quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA EM ESTADOS AMERICANOS PREOCUPA PROFISSIONAIS DE SAÚDE...


FONTE: Roni Caryn Rabin, The New York Times (noticias.uol.com.br).


   Nos anos 1960, a maconha era o símbolo da contracultura, juntamente com o amor livre, calças boca de sino, cabelo comprido e bandanas. Contudo, a maconha foi a única que sobreviveu ao teste do tempo.

Recentemente, o uso da maconha para fins de recreação tornou-se legal (dependendo da definição) nos Estados do Colorado e de Washington. Mais de uma dúzia de Estados descriminalizaram a posse de pequenas quantidades e Massachusetts recentemente se tornou o 18º Estado a permitir seu uso para fins medicinais.

Embora a lei federal americana ainda proíba a venda e a posse de maconha, o presidente Barack Obama afirmou que o governo federal tem "peixes maiores para pescar" e não irá processar usuários em Estados onde o uso é legalizado.

A ascensão da maconha como passatempo adulto é uma vitória para todos aqueles que consideram exagerados os seus perigos. Defensores da legalização argumentam que o uso de maconha é muito mais seguro que o de álcool, destacando que é praticamente impossível ter uma overdose de maconha.

Embora a maconha possa viciar, cientistas geralmente concordam que menos de 10% dos fumantes de maconha se tornam dependentes da droga, comparados com 15% dos usuários de álcool, 23% de heroína e 32% de tabaco. A maconha contém substâncias cancerígenas, incluindo alcatrão e outras toxinas similares às encontradas no tabaco, mas as pessoas geralmente não fumam maconha na mesma proporção que cigarros.

Contudo, a legalização ainda deixa os usuários em um território incerto. Muito embora a maconha seja a droga ilegal mais utilizada nos Estados Unidos, ainda não se sabe ao certo quais são seus efeitos para a saúde do usuário.

Mais potente.

Para começar, esse não é o mesmo baseado da época de seus pais. A maconha de hoje em dia é muito mais potente: a concentração de THC, o ingrediente psicoativo da droga, na cannabis confiscada mais que dobrou entre 1993 e 2008.

O aumento da potência causa consequências inesperadas. Os receptores de canabinoides do cérebro humano geralmente são ativados por elementos químicos naturalmente produzidos pelo corpo, conhecidos como endocanabinoides e muito similares ao THC. Há uma grande quantidade de receptores de canabinoides em áreas do cérebro que afetam o prazer, a memória e a concentração. Algumas pesquisas sugerem que essas áreas continuam a ser afetadas pelo uso da maconha, mesmo depois que o "barato" acaba.

"É uma maconha muito mais potente, o que pode explicar porque vemos um aumento drástico de pessoas em prontos-socorros e programas de tratamento para usuários da droga", afirma Nora D. Volkow, diretora do Instituto Nacional do Abuso de Drogas.

Pessoas favoráveis à legalização da maconha afirmam que o aumento da potência está sendo exagerado e que quando usuários têm baseados mais potentes, acabam fumando menos.

Contudo, adolescentes podem ser mais vulneráveis ao vício e pessoas que começam a fumar mais jovens correm riscos maiores. Cerca de um em cada seis acabará viciado, afirma Volkow. Jovens adultos que começam a fumar maconha muito novos também tendem a fumar muito mais e com maior frequência que aqueles que começam no fim da adolescência.

Entre usuários que desenvolvem dependência ou vício, a falta da droga causa severos sintomas de abstinência, como ansiedade, problemas para dormir, falta de apetite, alterações de humor, irritabilidade e depressão, afirmam especialistas.

Tanto Colorado quanto Washington limitaram o uso de maconha para adultos com mais de 21 anos quando legalizaram o uso para fins recreativos, em novembro. Contudo, especialistas temem que as opiniões em relação à maconha estejam mudando porque seu estigma como droga ilegal praticamente não existe mais.

"Quando as pessoas vão a uma 'clínica' ou 'café' para comprar maconha, isso cria a percepção de que aquilo é seguro", diz A. Eden Evins, diretor do Centro de Medicina da Dependência do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston. "Antes de liberarmos as forças do mercado para convencerem as pessoas a usar essa substância viciante, precisamos entender melhor quais são os riscos."

"Assim que houver interesses financeiros envolvidos, vai ser difícil reverter essa tendência", acrescenta.

Funções cerebrais.

Os estudos mais assustadores sobre o uso de maconha no início da adolescência mostram que jovens adultos que começam a fumar maconha regularmente antes dos 16 obtêm notas significativamente menores em testes cognitivos de função cerebral, quando comparados com jovens que começaram no fim da adolescência. Os resultados foram especialmente ruins em testes que avaliam a função executiva, responsável pelo planejamento e pensamento abstrato, bem como pela compreensão de regras e inibição de reações inapropriadas.

Além disso, exames revelaram diferenças sensíveis no funcionamento do cérebro, afirmou Staci Gruber, principal autora desses estudos e diretora de neuroimagiologia clínica e cognitiva no Hospital McLean, em Boston. Exames revelam alterações no córtex frontal cerebral entre usuários que começaram cedo, afirmou Gruber, o que pode estar ligado à impulsividade.

"O córtex frontal é a última parte do cérebro a entrar em ação e a mais importante", afirma Gruber. "A exposição precoce pode mudar a trajetória do desenvolvimento cerebral, comprometendo a capacidade de realizar tarefas complexas da função executiva."

O mais preocupante é um estudo recente mostra uma queda no Q.I. de adolescentes que fumam maconha, afirmou Evins. Estudos mais recentes revelam que pessoas que começaram a fumar maconha na adolescência e continuaram a consumir frequentemente a droga nas décadas seguintes perderam pontos no Q.I. ao longo do tempo, ao passo que pessoas que começaram na idade adulta não tiveram os mesmo problemas, embora críticos afirmem que as diferenças não sejam significativas. Estudos mais antigos indicam que fumantes regulares tinham menos chances de se formarem na faculdade e seguirem carreira acadêmica, mas é impossível dizer o que vem antes, dificuldade na escola ou uso de drogas.

"Se pais que gastam milhares de dólares em cursos preparatórios para o vestibular soubessem dos efeitos cognitivos da maconha no cérebro de seus filhos, formariam uma frente de batalha", afirmou Evins.

Outros problemas de saúde ligados à maconha não são tão bem documentados, mas podem ser igualmente significativos. Os estados que legalizaram a maconha proibiram dirigir depois de fumar e estudos descobriram que o consumo de maconha piora a capacidade de se manter na pista e de reagir a perigos no trânsito.

Embora a maconha não seja tão prejudicial ao pulmão quanto o tabaco, em parte porque as pessoas não fumam um maço de baseados por dia, o hábito regular pode causar danos aos pulmões.

No melhor dos casos, os novos estudos sugerem que os pais que se lembram das próprias noitadas de fumo devam sugerir mais moderação aos filhos. E os adolescentes que ainda quiserem experimentar maconha terão melhores resultados se esperarem até ficarem mais velhos.

"É a mesma mensagem com o álcool", afirma Gruber. "Aguente um pouco, vale a pena esperar."

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