segunda-feira, 15 de março de 2010

SAÚDE SUPLEMENTAR...

FONTE: *** ÚLTIMA INSTÂNCIA.
Nos últimos tempos, grandes operadoras de planos de saúde adquiriram ou incorporaram outras, acarretando uma consolidação no setor. Outra tendência detectada é a verticalização do mercado. Hospitais, clínicas e laboratórios vêm sendo agregados às operadoras, resultando em grandes organizações médicas. Paralelamente, o mercado está em crescimento. Existem hoje cerca de 1.500 operadoras, que registraram um faturamento de R$ 53 bilhões em 2009. Porém, desse valor, mais de 40% se concentram em apenas dez empresas.
A assunção da carteira de beneficiários da Avimed pela Italica e, mais recentemente, da Medial pela Amil são exemplos concretos do que está acontecendo hoje com o mercado de saúde suplementar.
Outros índices comprovam a situação. Pouco mais de 3% das operadoras no Brasil atendem dois terços dos 42 milhões de brasileiros que têm planos de saúde contratados. Por outro lado, 88% delas são responsáveis por apenas 20% dos beneficiários. Operadoras menores, que contam com menos de 10 mil usuários, equivalem a 70% do total.
Este contexto revela que o mercado não é restrito —afinal o Brasil é o segundo maior mercado de saúde suplementar do mundo, sendo superado apenas pelos Estados Unidos— mas sim polarizado. Numa ponta, os grandes grupos onde, entre eles, a concorrência é baixa. Na outra, pequenas operadoras, com mensalidades mais acessíveis, porém, a maior parte delas, é claro que com honrosas exceções, carentes ainda de uma melhor estruturação gerencial e de assistência aos seus beneficiários.
Com o avanço da verticalização, os questionamentos sobre a qualidade na provisão de serviços são inevitáveis, uma vez que a operadora teria o poder de cortar demasiadamente os custos. No entanto, o atendimento e a prestação de serviços não podem, e não deixarão de ser, uma preocupação. Afinal, são essenciais para a sobrevivência das empresas, especialmente por se tratar da vida de pessoas.
Novas normas e resoluções da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) constantemente são criadas. Elas impõem novos procedimentos e inclusão de mais serviços na cobertura mínima dos planos. Uma proteção para o usuário, mas que no final acaba também prejudicando as operadoras de pequeno e médio porte, redundando em graves consequências para a estabilidade econômico-financeira do próprio sistema.
A grande maioria das novas regras onera a prestação de serviço e contribui para o aumento da sinistralidade. Desta forma, a verticalização torna-se importante para viabilizar produtos competitivos e acessíveis. As operadoras, com maior número de beneficiários, diluem os riscos de sinistros e também as despesas administrativas. No caso das menores, dificulta o crescimento e pode até mesmo significar o encerramento das atividades.
A concorrência entre as operadoras historicamente não é muito acirrada. As pessoas acabam se acostumando com os médicos que frequentam e estabelecem um relacionamento pessoal, o que dificulta a troca. Como não há um hábito intenso de procurar outro profissional, a mudança de operadora, que traria ainda outras dificuldades, torna-se ainda mais remota. O fato das empresas serem proibidas de oferecer tarifas promocionais também contribui para a não movimentação de beneficiários. A iniciativa de permitir a portabilidade de carências foi um avanço, mas não seduziu muito os consumidores.
Para a população, este cenário, apesar de oferecer numerosas opções, tem apenas dois caminhos: pagar altos preços por um bom serviço ou aceitar condições inferiores a um custo acessível. O mercado impõe determinadas situações que levam a essas escolhas. As grandes organizações ficam cada vez maiores e se fortalecem. Assim, conseguem driblar os obstáculos e dar um bom atendimento aos seus beneficiários. Enquanto isso, as pequenas sobrevivem a duras penas, com suas obrigações contratuais, que não são poucas!

*** Dagoberto J.S. Lima, é sócio-fundador do Advocacia Dagoberto J.S. Lima e chefe da assessoria jurídica do Sistema Abramge/Sinamge e Sinog.

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