segunda-feira, 22 de março de 2010

PEQUENOS TIRANOS...

FONTE: EFE (entretenimento.br.msn.com).
Um sentimento de culpa leva os pais a fazer concessões além do necessário na educação de seus filhos. No entanto, essas são pequenas batalhas perdidas que, tempo depois, impedem uma relação equilibrada e saudável entre eles.
Segundo a psicóloga Alicia Banderas, especializada em psicologia educativa, os pais se impõem empecilhos, como a culpa, para não exercer a autoridade, em muitos casos por causa da dificuldade de conciliar trabalho e família.
"Não veem os filhos durante o dia todo e, quando voltam para casa, fica muito difícil impor limites e acabam evitando isso, querendo assim compensar a ausência", descreve Banderas. Essa é uma das razões pelas quais a terapeuta organiza periodicamente o evento "Escolas de pais".
É preciso marcar uma diferença clara entre uma criança tirana e uma desobediente. A primeira mostra insensibilidade perante a dor alheia. É incapaz de perceber o dano que causa aos outros e não tem remorsos de consciência: a culpa é sempre dos outros. Impulsivas e egocêntrica, ela não se coloca na pele dos outros e costuma ter atitudes vingativas.
Já a criança desobediente foge das regras, bate a porta na cara de alguém, tem raiva passageira, grita e esperneia, mas é consciente do mal que causou.
Da mesma maneira, tratando-se de adolescentes, não se deve confundir rebeldia com tirania. Esta última provoca não só desobediência das regras, mas crueldade e pouco medo ao castigo.
"Na tirania, há uma predisposição genética, mas isso não determina que a criança seja tirana. Cada um nasce com um temperamento, mas o trabalho educativo dos pais evita que esse comportamento exploda", assegura a psicóloga.
A permissividade e a vulnerabilidade dos pais são atitudes das quais os filhos se aproveitam para se transformar em tiranos, explica Banderas. "Quando o pai se cansa de tentar impor regras e limites, de arcar com a responsabilidade pela educação, surge um desgaste que o torna vulnerável. Esse é o alimento perfeito para que o filho se torne o rei da casa", ressalta.
POUCA RESPONSABILIDADE.
Crianças e adolescentes apresentam, cada vez mais frequentemente, falta de responsabilidade, pouco autocontrole, egoísmo exacerbado, intolerância à frustração, agressividade e uma tendência excessiva à manipulação. Encontrar a solução para o problema que gera essa atitude é fundamental para detê-lo e para começar a aplicar técnicas efetivas.
Pequenos, mas não tolos. Eles sabem como conseguir seus objetivos e sua 'má' educação os leva a se transformarem em "Pequenos tiranos". Este é o título do livro de Alicia Banderas. Ela afirma que é preciso sempre tentar conhecer o que há por trás da atitude de uma criança ou de um adolescente que não tem um bom comportamento. A psicóloga oferece respostas a pais e a educadores para evitar que os filhos se transformem em pessoas exigentes e incapazes de assumir responsabilidades.
Tudo é questão de educação, deve-se dedicar tempo a essa tarefa. Estabelecer hábitos e rotinas é fundamental para criar controle sobre os filhos. Fazer as coisas por eles para evitar uma discussão ou para não repetir várias vezes a mesma ordem impede que eles sejam pessoas autônomas e responsáveis.
"A responsabilidade é uma qualidade positiva que não é inata, se aprende pouco a pouco", afirma Banderas. A psicóloga explica que, em muitos casos desastrados, os pais mandam seus filhos fazerem várias coisas ao mesmo tempo e, por vezes, sem uma preparação prévia.
Os pais confundem exercer sua autoridade com autoritarismo. Segundo a psicóloga, o autoritarismo é o mais parecido a uma ditadura, no estilo 'isto é assim porque eu digo e acabou'. Essa atitude se equivoca com a de autoridade, que é a maneira de ser reconhecido(a) pelo respeito. "Se você quer ter a autoridade como pai ou mãe, não deve estabelecer uma ditadura. Você pode conciliar firmeza com carinho", destaca Banderas.
Ela também adverte que querer ser 'colega' dos filhos é uma atitude imprudente, pois os pais "não têm os mesmos interesses que eles". Se os pais não 'treinam' para assumir responsabilidades, no final não há credibilidade em suas decisões. E ainda que os pais tomem tais decisões, se elas não saem como esperavam, culpam aos outros por isso.
"Eles tomam decisões por capricho, mas que depois não assumem como se fossem sua responsabilidade. Desejam coisas em benefício próprio e decidem de forma inconsciente, sem refletir".
COM CLAREZA.
Para Alicia Banderas, o ideal é que as crianças aprendam a assumir responsabilidades quase como um jogo, de maneira que não signifique um esforço para elas, "isso lhe proporcionará auto-estima e uma grande autonomia", comenta.
Segundo a psicóloga, os pais precisam dizer aos filhos clara e especificamente o que querem. Por exemplo, as tarefas no lar. O que pode parecer uma mensagem clara como: "arrume seu quarto", pode ser ambígua e pouco precisa aos filhos, pois eles não sabem onde está o limite para terminar. "Além disso, certamente nossa percepção de ordem não se corresponde com a deles. É necessário sentar com ele e explicar claramente o que queremos", acrescenta.
Quando é tarde demais para perceber que a relação com os filhos fugiu ao controle dos pais? "Sempre temos tempo para modificá-la. Sempre é mais fácil começar controlando as primeiras raivas passageiras das crianças. Os pais devem evitar justificações do tipo 'é muito novo para entender'. Se a comunicação chegou a um ponto em que está desestruturada, embora seja difícil retomá-la, é possível conseguir com persistência".
Um excesso de atenção provoca situações de chantagem inclusive das crianças. Elas querem tudo e querem agora. Em um momento de raiva passageira dos filhos, se os pais "os abraçam, acabam reforçando a atitude das crianças para conseguir as coisas desse modo", adverte Banderas.
A psicóloga afirma que sua experiência permitiu a ela observar que há uma desproporção entre o esforço dos filhos e a recompensa dada pelos pais. "Os pais se queixam que o filho não estuda nem arruma a mesa, mas não deixam de pagar a recarga do celular nem cortam nada do que ele quer, independentemente do esforço que faça. Isso o transforma em um tirano".
Por outro lado, os jovens se queixam de falta de atenção dos pais. "Um filho tem que saber que é querido e sentir isso". Na conversa, deve existir contato visual. A criança tem que perceber que realmente é ouvida, não basta com ouvi-la enquanto digita no computador.
"Por exemplo, quando se discute o tema das drogas ou sexo, os pais apressam-se a julgar e a dar conselhos antes de ouvir a criança e transformam a conversa em um interrogatório policial. Embora agora haja maior comunicação entre pais e filhos, ela não é feita da melhor maneira", indica Banderas.
Para ela, o fato de que a idade para assumir a paternidade tenha aumentado não significa que tenha aumentado este tipo de conflitos familiares. As causas dos problemas são os impedimentos emocionais como a culpa ou a proteção exacerbada.
"Queremos fazer tudo por eles e estudar passa a ser sua única responsabilidade. 'Logo eles sairão para o mundo real. Enquanto viverem em casa, que vivam como reis', dizem alguns pais", conclui a especialista.

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