sábado, 15 de janeiro de 2011

A LAVAGEM, O JEGUE E O SENHOR...

FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.

Li, sem surpresa, mas com deleite, o comentário escrito pelo grande amigo e competente colega Alex Ferraz, publicado ontem na Tribuna da Bahia, e intitulado “A nova revolução dos bichos”.
Como diria Karl Marx, como a História, “A Revolução dos Bichos”, criada pela imaginação do escritor-profeta George Orwell sobre o modo stalinista de governar, aconteceu pela primeira vez como realidade e agora, na versão de Alex, se repete como farsa. Mas farsa só para não contradizer Marx. Porque o relato de Alex Ferraz retrata a pura realidade.
É verdade que se trata de um relato hilário. Mas não seria, sem deixar de ser trágico e hediondo, hilário, para quem tivesse um pouco de discernimento, o modo stalinista de governar? Tão hilário – assim como tão terrível – quanto o modo hitlerista de governar.
Alex Ferraz protesta contra a terrível decisão contracultural – solicitada e adotada a pretexto de proteger os animais – que atingiu a Lavagem do Bonfim de proibirem o jegue e alguns outros animais de quatro patas (cavalos e burros sim, com inexplicável omissão sobre os cachorros e fora de questão as pessoas, que, sem o privilégio das quatro patas, têm apenas dois pés). E, reportando a revolta, que se instalou entre os bichos, contagiando outras espécies, dá conta de justas ações de protesto programadas.
É claro que houve, em relação aos jegues da Lavagem do Bonfim e animais assemelhados (burros e cavalos) uma dramática queda de status. De astros de uma festa supostamente abençoada por Deus e mundialmente conhecida, foram rebaixados a escravos.
Não podem desfilar garbosos puxando as enfeitadas carroças e aparecendo em filmes e fotografias nas televisões e jornais, mas vão puxar outras carroças, sem nenhuma graça e cheias de cana de açúcar, ou carregar cangalhas ou ainda servir de montaria sob o sol escaldante do sertão, bem pior que o da Cidade Baixa. E sem a proximidade do Senhor do Bonfim para “dar uma força”.
Afinal, quando Jesus, em sua pregação de três anos na Terra, aproximava-se do momento da cruz, ele atingiu a máxima popularidade. Aclamado pelas ruas de Jerusalém como profeta ou mesmo como o Messias, escolheu que faria o seu desfile de rei no Domingo de Ramos montado em um jumentinho que nunca antes fora montado por alguém.
Não se chamava o quadrúpede Rocinante, nem Bucéfalo, nem Incitatus, nem Pégaso. Era apenas um jegue sem nome, mas entrou para a história, o mais famoso quadrúpede da história do planeta.
Fico pensando... se isso fosse na Salvador de hoje, Jesus teria de fazer o percurso a pé. Ou em uma moto, para glória e marketing da Honda, Suzuki, Yamaha ou outra marca.

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