quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

VOYEURISMO VIRTUAL...

FONTE: JANIO LOPO (TRIBUNA DA BAHIA).

O uso inconsequente do grampo telefônico alcançou um nível tal que está deixando toda a sociedade em polvorosa. Políticos, empresários, jornalistas, cidadãos de todas as classes sociais entraram em paranoia. Sabem que a escuta (legal ou não) se banalizou e essa vulgarização tem permitido à marginalidade o aperfeiçoamento de seus métodos, seja para chantagear, extorquir ou simplesmente amedrontar as pessoas. Sua vida pode estar sendo desnudada nesse exato momento em virtude de ações irresponsáveis cujo principal patrono é o Estado brasileiro que não apenas age contra os princípios democráticos como estimula a quebra da privacidade alheia, expondo todos a situações de consequências imensuráveis. Dossiês são produzidos aos milhares graças ao mundo vergonhoso da grampolândia. Isso sem falar sobre o conteúdo de conversas íntimas entre casais ou o diabo que o parta que, não raro, acabam na rede mundial de computadores.Os criminosos, os detratores, os vigaristas ficam impunes, invariavelmente. Acho que entramos na era do voyeurismo virtual. Vigia-se o desgraçado até quando ele está no vaso sanitário. Conhecer em detalhes sua condição financeira é mamata. A Receita Federal aperta um botãozinho lá e descobre até o preço das flores que você mandou para a mulher do seu melhor (pode ser pior também) amigo. O que fazer? Baixar a cabeça e se conformar com a invasão da sua alma? Claro que não. A porcaria do grampo deveria ser usado somente em casos especialíssimos. Mas não. Como é mais prático e fácil, opta-se por excluir o trabalho de investigação policial. Ora, é mais cômodo ficar ouvindo os cochicos dos outros e até se deleitando com eles, do que ir a campo apurar denúncias. E o Estado, impassível, aplaude e pede bis. Que miséria de democracia é essa onde seus direitos são limitadíssimos enquanto seus deveres não têm medição? Não quero dizer aqui que a escuta deve ser abolida. Não é nada disso. Apenas que se faça quando extremamente necessária.
Quem está do outro lado da linha pode ser um vigarista qualquer disposto a lhe golpear. Pode ser um delinquente sexual – tarado no português mais claro – a se exaltar se deliciando com papos eróticos dos casais. Ou é loucura minha? Quando juízes e juízas e membros do Ministério Público que solicitarem e forem atendidos na quebra do sigilo telefônico passarem pelo vexame de serem alvo do próprio veneno, logo, logo teremos critérios mais sensatos dispondo sobre o tema.

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