sábado, 15 de maio de 2010

HISTÓRICO MATERNO TEM INFLUÊNCIA NA ANOREXIA...

FONTE: FERNANDA BASSETTE, RACHEL BOTELHO, da Reportagem Local (www1.folha.uol.com.br).

A anorexia pode ser uma herança psíquica materna. Uma pesquisa feita com mães de adolescentes que sofrem do distúrbio mostrou que todas apresentam, em seu histórico de vida, uma relação problemática com a comida.
O transtorno, que envolve distorção da imagem corporal, baixo peso e medo exagerado de engordar, é desencadeado por vários fatores, mas a relação da família com a alimentação parece ter grande peso.
O estudo qualitativo, conduzido pela psicóloga Christiane Baldin Adami Lauand, investigou os hábitos alimentares de mães de garotas com o distúrbio, que foram atendidas pelo grupo de apoio psicológico do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP). Descobriu que a relação que essas mulheres tinham com a comida também não era saudável.
Todas tinham passado por períodos de restrição alimentar, principalmente na infância. Algumas eram muito seletivas com o que ingeriam, outras sofreram privações decorrentes de dificuldades financeiras.
"O alimento não é simplesmente a comida. Ele vem carregado de significados, de emoções. A gente queria entender a relação dessas mães com a própria alimentação, como elas lidavam com isso, quais foram suas experiências e de que maneira transmitiram isso para as filhas", diz Lauand.
Quando se tornaram mães, elas passaram a oferecer aos filhos comida em excesso ou alimentos muito calóricos. Procuravam dar aquilo que não tiveram. O efeito foi o inverso: as filhas começaram a reduzir, por conta própria, sua alimentação.
"São situações que as mães viveram na infância e que, de alguma maneira, não conseguiram elaborar. É um processo inconsciente", diz a psicóloga.
Esse panorama é conhecido entre profissionais que tratam pacientes com anorexia. "Se a mãe foi muito magra e esteve insatisfeita com o próprio corpo por isso, ela tem uma preocupação que os filhos comam mais e uma dificuldade de saber quando parar de oferecer", exemplifica a psiquiatra Liliane Kijner Kern, do Programa de Orientação e Assistência a Pacientes com Transtornos Alimentares da Universidade Federal de São Paulo.
Foi o que aconteceu na casa da pedagoga Rosângela Alves, 34. Aos 19 anos, ela media 1,65 metro e pesava 43 quilos. "Minha mãe quis compensar em mim as dificuldades pelas quais passou. Ela saiu muito cedo de casa e, quando tinha apenas 17 anos, eu nasci", conta.
Ela acredita que a insistência da mãe para que comesse teve um papel fundamental no desenvolvimento do transtorno. "Eu associo fortemente a anorexia ao fato de comer forçada. Minha mãe só me deixava sair da mesa depois que acabasse tudo. Era uma tentativa de cuidar, mas do jeito errado", diz Rosângela, que está curada.

MULTIFATORIAL.
Os fatores que levam ao desenvolvimento da anorexia ainda não foram totalmente descortinados, mas há influência cultural (culto ao corpo, excesso de preocupação com a beleza), ambiental (como a educação), hereditária e genética.
Segundo Kern, da Unifesp, entre as pacientes com anorexia é comum encontrar famílias muito críticas em relação a seus membros e mães que apresentam uma preocupação extremada com o corpo ou com a alimentação. "Meninas com anorexia têm mais esse perfil familiar e, quando ele está presente, a cura é mais demorada."
O transtorno costuma apresentar os primeiros sinais no início da adolescência e atinge mais as mulheres. Para preveni-lo, os pais devem cuidar da alimentação de maneira saudável, sem exageros, respeitar o biótipo de cada pessoa e ter um olhar crítico em relação ao ideal de beleza da sociedade.
Mudanças de comportamento, como isolamento social, recusa de fazer refeições com os familiares, dietas muito restritivas e aumento no nível de atividade física podem ser sinais do problema.

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