segunda-feira, 9 de maio de 2011

PRESÍDIOS VIRAM ESCOLAS DO CRIME...

FONTE: Silvana Blesa, TRIBUNA DA BAHIA.


Barril de pólvora. Está é a definição utilizada por internos do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário de Mata Escura. Lá, segundo eles, quem entra, começa a passar pelo curso do ensino fundamental, médio, até chegar à graduação em mestres e doutores nos crimes organizados. As normas e leis de toda essa violência que ocorre em Salvador e interior da Bahia, segundo presidiários, são determinadas pelos doutores do crime.


O preso primário não tem escolha quando cai no sistema prisional. Ou ele coopera com as facções, trabalhando para sustentar a rede criminosa, ou será eliminado pelos seus algozes. “É uma faca de dois gumes, ou vira criminoso o resto da vida e de dentro do presídio será protegido se trabalhar para o crime ou será morto assim que deixar à penitenciária.


O presídio se tornou um verdadeiro corredor da morte”, disse um interno, que preferiu o anonimato.A equipe de reportagem desta Tribuna constatou que a maioria das mortes que vem acontecendo em Salvador está direita ou indiretamente ligada ao tráfico de drogas, e o que a reportagem pôde averiguar que o submundo delituoso vai muito mais além do que se imagina.


A maioria dos crimes em todo estado são oriundos dos conflitos existentes entre facções e grupos estabelecidos nos presídios, mesmo porque, segundo os próprios presos, a facilidade para cooptação de membros para fazerem parte de suas gangues nos presídios é muito grande.


Um preso por tráfico de drogas que convive com este dilema e que por medida de precaução não quis se identificar, disse com exclusividade como é a recepção no presídio e que o crime de maior reprovação dentro do sistema é o crime de estupro.


“Assim que entra no presídio, de imediato o estuprador tem que procurar um “padrinho” para se esconder de uma possível agressão. Com isso, ele torna uma pessoa fácil para manipulação e ser programado para atender qualquer pedido”. Ainda segundo ele, às vezes o interno primário se sujeita a esses caprichos por drogas, um local para dormir mais aconchegado ou até mesmo e até por um prato de comida.


Ainda segundo denúncias dos internos, muitos deles chegam a pagar até R$ 2 mil para serem protegidos. E quem não tem dinheiro, paga com trabalhos criminosos.

Mortes programadas – Outro fator que se tornou uma realidade cruel e intrigante para investigação policial são as mortes programadas de dentro da prisão, principalmente os presos que estão no regime semi-aberto, (aqueles que saem durante o dia e retornam a noite), que acabam se tornando presas fáceis para seus inimigos.


“O preso ganha o direito permitido pela justiça de estar no regime semi-aberto, mas o pior é que o detento se encontra totalmente indefeso, já que sai da cadeia sem nenhum tipo de instrumento capaz de protegê-lo de uma possível agressão.


A situação é bem diferente dos inimigos que, como serpentes na espreita, aguardando o momento do bote, desafiando toda e qualquer circunstância da lei, já que se encontram dentro do sistema, protegido digamos assim, só passando as ordens para os pistoleiros que agem fora do presídio”, denunciou o preso.


A realidade vivida pelos detentos do presídio é bem diferente da que a sociedade espera. A expectativa é que os presos paguem pelos crimes que cometeram e que saiam prontos para uma nova vida, que tanham oportunidades e se regenerem. Mas, não é isso que acontece.

ADVOGADOS FARIAM PARTE DO ESQUEMA CRIMINOSO.
Segundo o entrevistado, o terror maior que rola dentro do sistema é quando um determinado membro de uma facção rival contabiliza os dias da saída de seu inimigo. E o pior ainda, é que os próprios advogados dos presos fazem parte da rede criminosa e são eles que passam as informações sobre as saídas dos internos.


“Os advogados ganham muito bem para obter informações sobre as datas, hora e dia que seus rivais irão sair. É uma organização criminosa que diria se tratar de um verdadeiro 'poder camuflado', muito maior do que a polícia imagina. Lá dentro existe o assassino a preço fixo, como nos filmes de Hollywood, outros por encomenda e o pior de todos, o assassinato à distância.


Neste último, a facção chega até os opositores e imprime a ideia dele ser morto na saída do presídio ou determina que ele seja executado há um quilômetro da cadeia", disse."Como aconteceu no início do mês passado, quando um detento foi eliminado nas proximidades do presídio. Outro detento foi assassinado na BR-324.


Ou trabalha para as facções dentro e fora do presídio, ou serão eliminados. Os casos estão cada vez mais comuns e a polícia nada faz”, acrescentou o presidiário, que não quis falar quanto as facções pagam para matar um inimigo.


Por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, a delegada titular do Departamento de Homicídio (DH), Francineide Moura, revelou que as mortes dos presidiários estão sendo investigadas, mas que ainda não existe nenhuma evidência de que foram assassinados a mando de internos dentro do presídio.


A delegada reforçou que o departamento não computou, devido a mudança dos Barris para a sede na Pituba, quantos detentos foram assassinados ao deixar o sistema penal. A mulher de um preso também confidenciou a equipe de reportagem o que, segundo ela, sente na pele.


"Este crime desorganizado da Bahia, onde a pilantragem criminosa só sabe tirar vidas das mulheres, dos filhos, das mães, em geral, dos companheiros de cárcere. Por isso que a Bahia está entre os estados mais violentos. Tudo isso, pela política de tirar vidas dos inocentes”, disse a mulher de um detento que está ameaçado de morte dentro do presídio.


A Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos da Bahia foi procurada pela equipe de reportagem, mas, por meio da assessoria de comunicação informou que, por conta da mudança de secretário - o novo titular, Nestor Duarte, que entrou no lugar de Almiro Sena e foi empossado na última sexta-feira, não teria condições de se posicionar sobre o assunto.

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