FONTE: Ayeska Azevedo (ayeska.azevedo@redebahia.com.br) CORREIO DA BAHIA.
Valor representa apenas o volume do endividamento no ano passado.
Rápido, fácil e sem burocracia. É com uma simples visita a qualquer dos 59 bancos conveniados ao INSS que um aposentado ou pensionista consegue contrair um empréstimo consignado - com desconto em folha. Com tanta facilidade, a obtenção de crédito é cada vez maior entre os beneficiários da Previdência Social.
Valor representa apenas o volume do endividamento no ano passado.
Rápido, fácil e sem burocracia. É com uma simples visita a qualquer dos 59 bancos conveniados ao INSS que um aposentado ou pensionista consegue contrair um empréstimo consignado - com desconto em folha. Com tanta facilidade, a obtenção de crédito é cada vez maior entre os beneficiários da Previdência Social.
Somente na Bahia, a contratação desse tipo de crédito foi superior a R$ 1,7 bilhão em 2010, o que representa 25% dos contratos de consignado no Nordeste e 6,4% no Brasil.Com taxas de juros oscilando entre 2,02% a 2,34%, a depender do banco e do período de parcelamento da dívida, muitos aposentados não pensam duas vezes quando o assunto é dinheiro fácil.
“Quando menos espero, já estou precisando de mais dinheiro, então é só ir ao banco e pedir emprestado”, relata a aposentada Dulce Martins, 67 anos, que recebe pouco mais de um salário mínimo por mês. “Já nem sei mais quanto estou devendo, só sei que tomei uns oito ou nove empréstimos de 2009 pra cá.
O último foi pra comprar uma máquina de lavar. Acho que daqui a uns quatro anos, acabo de pagar tudo”, conta. É com o dinheiro que toma emprestado em bancos diversos que o aposentado Francisco Fernando Souza, 81 anos, tenta melhorar suas condições de vida, realizando pequenas reformas na casa.
“Estou cheio de empréstimos e já renegociei mais de cinco vezes, mas agora não tenho mais margem consignável porque esses políticos não dão um aumento decente aos aposentados”, diz revoltado. Ele conta que sua esposa, também aposentada, já não tem mais margem - que é de 30% do benefício - para novos empréstimos. “O dinheiro que vem agora está dando pra comer, pagar a água e a luz e, às vezes, dá pra comprar algum remédio. Mas não dá pra pagar mais nada”, revela Souza.
PRESSIONADOS.
De acordo com a presidente da Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas da Bahia , Marise Sansão, os aposentados baianos estão com os rendimentos altamente comprometidos.
Ela denuncia que por trás do crescimento desse tipo de contratação se esconde uma realidade cruel: muitos aposentados são pressionados pelos familiares a fazer esse tipo de dívida. “Infelizmente essa é uma triste realidade.
Tem aposentado que não consegue nem comprar os próprios medicamentos, mas faz empréstimos para comprar supérfluos, normalmente para a família”, comenta. Marise observa que as facilidades oferecidas para os aposentados obterem empréstimos é um grave problema em todo o Brasil.
“Hoje, qualquer aposentado pode tomar o empréstimo que quiser, ele é seduzido para isso. Há uma propaganda maciça e muito apelo dos meios de comunicação utilizando a imagem de pessoas queridas, que mostram sua credibilidade”, pontua.
Marise Sansão destaca que o aposentado que recebe um salário mínimo tem uma capacidade de endividamento superior a R$ 4 mil, que ele pode parcelar a perder de vista. “Por isso muitos deles entram em uma roda viva”.
RECORDE.
Segundo a Previdência Social, em todo o país houve uma contratação recorde desse tipo de crédito em 2010, correspondendo a R$ 26,8 bilhões. O resultado foi 17,9% maior que em 2009.
Desse volume contratado, segundo a Previdência, no ano passado foram registradas pela Ouvidoria 33.479 reclamações relacionadas com consignado em todo o Brasil, enquanto na Bahia foram registradas 2.183 reclamações sobre esses empréstimos.
O volume de reclamações na Bahia é de apenas 0,36%, insignificante se comparado ao valor total contratado no estado.
PLANEJAR FINANÇAS É A SAÍDA.
De acordo com o consultor financeiro Lucas Leal, o aposentado só deve recorrer ao empréstimo se for mesmo inevitável. “Em situações de extrema necessidade, nunca para utilização com supérfluos. Deve usar esse dinheiro com coerência, porque ele será abatido todo mês do valor que o aposentado tem para receber”, diz.
Ele orienta que o aposentado preste atenção ao valor que será contratado, para não comprometer a renda mensal além do que pode ser suportado. “Tem que lembrar que o empréstimo vai se juntar ao pagamento de suas despesas de moradia, alimentação, saúde, que vão continuar existindo.
Então, ele precisa adaptar seu planejamento financeiro à nova realidade”, observa.
Se a dívida já existe, o consultor orienta que o aposentado faça um planejamento financeiro. “Basta colocar no papel os gastos mensais e, se houver necessidade, cortar os supérfluos”, aconselha.
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