FONTE: Folhapress, CORREIO DA BAHIA.
Se
a PEC for aprovada sem mudanças, as votações secretas serão extintas no Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras municipais
e distrital.
O Senado
aprovou ontem, em primeiro turno, o fim do voto secreto no Legislativo. A
decisão não é definitiva porque senadores favoráveis ao fim do sigilo somente
nos casos de cassação de mandatos de congressistas vão tentar modificar a
proposta até a votação em segundo turno --marcada para a semana que vem. A
abertura total dos votos teve apoio de 54 senadores. Dez votaram contra e um se
absteve.
Com o apoio do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), senadores vão apresentar no
segundo turno pedidos para fatiar a votação da PEC (proposta de emenda
constitucional) do voto secreto. Isso permite analisar separadamente o fim dos
três tipos de voto secreto em vigor no Legislativo: nas cassações, na análise
de vetos presidenciais e autoridades indicadas pelo Executivo. A manobra
permitiria aprovar o fim do sigilo nas cassações, mas mantê-lo nos outros dois
casos previstos pela Constituição --como defende parte do PMDB, liderados por
Renan.
A estratégia do
fatiamento foi usada na votação do primeiro turno da proposta, mas acabou
derrotada pela maioria dos senadores. Numa vitória do grupo que defende a
abertura total dos votos no Congresso, Renan foi obrigado a adiar a votação do
segundo turno para a semana que vem --embora sua intenção fosse concluir toda a
votação na noite de hoje. O grupo esvaziou a sessão. Apenas 27 senadores
permaneceram, o que forçou o adiamento, pois a votação de PEC exige a presença
de 49 senadores no plenário.
Se a PEC for
aprovada sem mudanças, as votações secretas serão extintas no Congresso,
Assembleias Legislativas e Câmaras municipais e distrital. A mudança também
atinge a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, que atualmente ocorre
de forma sigilosa. Caso o Senado aprove o fim do voto secreto apenas nas
cassações, as demais votações que ocorrem de forma sigilosa serão mantidas.
A Câmara
aprovou há dois meses o fim do sigilo em todas as votações do Legislativo
depois de absolver em votação secreta o deputado Natan Donadon (sem
partido-RO), preso e condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Com o
desgaste da decisão à instituição, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), prometeu não votar mais nenhum pedido de cassação em votação sigilosa.
A manobra para
acabar com o voto secreto apenas nas cassações foi articulada por Renan com o
apoio de parte do PMDB. Renan argumenta que o fatiamento da PEC é possível
porque as duas Casas já aprovaram o fim do sigilo nas cassações --e o STF já se
manifestou em favor da votação separada de matérias do Congresso. O fim do voto
secreto no Legislativo tramita há mais de dez anos no Congresso. Renan tinha
prometido votar a PEC depois dos protestos das ruas em junho, mas a votação só
ocorreu de fato depois que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), acusou o Senado de fazer “jogo de empurra” para a aprovação da
proposta.
Renan reagiu,
pautou a votação e disse que não vai repetir no Senado os “erros” cometidos
pelo presidente da Câmara --em referência a outra proposta que acaba com o voto
secreto apenas nas cassações, já aprovada no Senado, mas que espera pela
análise dos deputados. Defesa Em mais de cinco horas de discussões, senadores
favoráveis à abertura parcial dos votos argumentaram que o Congresso precisa
ter autonomia, com o voto secreto, para analisar vetos presidenciais. No caso
das autoridades, afirmam que a votação aberta pode provocar futuras retaliações
daqueles que forem rejeitados pelo Senado.
A posição tem o
apoio de tucanos, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável candidato à
Presidência em 2014 --que defende voto aberto nas cassações e análise de
autoridades. “Em relação aos vetos presidenciais, o voto secreto é uma defesa
do parlamento e da consciência do parlamentar contra pressões e manipulações do
governo do poder central”, afirmou o senador. Mais de 40 senadores discursaram
com críticas e defesas à PEC. Barrado pela Lei da Ficha Limpa em 2010 e
condenado pela Justiça a devolver R$ 2,2 milhões por apropriação de verbas
públicas, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) subiu à tribuna para defender o
sigilo em todas as votações do Congresso.
“Como o Papa é
escolhido? Por voto aberto ou voto secreto? Secreto. E os cardeais que tem
influência divina. Quando termina, ainda fazem a incineração dos votos.” Em
defesa da abertura total, senadores afirmam que a medida vai dar transparência
a todas as ações do Legislativo. “Votamos a Lei de Acesso à Informação,
permitindo que conheçamos tudo que foi praticado, mas esta mesma Casa não pode
aprovar uma lei para que a sociedade conheça tudo que esta Casa pratica?”,
questionou o senador Walter Pinheiro (PT-BA).
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