sexta-feira, 16 de julho de 2010

SUÍCIDIOS CRECEM 15% EM DEZ ANOS...

FONTE: Karina Baracho, TRIBUNA DA BAHIA.

Trinta anos de idade e uma carreira pela frente que acabaram em poucos segundos. Depois de um histórico de depressão, o funcionário público *André não aguentou a separação da esposa e se suicidou. O crime contra a própria vida aconteceu depois de um relacionamento bastante tumultuado e cheio de idas e vindas. Alguns amigos já tinham percebido a depressão e teriam até orientado André a se afastar do trabalho. Porém, assim como o tratamento, o afastamento também não aconteceu. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), estima-se que a cada hora uma pessoa se suicide no Brasil. Pesquisas apontam também que as tentativas de suicídio superam o número de efetivos atos suicidas. Conforme a associação, em 2004, 1,4% do total da carga global ocasionada por doenças foram relativas a tentativas de suicídio.
Em 2020, esse número deverá chegar aos 2,4%, acompanhando a previsão de crescimento da incidência dos transtornos mentais. Ainda segundo a ABP, no Brasil, em apenas uma década a proporção de brasileiros que se mataram cresceu em média 15%, por razões não totalmente compreendidas e poderiam ser tratadas.
Segundo a associação a maioria dos atos suicidas estão ligados a transtornos mentais. Entre os gravemente deprimidos, pelo menos 15% se matam. O consumo de álcool e drogas também pode estar relacionado, pois em quase 23% dos casos a pessoa estava alcoolizada ou sob efeito de outras substâncias.
Para mudar essa realidade a ABP iniciou a campanha “Conhecer para prevenir”, que tem como objetivo evitar o comportamento suicida. Especialistas acreditam que a situação deve ser encarada como uma questão de saúde pública e merece cuidado e atenção especial. Esquizofrenia e transtorno bipolar do humor também podem levar ao suicídio.
Conforme o psiquiatra Maurício Barbosa, casos como o do funcionário público poderiam ser evitados. “Pelo que foi contado e dito por amigos e familiares, ele já estava com todos os sintomas de depressão, mas pelo que indica o ponto culminante foi a separação conjugal. Em muitos casos a pessoa acredita que sua melhora depende de uma outra pessoa ou de alguma determinada coisa”.
De acordo com ele, é de fundamental importância que, principalmente os familiares mais chegados e os amigos, percebam os sinais do paciente e saibam orientá-lo. “É comum a pessoa não saber como agir e fica com remorso por não ter impedido o ato. Por isso é importante que o familiar procure ajuda adequada, mesmo que o paciente não queira, pois desta forma ele aprende a lidar com a situação e até a evitar situação mais complicadas”, explicou.

POPULAÇÃO PRECISA CONHECER PARA PODER PREVENIR.
Um filho de cinco anos e uma vida pela frente não foram o suficiente para que a estudante *Ana não tentasse tirar a própria vida. Um pé quebrado, escoriações por todo o corpo e a fatura do telhado da garagem e do teto de um carro foram o saldo da tentativa de suicídio. “Na hora me arrependi e tentei voltar atrás, mas não teve mais jeito”, conta. Oito anos após a tentativa Ana passou a ter duas festas de aniversário.
A do nascimento e a do renascimento”, diz ela, que afirma não mais tentar. “Na ocasião estava bastante deprimida e não queria mais viver, mas depois do susto nem a depressão me pega. Faço acompanhamento médico frequentemente e comecei a procurar coisas que me fizessem feliz”, explica.

SUICÍDIO OU HOMICÍDIO? – Sites da internet estimulam o suicídio. No Brasil o adolescente Vinicius, conhecido na internet como o codinome Yoñlu, se matou com ajuda de internautas em 2006. Pessoas desconhecidas que deram dicas e ensinaram a melhor forma de cometer o ato. As mortes foram marcadas e transmitidas na rede. Ele deixou ainda o inventário do suicídio. Documentou a morte na carta de despedida impressa em papel e no registro virtual da internet.
Somente em 2005, 91 pessoas, a maioria entre 20 e 30 anos, suicidaram-se no Japão, estimuladas por sites na internet. Apenas em um mês, março de 2006, houve três casos de suicídios coletivos combinados em fóruns virtuais no país: 13 internautas morreram. Desde 2008, 14 jovens da região de Bridgend, no sul do País de Gales, se mataram.
Alguns deles estavam ligados por um site de relacionamento que difundia uma ideia “romântica” do suicídio. O mais velho tinha 26 anos. Nos últimos seis anos, a Papyrus, entidade dedicada à prevenção do suicídio, registrou 27 mortes incentivadas pela internet apenas na Grã-Bretanha. A vítima mais jovem tinha 13 anos.

CAMPANHA – Por causa da relevância do tema, a ABP elegeu a prevenção ao suicídio como tema de atuação junto à população em 2010 com a campanha “Comportamento suicida: conhecer para prevenir”. Entre as ações, destacam-se a publicação de um manual de orientação para a população e um para imprensa com recomendações para divulgação de notícias sobre doenças mentais e atos suicidas.
“Uma das principais missões da ABP é atuar junto à sociedade para oferecer esclarecimento sobre transtornos mentais e a importância de procurar ajuda médica”, explicou o presidente da ABP, João Alberto Carvalho. “Como o próprio nome da campanha sugere, é preciso conhecer os riscos para preveni-los. Nesse caso, nosso dever é proporcionar orientação e, quanto maiores as possibilidades de divulgação, mais benefícios para a população”, concluiu João Alberto Carvalho.

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