terça-feira, 16 de março de 2010

DAIME, SANTOS OU DEMÔNIO?...

FONTE: Lorena Costa (TRIBUNA DA BAHIA) (Wikipedia).

Com o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e do seu filho Raoni, na madrugada da última sexta-feira, em Osasco, São Paulo, foram retomadas as discussões – recheadas de críticas e dúvidas – quanto ao Santo Daime, como é conhecida a religião que se baseia em rituais da ayahuasca (chá feito a partir de duas plantas da região amazônica). O cartunista era fundador de uma igreja baseada no Daime e seu assassino confesso, um jovem que se aproximou da igreja com a finalidade de se livrar do uso de drogas.
O doutorando em Antropologia e também dirigente do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal da Bahia, Paulo Moreira, defende os princípios do Daime. Para ele, a religião tem sofrido perseguição. “Acho que está havendo uma campanha de demonização do Daime. Uma perseguição como, por exemplo, o Candomblé já sofreu. O caso do Glauco é, para mim, apenas mais um pretexto para que o Daime receba críticas”, afirmou.
Conforme Moreira, são diversas as ramificações do Daime e o cartunista Glauco não pertencia à linha tradicional da religião. “Na Bahia, não temos vínculo com a segmentação a que o Glauco pertencia, a Cefluris. Na verdade, este é um segmento do Daime que não dialoga com a linha mais tradicional, à qual eu pertenço”, disse.
Em geral, já que é muito complexa, consiste em uma doutrina espiritualista que tem como base o uso sacramental de uma bebida, a ayahuasca, “com o fim de catalisar processos interiores e espirituais sempre com o objetivo de cura e bem estar do indivíduo”.
Essa prática espiritual é, como explica Moreira, essencialmente individual. “O indivíduo não passará por nada que não corresponda à realidade, pois a intenção é apenas possibilitar o acesso ao inconsciente de modo consciente.
Tudo corresponde à realidade, é um autoconhecimento. Como num sonho em que são externados medos e desejos, a depender do momento que a pessoa esteja vivenciando”, resumiu.
MISSÃO - Outros adeptos explicam a doutrina do Santo Daime como uma missão espiritual cristã, que encaminha os seus praticantes ao perdão e à regeneração do seu ser. “Isto acontece porque o daimista, ao participar dos cultos e ingerir o Santo Daime inicia um processo de autoconhecimento, que visa corrigir os defeitos e melhorar-se sempre, para que possa um dia alcançar a perfeição”.
O efeito provocado pela ingestão da ayahuasca, porém, não é visto por Moreira como alucinógeno. “O termo alucinógeno não cabe a bebida, pois nenhuma descrição de alucinógeno pode ser comparada aos efeitos do Santo Daime. Usamos, simplesmente, bebida com ‘principio ativo’ – como café”, explicou.
Os rituais do Santo Daime têm sempre música, como os hinos religiosos, alguns deles tocados no enterro do cartunista. Maracás, instrumento indígena ancestral, também são tocados na maioria dos cultos. A religião surgiu no estado Acre, no início do século XX, tendo como fundador o lavrador e descendente de escravos Raimundo Irineu Serra, que passou a ser chamado dentro da doutrina e por todos que o conheciam como Mestre Irineu.
Conta-se que após conhecer a bebida sacramental chamada de ayahuasca pelos nativos da região Amazônica, Irineu Serra teve uma visão de característica mariana, em que um ser espiritual superior lhe entrega a missão do Santo Daime. Existe um projeto para que o Santo Daime seja reconhecido como bem imaterial do Acre e também como única religião de origem brasileira.
PROPRIEDADES PSICOATIVAS.
Segundo algumas correntes de defensores do seu uso religioso e ritualístico, a ayahuasca não é um alucinógeno. Seus defensores preferem utilizar o termo enteógeno (gr. en- = dentro/interno, -theo- = deus/divindade, -genos = gerador), ou “gerador da divindade interna” uma vez que seu uso se dá em contextos ritualísticos específicos.
Para seus críticos, contudo, a opção sócio-cultural do usuário ou a tolerância religiosa de alguns países ao seu princípio ativo, o DMT, não altera sua classificação, uma vez que o objetivo continua sendo o de induzir visões pessoais e estados alterados por meio da ingestão de uma substância.
Segundo os relatos dos usuários, a ayahuasca produz uma ampliação da percepção que faz com que se veja nitidamente a imaginação e acesse níveis psíquicos subconscientes e outras percepções da realidade, estando sempre consciente do que acontece — as chamadas mirações. Os adeptos consideram esse estado como supramental “desalucinado” e de “hiperlucidez”.
Cientificamente, a propriedade psicoativa da ayahuasca se deve à presença, nas folhas da chacrona, de uma substância alucinogéna denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo humano, Rick Strassman especulou que a g seja o seu produtor no corpo humano, contudo, não existem estudos clínicos que o comprovem de fato. O DMT é metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase (MAO), e não tem efeitos psicoativos quando administrado por via oral.
No entanto, o caapi possui alcalóides capazes de inibir os efeitos da MAO: harmina, tetraidroarmina e harmalina, principalmente. Desse modo, o DMT fica ativo quando administrado por via oral e tem sua ação prolongada. (Fonte: Wikipedia)
O CIPÓ DO ESPÍRITOS.
Ayahuasca, nome quíchua de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (caapi ou douradinho), que serve como IMAO e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona) que contém o princípio ativo dimetiltriptamina. É também conhecida por yagé, caapi, nixi honi xuma, hoasca, vegetal, Santo Daime, kahi, natema, pindé, dápa, mihi, vinho da alma, professor dos professores, pequena morte, entre outros.
O nome mais conhecido, ayahuasca, significa “liana (cipó) dos espíritos”.
Utilizada pelos incas e também por pelo menos setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia. É utilizada em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil.
Seu uso se expandiu pela América do Sul e outras partes do mundo com o crescimento de movimentos religiosos organizados, sendo os mais significativos o Santo Daime, A Barquinha, Natureza Divina e a União do Vegetal, além de dissidências destas e grupos (núcleos ou igrejas) independentes que o consagram em seus rituais.

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