quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A PELEJA DE IEMANJÁ COM O DIABO...

FONTE: Jolivaldo Freitas (TRIBUNA DA BAHIA).

Iemanjá que me perdoe, mas acho que já era tempo de se atualizar o negócio de dar presente para a Mãe D´água-do-mar. Por vários motivos e não que eu seja um desrespeitador, um anarquista querendo pulverizar os sacros hábitos que se perpetuam e se misturam com o folclore baiano ou com santeria latina, mas tem de ser uma festa politicamente correta, e não o é.
Posso começar a citar alguns itens que já não podem ser deixados de lado e que Iemanjá, vaidosa também como sua aparentada Oxum, fica quieta, se faz de paisagem submarina e deixa rolar.
O que se viu no Rio Vermelho, em sua idolatrada homenagem foi uma série de desatinos contra o meio-ambiente e para com o ser humano. O povo de santo, e uns povos não tão de santos assim, inclusive as levas de turistas que até confundem em sua santa ignorância Iemanjá com Iara, deixando de saber que a primeira é coisa do mar e a outra é coisa de lagos e rios e pensa até que Janaína é a mesma coisa que todas, perpetua a mania de dar presentes que somente servem para deixar os ecologistas de cabelos em pé.
Foram mais de 300 balaios autorizados pelas autoridades levados pelas embarcações. As traineiras, saveiros, bateias, canoas e barcos saíam entulhados. Por fora das doações legalizadas, dezenas de outras embarcações faziam a entrega pirata de penduricalhos de toda sorte. Eram verdadeiros entulhos de perfume barato, e o vidro leva uma vida para se dissolver. Flores e miçangas de plásticos em profusão, e plástico leva gerações para degradar. Teve sandália havaiana, e borracha para dissolver é fogo, Colares e argolas de latão menos mal, mas neste caso, o que chocava era o mau gosto. Sem falar nas milhares de latas de cerveja que sobraram à beira-mar ou foram levadas pela correnteza, e alumínio só dissolve na marra.
É certo que cabe a Iemanjá aceitar ou não os presentes. Todo ano os pescadores que dependem do seu humor para a pesca entregam seu balaio especialmente feito e ficam olhando se sobe ou desce. Afundou foi aceito. Veio à tona o bicho vai pegar este ano e ninguém vai poder sair para pescar.
Mas, o chato é que o diabo mete seu bedelho em tudo e decidiu dar uma mãozinha para todos. Como chumbo não boia e pedra afunda, tem dono de barco que faz a maracutaia de dar uma ajuda a alguns balaios para que afundem de verdade e inventam verdadeiras poitas. Tão pesadas que nem todos os seres do mar têm força para devolver. Quem deu o presente fica satisfeito e o pescador fatura uma graninha por fora.
Talvez, por isso, é que Iemanjá, na falta de uma reação em seu habitat, se vinga de outra forma. Deixa que os pivetes roubem à granel e embebeda os fariseus para que eles mesmos se acertem e é briga para todo lado. A divindade não é besta. E quem disse que santo tem de ser santo todo dia? Tem horas que enche o saco.

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