sexta-feira, 13 de maio de 2011

FALTA DE ÉTICA NA SAÚDE E NA DOENÇA...

FONTE: Catiane Magalhães, TRIBUNA DA BAHIA.


Médicos credenciados às operadoras de planos de saúde estão proibidos de cobrarem dos pacientes taxas e valores adicionais por consultas ou qualquer procedimento realizado pelo convênio. A prática, além de antiética, é também inconstitucional, porém corriqueira no interior dos consultórios de todo o país.


Salvador, com seu histórico de absurdos precedentes, não poderia ficar de fora da cobrança ilegal. Alguns profissionais locais adotam essa medida há muito tempo. A defasagem no reajuste dos repasses dos valores dos planos de saúde à categoria é a principal causa apontada pelos que recorrem a esse tipo de expediente.


Segundo informações, os médicos recebem das operadoras cerca de R$ 25 a R$ 40 por consulta realizada, valor muito aquém da tabela particular, que varia de R$ 100 a R$ 300, a depender da especialidade.


No entanto, o argumento não convence os usuários que acabam pagando duas vezes. “Se na hora de se conveniar eles aceitam o valor proposto pela operadora, por que depois querem tirar a diferença do paciente?”, questionou a auxiliar de escritório Amanda Baptista.


“É melhor não se credenciar e atender apenas particular, assim, vai quem quer”, completou.


Ela conta que há anos faz acompanhamento com um ortopedista, especialista em membros superiores, para pegar relatórios que compõem o seu processo de afastamento pelo INSS, devido à doença ocupacional.


Antes, todas as consultas e exames eram cobertas pelo plano, mas agora ela precisa desembolsar R$ 120 a cada visita ao médico, que continua credenciado ao plano, mas se recusa a atender pelo valor repassado.


“É uma situação constrangedora, pois pago caro por um convênio tido como um dos melhores do país, mas sempre que preciso passar pelo médico que acompanha meu caso gasto ainda mais.


Quando peço reembolso, a operadora nunca devolve o valor integral”, desabafa, preferindo preservar os nomes do profissional e do plano de saúde.


Situação pior viveu a funcionária pública Adelice Moura, usuária do Planserv, ao descobrir que um problema na tireoide havia deslocado a sua veia jugular.


Ao procurar o médico, com um visível edema no pescoço, o especialista havia orientado a trocar a categoria do plano, de enfermaria para apartamento, alegando se tratar de uma cirurgia delicada e que requer cuidados.


Depois de fazer a mudança de categoria, realizar todos os exames pré-operatórios e conseguir a autorização do Planserv, Adelice foi surpreendida com outra notícia: o médico teria dito que os especialistas em cabeça e pescoço estariam fazendo um boicote à operadora, devido os baixos valores repassados, e deflagraram uma espécie de ‘greve’ durante todo o mês de maio.


“Ele disse que cirurgia era urgente e que eu não poderia esperar até junho. Disse que me internaria pelo plano, mas eu deveria pagar R$ 3 mil referente aos honorários dele. Desistir da operação porque não tinha o dinheiro”, disse, preocupada com a saúde.


“Cadê a ética profissional? E o juramento que ele fez? O dinheiro vale mais que uma vida?”, indagou. A assessoria do Planserv negou que estivesse acontecendo a greve em qualquer setor ou especialidade entre os profissionais credenciados.


Ao todo, mais de 40 milhões de brasileiros têm plano de saúde. Pelo menos, metade já foi vítima de cobrança ilegal. Diante das denúncias, a Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, adotou uma série de medidas para combater a prática.


Na Bahia, nenhuma medida foi adotada para coibir a prática. Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) informou que, por ser vinculado ao Conselho Federal de Medicina (CFM), aguarda o resultado das medidas adotado pelo órgão majoritário sobre a atuação do movimento médico pelo reajuste dos honorários pagos pelas operadoras de planos de saúde e pelo fim da interferência das empresas na autonomia dos profissionais.

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