quinta-feira, 13 de maio de 2010

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DESCASO...

FONTE: Elielson Barsan, TRIBUNA DA BAHIA.

Faixas estendidas. A mesa improvisada para uma partida de baralho, a roda de amigos para um piquenique e o axé por trilha sonora. Tudo isso em frente ao Fórum Rui Barbosa, em Nazaré, ontem à tarde. No interior da instituição, pelos corredores vazios ecoa o som da greve dos servidores da Justiça que hoje entra no quinto dia e não tem prazo para terminar. “Sem chances de atendimento. Parou tudo mesmo”. A sentença vem de uma recepcionista.
Enquanto isso, do lado de fora, a população, em contagem regressiva para resolver pendências com documentos, ainda é surpreendida com os avisos de greve. Diante da informação, a saída é estender os prazos para resolver as questões. Classificada para a prova de títulos do concurso da prefeitura de Barro Alto, município localizado no centro norte da Bahia, a nutricionista Neila Andrade, 38, agora enfrenta outra prova. “Eu só preciso autenticar uns documentos. Um processo simples desse e vou ter que esperar. Espero mesmo não ser prejudicada quanto ao prazo para a entrega de toda a documentação”, diz, aflita.
A título de evitar problemas com sua aprovação no certame, ela garante que não vai ficar parada. “Vou entrar em contato com a empresa que realizou o concurso para saber o que devo fazer nesse caso. O pior é que se eu tiver de recorrer à Justiça, ironicamente, só terei mais problemas”, lamenta.
“Tenho uma audiência marcada para hoje (ontem). Não vai ter?”, reage surpresa uma senhora que preferiu não revelar o nome. O processo aberto contra a Sulamérica Saúde por causa de cobrança indevida parecia ter solução imediata. “Tem quatro meses que procurei a Justiça para resolver e andou rápido. Tomei até um susto porque, geralmente, o prazo não é esse. Pelo menos o plano não está suspenso. Mexer com saúde é sempre complicado”, ressalta.
Também surpreendido pela greve, o advogado cível Fernando Nunes de Miranda, 25, acredita que o movimento, para ele e seus clientes, não traz prejuízos diretos e imediatos. “Eu trabalho com causas de concursos. Como a paralisação é um motivo de força maior vamos remarcar as audiências. Lógico que a greve agrava até porque a tutela jurisdicional já leva um tempo e esse atraso amplia a espera para resolver as questões. Mas os prazos que devem ser cumpridos são suspensos automaticamente”, pondera o advogado.
Gerente de uma concessionária de veículos na Av. ACM, Joilson Nonato contabiliza problemas com reconhecimentos de firma. “Não estamos transferindo veículos desde a semana passada por causa da greve. Está tudo atrasado. Em razão deste movimento, o cliente deixa de levar o carro e novas vendas ficam comprometidas, pois estamos impossibilitados de regularizar as documentações”, sintetiza. O gerente conta que a empresa vai fazer um levantamento no final do mês para checar os prejuízos.

TRIBUNAL MANTÉM SERVIÇOS PARCIALMENTE.
A presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT5), desembargadora Ana Lúcia Bezerra Silva, suspendeu a contagem de todos os prazos judiciais enquanto durar a greve deflagrada pelos servidores do Poder Judiciário Federal, iniciada, no TRT5, na última segunda-feira, dia 10. A medida, publicada por meio do ato 175/2010 no Diário Eletrônico do Tribunal do mesmo dia, prevê ainda a edição de um novo ato assim que o movimento paredista acabe e as atividades sejam normalizadas.
O ato também determina a manutenção dos serviços de pagamento das Varas do Trabalho, em relação aos depósitos já efetuados; do Protocolo, Distribuição de Feitos de primeiro grau e postos avançados. As medidas urgentes, entre as quais mandado de segurança, habeas corpus e medidas cautelares, continuarão sendo recebidas normalmente, bem como fornecimento de certidões, para evitar perecimento do direito.
Na área administrativa, o ato determina a manutenção parcial de todos os serviços, inclusive o Serviço de Saúde, o Departamento de Segurança e a Seção de Transporte, mediante rodízio dos servidores. Em todas as unidades do Regional, tanto na área administrativa quanto na judiciária, ao menos 30% (trinta por cento) dos servidores em greve comparecerão ao trabalho para a manutenção das atividades essenciais.

SERVIÇOS ESSENCIAIS.
A preocupação do soteropolitano com a greve dos servidores da Justiça propicia, inclusive, cenas inusitadas. Ontem à tarde, a equipe de reportagem flagrou um carro de funerária parado em frente ao Cartório do Registro Civil da Vitória, na Barra. Dentro do veículo, uma senhora aguardava ao lado de um caixão, o parente que havia entrado no cartório para retirar um atestado de óbito.
E quem procurou o Tabelionato do 10º Ofício de Notas, esbarrou num aviso de greve e se indignou. “Que sacanagem é essa? Eles devem fazer greve pelo menos oito vezes em um ano. Aí não dá. Assim fica difícil”, volta com os documentos sob o braço, o forrador de cadeiras Zenilton de Jesus da Silva, 39 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário