quarta-feira, 18 de maio de 2011

O VELHO PALHAÇO...

FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.

Sempre tive uma vocação imensa para palhaço. Acho que faltou incentivo maior. Mesmo assim, ando fazendo minhas macaquices, pagando mico e me espalhando quando posso. Sou do tipo que se não tem nada para rir, invento. Sou o primeiro – e não poucas vezes – a rir das minhas próprias piadas; isso quando não sou o único a rir delas. Por sorte não espero que me levem a sério, pois a pior coisa possível neste mundo de hipocrisia é alguém se levar a sério. Acho tragicômico ver Lula se levar a sério.


O mesmo acontecendo com José Dirceu, Jucá, Maluf, técnicos de futebol ou de vôlei, e notadamente Sarney ou o Edir Macedo, sem falar numa trupe imensa de modelos-manequins-atrizes, tocador de axé e pagode, autoridades ou donos de posto de gasolina. O Brasil não pode ser levado a sério. Lembrei do tema circense por ter sentido falta do Fantástico, do Rede Bahia Revista, da TV-E, do New York Times, do Le Monde, Pravda, Veja e até do National Geographic ou Jô Soares e David Letterman.


Onde estavam todos? Não apareceram para fazer uma boa reportagem com o mais velho palhaço do Brasil, quiçá do mundo, Seu Mizito, lá da Boa Viagem, que acaba de completar 96 anos de idade e já nasceu fazendo suas pieguices – dizem que já dava piruetas dentro da barriga da mãe e fingia estar num musical, atuando como se fosse um aluno de Esther Williams, em pleno líquido amniótico.


Seu Mizito está firme e forte e sempre viveu e vive do belo e invejável ofício de ser palhaço. Um profissional da estirpe de um Arrelia, Carequinha, Bozo, Carlito (Chaplin), o italiano Colombaioni, o argentino Chicarrão, o espanhol Rivel e os Três Patetas, dentre outros. Seu Mizito já era velho quando eu era menino, pois antigamente alguém com mais de 40 anos era idoso demais.


Cresci vendo sua dedicação para não deixar morrer tradições como a Quadrilha Junina, a reza de Santo Antonio, o Terno de Reis, o desfile de 7 de setembro, os blocos de Carnaval e tudo o que fosse histórico ou tivesse apelo popular. Sua roupa de palhaço (que vem de palha) era da maior tradição.


Sua boca branca (palhaço sempre está bêbado e a espuma da cerveja marca ao redor dos lábios) abria longo sorriso, maior que a face. Seu nariz vermelho (pois reza a tradição que o palhaço sempre cai de cara no chão, por causa da bebedeira) estava sempre soltando.


Sua gravata longa o fazia tropeçar, não sei se intencionalmente ou por acidente, nos grande, imensos sapatos. Mas ele sempre fez seu papel de mostrar a vida com todo seu maneirismo. Eu adolescente, pirracento, e minha turma da Boa Viagem, Imperatriz e Mont Serrat inventamos que Seu Mizito era “o palhaço que fazia criança chorar”. Só porque certa vez ele pegou um nenê no colo e não houve quem fizesse a criança calar. Injustiça.


Não é que Seu Mizito, depois de tantos anos, me surge do nada, como Fênix saindo do circo que pegou fogo. Semana passada teve festa para ele. Quem lá esteve me garante em êxtase que foi uma mistura de alegria e enternecimento.


Uma emoção. Desta vez Seu Mizito fez todo mundo chorar. A gente sabia (hahahaha - não resisto a fazer uma palhaçada). Vida longa para Seu Mizito. O palhaço que resiste ao tempo. Todo palhaço merece ser eterno.


Ser palhaço é um dom na vida.

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