sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

VÁ, MEXA COM ELE!...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

O torpe do meu sobrinho quer virar delegado de polícia (já sonha até em ser nomeado secretário de Segurança Pública) ou membro do alto escalão do Ministério Público para, quando se invocar com a cara de alguém, solicitar a quebra do sigilo telefônico da sua presa. Assim, imagina poder conhecer pormenores do adversário. Nada como invadir a privacidade alheia para – no caso do meu sobrinho mau-caráter – partir para a extorsão, a chantagem e o ultraje. Ele tem um incorrigível desvio de personalidade. Aliás, pensando melhor, o traste não tem personalidade. Entrou agora num curso de eletrônica para, enquanto não chega à condição de policial graduado ou de promotor ou procurador, sair grampeando ilegalmente quem bem lhe der na telha.
O insano não quer se contentar apenas em ouvir as conversas alheias. Pretende ir além. Pretende filmar a intimidade de determinadas famílias, de preferência de empresários e políticos, onde, no seu fedorento cérebro, o dinheiro corre em abundância. Ele almeja flagras picantes, eróticos, que causem vexame na sociedade. Faz hoje um trabalho minucioso para saber quem trai quem e até as preferências sexuais de amantes cujos verdadeiros maridos e esposas são abastados e conhecidos nas passarelas da socialite. O verme ouviu de um especialista do mundo da grampolândia que o processo de escuta, mesmo ilegal, não exige sofisticação. Soube, inclusive, que algumas investigações policiais (tenho certeza que o dedo-duro do meu sobrinho está extrapolando) têm início informalmente. O cidadão, que é honesto até que ele mesmo consiga comprovar que não é desonesto (é assim que funciona na Bahia e no Brasil), é grampeado muitas vezes aleatoriamente ou por conta de uma suposta conduta irregular. Acaba sendo vigiado 24 horas durante, digamos, três meses. Entretanto, somente depois que porventura comecem a surgir os primeiros indícios de atos hipoteticamente criminosos é que a tal autoridade ingressa na Justiça com pedido de escuta telefônica, quando o idiota já está sendo monitorado há 90 dias. A essa altura, mais de cem, duzentas, quinhentas almas penadas já caíram na chamada teia de aranha. Gente que não conhece nem a cor da chita se transforma em personagem “íntima” de um bisbilhoteiro qualquer – esteja ele respaldado juridicamente ou não.
Aí invadem a minha casa, por exemplo, e descobrem no meu computador (façamos de conta que o tenho) fotos de criança de dois, três anos de idade tomando banho nua na banheira plástica e me levam algemado sob a acusação de pedofilia. Quando esclareço que a criança é minha filha (ou filho) e são meras fotos banais, meu nome já está no lixo e eu sujeito a ser linchado. O irresponsável e fascista do meu sobrinho não pensaria duas vezes antes de me incriminar ou a qualquer pai de família de bem. Digo comigo mesmo: meu Deus, quantos capadócios e infames, tipo meu horrendo e indesejável parente, não estão por aí se deliciando em observar a vida alheia? Daí a necessidade de qualquer escuta legal só ser permitida ante argumentos incontestáveis da autoridade competente.

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