terça-feira, 15 de dezembro de 2009

NOSSOS PONTOS COMUNS...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Ouvi, como sempre disperso em pensamentos fúteis, depoimentos de jornalistas venezuelanos sobre as maldades do presidente Hugo Chávez com a imprensa local. Parece-me que foi num documentário da TV Cultura, retransmitido pela TVE. Os coleguinhas de lá chegaram à paranoia. Eles há muito deixaram de temer a censura, explícita à medida que ou se está a favor do governo chavista ou se está contra. Assim como no Brasil, lá as emissoras de rádio e tevê são concessões do Estado.
Os adversários do poder as têm suspensas tão logo vença o prazo de validade para renová-las. A censura deixou de ser, portanto, o fantasma mor da mídia da Venezuela. A choradeira, o verdadeiro pânico hoje naquelas bandas é com relação à autocensura.
Os jornalistas estão ficando literalmente loucos. Ou se autovigiam ou perdem o emprego. O presidente Lula acha que seu colega aprendiz de ditador é a democracia personificada. Tentou, inclusive, amordaçar a imprensa daqui, mas felizmente não conseguiu, apesar de, paradoxalmente, contar com o apoio de instituições que só existem porque existem jornalistas.
Queriam criar um Conselho Federal para vigiar as atividades jornalísticas, mas prevaleceu o bom senso. Entretanto, se for reparar em detalhes o que ocorre com a imprensa brasileira, vamos verificar que não estamos tão distantes da capenga imprensa venezuelana – capenga porque Chávez amputou-lhe uma das pernas, cegou-lhe um dos olhos e cortou-lhe uma das mãos.
Talvez estejamos hoje em desvantagem com o país comandado pelo amiguinho de Lula. Há um caso concreto aqui de fazer inveja aos poucos veículos de comunicação independentes da Venezuela.
E Lula não tem a ver com isso. Falo da estúpida censura imposta pela Justiça, e ratificada pelo Supremo Tribunal Federal, ao jornal O Estado de S. Paulo. A democracia teve uma recaída perigosíssima. E olha que já nos livramos da asfixia militar há mais de 20 anos. O Estadão não pode citar o nome do filhinho do presidente do Senado, o paizão José Sarney. Acho que o nome do denguinho de Sarney é Fernando.
Toda essa imposição porque Fernandinho ( para os íntimos, claro) foi flagrado numa escuta da Polícia Federal pedindo ao popozão um empreguinho para uma cunhada, nora e sei lá que diabos! Sarney tem um coração maior do que o próprio universo. Aliás, ele é acusado de praticar centenas de atos secretos ilegais, inclusive nomeando a irmãzinha para uma função qualquer no Senado. Não sei se na Venezuela de Chávez acontece esse tipo de coisa deprimente. O mais curioso: um dos ministros do Supremo disse mais ou menos o seguinte: pegava mal ir contra a reputação, a honra e a moral de alguém, usando escutas (não sei se lícitas). Coincidentemente, esse alguém tem o sobrenome Sarney. Daí fica fácil concluir que o STF pisou na goela do Estadão para beneficiar um tagarela que sabe que pode falar o que bem quiser e entender no telefone, mesmo imoralidades ou algo comprometedor. Sabe também que quem o estiver grampeando, legal ou ilegalmente, não escapará das duras penas da lei.
O garoto (no bom sentido) de Sarney, assim como o pai, não é mortal como nós. Qualquer privilégio é pouco para quem nasceu na ala restrita aos deuses (ou aos demônios).

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