FONTE: CLÁUDIA COLLUCCI, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
Os problemas de acesso e
cuidados especializados no SUS têm mais a ver com desorganização e ineficiência
do que com falta de dinheiro.
Essa é uma das conclusões do
Banco Mundial em relatório obtido com exclusividade pela Folha que
analisa 20 anos do SUS e traça seus desafios.
O próprio governo reconhece a
desorganização, mas aponta avanços nos últimos anos.
O subfinanciamento é sempre
citado por especialistas, gestores e governos como uma das principais causas
para as deficiências do SUS.
E o Banco Mundial reforça
isso: mais da metade dos gastos com saúde no país se concentra no setor
privado, e o gasto público (3,8% do PIB) está abaixo da média de países em
desenvolvimento.
Mas o relatório afirma que é
possível fazer mais e melhor com o mesmo orçamento.
"Diversas experiências
têm demonstrado que o aumento de recursos investidos na saúde, sem que se
observe a racionalização de seu uso, pode não gerar impacto significativo na
saúde da população", diz Magnus Lindelow, líder de desenvolvimento humano
do banco no Brasil.
Um exemplo citado no
relatório é a baixa eficiência da rede hospitalar. Estudos mostram que os
hospitais poderiam ter uma produção três vezes superior à atual, com o mesmo
nível de insumos.
Mais da metade dos hospitais
brasileiros (65%) são pequenas unidades, com menos de 50 leitos -a literatura
internacional aponta que, para ser eficiente, é preciso ter acima de cem
leitos.
Nessas instituições, leitos e
salas cirúrgicas estão subutilizados. A taxa média de ocupação é de 45%; a média
internacional é de 70% a 75%.
As salas de cirurgias estão
desocupadas em 85% do tempo. Ao mesmo tempo, os poucos grandes hospitais de
referência estão superlotados.
"No Brasil, sempre houve
grande pressão para não se fechar os hospitais pequenos, o que não ocorre no
exterior. O problema não é só ineficiência, mas a falta de segurança desses
locais", diz a médica Ana Maria Malik, do núcleo de saúde da FGV.
Mas a questão hospitalar é só
um ponto. Grande parte dos pacientes que vão a emergências hospitalares é de
baixo risco e poderia ser atendida em unidades básicas.
Dois estudos citados pelo
Banco Mundial estimam que em 30% das internações os pacientes poderiam ter sido
atendidos em ambulatórios.
"O Brasil tem alto
índice de internações por causas sensíveis à atenção primária, que poderia ser
minimizado com melhor organização do fluxo assistencial, gerando, assim, uma
menor pressão na rede hospitalar", diz Lindelow.
Cuidado adequado para
hipertensos e diabéticos, rastreamento de câncer de colo de útero e mama, por
exemplo, são ações que podem reduzir parte dessas internações e da mortalidade
precoce.
Para o médico Milton Arruda
Martins, professor da USP, uma razão para a baixa eficiência na atenção básica
é o grande número de pacientes por equipe de saúde da família. "É do dobro
do que se preconiza. Se cada equipe tivesse um número menor de pessoas para
atender, a capacidade resolutiva seria maior."
Segundo Lindelow, a atenção
especializada é outro desafio que não se restringe a equipamentos e insumos.
"É essencial investir em capacitação, criação de protocolos e regulação de
demanda que permita o acesso a especialistas, exames e cirurgias."
Na opinião de Milton Martins,
a rede secundária também é insuficiente. "Pequenas cirurgias, como
catarata e hérnia, podem ser feitas fora de hospitais, em ambulatórios, mas não
há especialistas nem estrutura para isso."
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