quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

NINGUÉM ESTÁ LIVRE DA INFLUÊNCIA INCONSCIENTE NAS DECISÕES...


FONTE: HÉLIO SCHWARTSMAN, ARTICULISTA DA FOLHA (www1.folha.uol.com.br).
Médicos, a exemplo de juízes e do pessoal do TCU, gostam de defender-se de insinuações de conflito de interesses apelando para a razão.
Com efeito, nenhum profissional de saúde em seu juízo perfeito receitaria uma droga sabidamente pior só porque recebeu um brinde do laboratório que a fabrica.
Ainda que os médicos desprezassem solenemente seus clientes, não teriam nenhum interesse em arriscar suas reputações por um badulaque.
Ocorre que médicos, como juízes e o pessoal do TCU, são seres humanos. E seres humanos, como demonstrou o neurologista António Damásio, são incapazes até de pensar sem mobilizar emoções e outras manifestações do cérebro primitivo, as quais influenciam sutilmente decisões que julgamos racionais.
Tal fenômeno ocorre pelas mais insuspeitas vias. Uma das formas pelas quais seres humanos entram em sincronia é através de discretas imitações de linguagem e expressões faciais.
Um experimento de 2003 de Rick van Baaren mostrou que garçonetes que reproduzem palavras e trejeitos de fregueses obtêm mais gorjetas.
Médicos, é claro, não são uma exceção. Uma metanálise clássica publicada em 2000 no "Jama" concluiu que a distribuição de brindes, amostras grátis, refeições e subvenções para viagens têm indiscutível efeito.
Pagar uma viagem para um profissional aumenta entre 4,5 e 10 vezes a chance de ele receitar as drogas produzidas pela patrocinadora. Efeitos semelhantes foram medidos para cada uma das interações mais comuns entre médicos e indústria.
Esse marketing ativo é tão eficiente que se estima que as farmacêuticas a ele dediquem até 30% de seus orçamentos.
Esse e outros efeitos dos processos inconscientes sobre a mente racional são tantos e tão poderosos que parte dos neurocientistas hoje sustenta que o livre arbítrio não passa de uma ilusão.

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