FONTE: Jean-Louis Santini, em Washington (noticias.uol.com.br).
A dislexia, uma
dificuldade para ler e compreender o idioma, seria resultado de uma má
conectividade entre duas regiões do cérebro, revelou na quinta-feira (5) uma
pesquisa que lança nova luz à origem desse transtorno neurológico que afeta 10%
da população mundial.
Durante várias
décadas, neurologistas e psicólogos atribuíram este problema de aprendizagem a
uma representação mental defeituosa das palavras, inclusive fonemas, elementos
sonoros característicos da língua, disse Bart Boets, autor principal do estudo
publicado na revista americana Science.
Para confirmar esta
hipótese, os cientistas examinaram com uma ressonância magnética (RM) 45
estudantes de 19 a 32 anos, 23 dos quais eram severamente disléxicos, para
obter imagens tridimensionais do seu cérebro quando escutavam diferentes séries
de sons.
"Assim foi
possível obter um bom registro neuronal de representações fonéticas" dos
sons escutados, explicou Boets, um psicólogo da Universidade Católia de
Lovaine, na Bélgica.
Os participantes, de
língua flamenga e todos destros, escutaram uma série de sons diferentes como
"ba-ba-ba-ba" e deviam identificar o que era diferente, um exercício
que, segundo os cientistas, requer uma boa representação mental dos diferentes
fonemas.
Os cientistas
descobriram que as respostas do grupo de disléxicos e a intensidade de suas
reações neuronais foram similares aos do grupo de controle.
"Suas
representações fonéticas mentais estavam perfeitamente intactas", disse
Boets.
Mas os participantes
disléxicos foram aproximadamente 50% mais lentos para responder, segundo os
cientistas.
Acesso
defeituoso.
Quando analisaram a
atividade geral do cérebro, os autores do estudo descobriram que os disléxicos
tinham uma coordenação menor entre treze regiões do cérebro que têm a ver com
os sons básicos e a Área de Broca, uma das principais responsáveis ao
processamento da linguagem.
Outras análises
revelaram que quanto mais frágil a coordenação entre estas duas regiões
cerebrais, mais lenta a resposta dos participantes.
Isto demonstra que a
causa da dislexia não é uma má representação mental dos fonemas, mas um acesso
defeituoso destes sons na região do cérebro que processa o som, concluíram os
autores.
Para Frank Ramus, um
cientista especialista neste tema na École Normale Supérieure de Paris, que não
participou deste estudo, "esta é a pesquisa mais conclusiva em cinco
anos" sobre a dislexia.
"Se estes
resultados se confirmarem vão mudar completamente nossa compreensão da
dislexia", disse em um artigo à parte, publicado na Science.
Céticos.
No entanto, outros
especialistas se mostram mais céticos.
Michael Merzenich,
neurologista da Universidade da Califórnia em San Francisco (oeste dos EUA),
disse não estar convencido de que a atividade neuronal medida no estudo seja
representativa dos diferentes fonemas ouvidos.
Para Iris Berent,
linguista da Universidade Northeastern em Illinois (norte dos EUA), também
citada em um artigo da revista Science, as diferenças nos sons usados
neste estudo foram muito óbvias.
Um método mais
preciso seria provar contrastes mais sutis entre os sons ambíguos com os quais
os disléxicos têm a maior dificuldade, disse, em desacordo com Boets e Ramus.
Mas, segundo Ramus,
"a RM teria mostrado se os disléxicos tinham uma representação
defeituosa" dos fonemas escutados, inclusive se não tivesse diferenças
mais sutis entre eles.
Boets já vislumbra um
novo tratamento potencial para restaurar a conectividade normal entre as duas
regiões do cérebro, que são aparentemente a causa da dislexia.
"Não é
inconcebível usar algum tipo de estimulação elétrica não invasiva do cérebro
para restaurar a comunicação entre estas duas regiões do cérebro", disse o
pesquisador.
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