sábado, 8 de maio de 2010

BRASILEIROS NO ARIZONA SE PREPARAM PARA CUMPRIR NOVA LEI DE IMIGRAÇÃO...

FONTE: *** CORREIO DA BAHIA.

A brasileira Clarice Deal mora nos Estados Unidos há 20 anos. Ela dá aulas de português na Universidade Estadual do Arizona, é casada com um norte-americano e, segundo a lei, é uma cidadã do país. Mas Clarice tem a pele morena, o rosto latino e, por isso, está com medo. Desde que a nova lei de imigração do estado foi apresentada, ela não sai de casa sem um documento que prove sua condição de imigrante legal – mesmo três meses antes da exigência entrar em vigor.
“Nunca fiz nada de errado. Entrei legalmente, trabalho legalmente, pago todos os meus impostos em dia. Mas eu posso ser parada na rua e importunada por um policial simplesmente pela cor da minha pele. Se eu não estiver com os documentos, posso ser presa. Tudo porque tenho cara de mexicana. Essa lei é uma vergonha”, afirma Clarice.
A nova lei de imigração do Arizona foi assinada em 23 de abril pela governadora Jan Brewer. É a legislação mais dura contra imigrantes ilegais da história do país, que torna crime um imigrante não carregar seus documentos e dá poder à polícia para prender qualquer pessoa suspeita de ter entrado nos Estados Unidos ilegalmente.
O presidente Barack Obama, que não costuma se meter nos assuntos internos dos estados, fez duras críticas à nova legislação. Entidades de apoio afirmam que ela é um convite à discriminação contra hispânicos no Arizona.
A lei só entra em vigor em agosto, mas os brasileiros que moram no estado já estão portando seus documentos quando saem de casa, com medo de serem presos.
“O xerife da cidade já afirmou que está de prontidão e que se suspeitar que alguém é ilegal, essa pessoa vai ser presa”, conta Clarice, que mora em Scottsdale. “Um dos meus filhos tem a pele morena como a minha. Ele é esportista e agora não pode nem sair para correr na rua sem andar com a carteira e documentos”, conta a professora.
A situação é a mesma dos brasileiros Joice Barroso e Paulo Galasso. Os dois estão legalmente no país, mas andam com todos os documentos mesmo antes da lei entrar em vigor.
Mesmo estando em condições perfeitamente legais, existe um certo receio ao cruzar com a polícia. Sou parda, nada me pareço com os americanos e sabemos que a raça é a principal razão que levaria um policial a lhe pedir documentos que comprovem o seu estatuto legal de residência”, conta a carioca Joice, de 30 anos, que está estudando inglês em Phoenix há cinco meses, com visto de estudante.
“Anteriormente eu circulava somente com a carteira de motorista do Estado do Arizona, mas não querendo correr riscos passei a andar com todos os meus documentos originais, incluindo passaporte e meu I-20”, conta Joice.
Para ela, a lei é “uma total demonstração de racismo e intolerância”. “Entendo que o estado esteja tentando proteger suas fronteiras e ter um maior controle do número de imigrantes que aqui vivem e trabalham, mas existem formas mais humanas e efetivas de se fazer isso, sem ferir a Constituição e os direitos humanos”, afirma.
O paulista Paulo Galasso, de 26 anos, mora nos Estados Unidos há três anos e está há quatro meses no Arizona, trabalhando na organização de eventos de golfe, com visto de trabalho.
Ele concorda que o estado precisa de um controle da imigração, mas acredita que a lei deixa espaço para ser “mal interpretada”.
“Sou totalmente a favor de uma medida séria contra a imigração ilegal. Como o próprio nome diz, são pessoas que invadiram o país, não pagam taxas e possuem documentos falsos, prejudicando pessoas que estão aqui legalmente, como eu, que sou um residente autorizado, pago taxas e sigo todas as leis”, diz ele.
“Porém a nova lei pode ser mal interpretada por oficiais, o que não é interessante. É exatamente contra isso que todos protestam, que a lei mal interpretada ‘legalizaria’ o racismo”, afirma. “A lei imigratória necessita mudanças, mas para melhor, uma mudança para o bem dos dois lados da fronteira”, acredita Galasso.
Ele também passou a carregar os documentos antes da exigência. “Agora carrego comigo uma cópia do meu I-94 que comprova meu status legal no país, no caso de ser abordado”, conta.
COMUNIDADE BRASILEIRA.
Os brasileiros no Arizona reconhecem que o número de ilegais no estado é grande.
“Conheço muitos brasileiros aqui e cerca de 25% deles estão ilegais. Eles estão com muito medo”, conta Clarice Deal.
“Sei de aproximadamente 90 brasileiros que já deixaram o estado por medo da nova lei. Uns regressaram ao Brasil, mas boa parte foi à procura de novas oportunidades em outros estados”, afirma Joice.
SEM PRECONCEITO.
Apesar dos problemas com a nova lei, os brasileiros afirmam que nunca sofreram preconceito por serem da América Latina nos Estados Unidos.
“Pelo contrário, sempre fui muito bem recebido e ouvi coisas positivas sobre o Brasil e os brasileiros. Inclusive ao ser abordado uma vez em uma rodovia, o policial me perguntou se o ensinaria a jogar futebol e dançar samba. O que achei sensacional”, conta Paulo Galasso.“Em geral os americanos adoram o Brasil e se interessam pela sua história”, diz Joice.
A professora Clarice Deal conta que já considera o Arizona sua casa. “Fui muito bem acolhida neste estado. Foi aqui que criei meus filhos, é aqui que trabalho há 20 anos. É muito triste para mim que o Arizona seja conhecido agora como um lugar que não aceita imigrantes, porque não foi isso que aconteceu comigo. Preferia que o Arizona fosse conhecido pelo Phoenix Suns [time de basquete], pelas belezas que tem, pelo povo trabalhador. Ser conhecido por uma lei racista é uma tristeza muito grande”, afirma.

*** As informações são do G1.

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