajoso, ameaçando quem falasse mal do ex-presidente Sarney. Aquele mesmo a quem cansou de chamar de ladrão, em sua campanha presidencial, em 1989. Não amedrontou ninguém. Parece que não tem aquilo roxo, como sempre apregoou.
A simpática, cordial e meiga candidata ungida Dilma desbravou as terras, brasis afora. Carregada a tiracolo pelo presidente Lula, esteve em lugares onde jamais imaginou que um dia poria os pés. Agindo abertamente como candidata, tenta herdar pelo menos uma parcela do prestígio que o povo, em sua imensa maioria superior a 80%, confere ao presidente Lula. Salvo hecatombes, tem a eleição garantida, em outubro do ano que se inicia em poucos dias.
O governo brasileiro colocou o Brasil como protagonista da mais vergonhosa palhaçada, em termos de política exterior e respeito às leis e tratados internacionais. Acolheu em sua embaixada em Honduras o ex-presidente Zelaya. Derrubado através de um contra-golpe, o ex-presidente teve ao seu dispor e do seu imenso séquito, as dependências diplomáticas brasileiras. Foi mantido em uma situação indefinida, como “abrigado” ou “refugiado”. Status inovador, situação estranha ao mundo jurídico, somente vislumbrada na cachola do ínclito ministro do Exterior brasileiro.
O último mês do ano foi agraciado com o escândalo da corrupção envolvendo o governador do Distrito Federal e um grupo de apaniguados. O “mensalão do panetone”, como foi apelidado, seguiu o roteiro traçado pelo escândalo que mais repercutiu no Brasil, o “mensalão do PT”, descoberto em 2005. No caso atual o estardalhaço foi maior, ante a transmissão, “ao vivo e em cores” de cenas em que os bandidos recebiam dinheiro roubado do Estado, guardando-o nas meias, cuecas e de outras formas. Conhecido, antes, o “mensalão do PSDB”, envolvendo o senador Azeredo, agora réu em ação tramitando no STF, o novo escândalo comprovou que as oposições também têm o hábito de roubar dinheiro público. Enfim, não se duvida que os políticos podem,sim, ser nivelados por baixo. A corrupção é generalizada, não importando se governo ou oposição.
Ah, certamente estão reclamando: não aconteceu nada de bom no Brasil? Muita coisa boa aconteceu, inclusive na área governamental. Aproveitando-se da conjuntura econômica privilegiada, anterior à tão badalada crise financeira que assolou o mundo, o Brasil saiu mais cedo do imbróglio. Destacou-se, no caso, a atuação do presidente do Banco Central. Neste episódio e em outros em que ocorreram fatos positivos, não há o que elogiar. Os governantes apenas cumprem suas obrigações, quando agem corretamente. E, quem cumpre o dever, não merece elogios. Para tanto estão lá, muito bem remunerados, com casa, comida e roupa lavada.
Aproveito para desejar a todos um Natal pleno de paz, saúde e alegria e que o novo ano seja melhor do que todos os anteriores.
Embora não tão merecidas, estou entrando em férias. Estarei ausente até meados de janeiro próximo.

*** Josué Maranhão é jornalista e advogado aposentado. Iniciou-se como jornalista no Nordeste, na década de 1950. Atuou durante 15 anos, tendo exercido diversas funções em redações de jornais. Formado em direito pela UF-RN, advogou em Natal e foi juiz em Recife, nos anos 1960 e 70. Em São Paulo, trabalhou como advogado durante mais de 20 anos. Mudou-se para o exterior em 1996. Morou na Indonésia e na Malásia. Reside em Boston (EUA) desde 1998, quando voltou ao jornalismo. É autor de Jacarta, Indonésia, Fazer a América e Um Repórter à Moda Antiga, todos à venda na Livraria Última Instancia.

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