FONTE: Valéria Ibalo, TRIBUNA DA BAHIA.
Qualquer assunto que aborde crianças e
adolescentes é sempre delicado, deve-se ter bastante cuidado com as palavras,
já que não se pode expor uma criatura ainda em formação. Isso é o correto, é o
que se prega na sociedade, mas não é o que ocorre dentro do lar de muitos
menores.
A titular da Delegacia Especializada de
Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente – DERCA, delegada Ana
Cricia Macêdo comentou que as pessoas têm que ter a certeza de que qualquer
crime cometido é investigado e que a punição ocorre. “Gostaria de frisar que a
punição existe e é real. Não tem isso de ficar impune não”, alertou.
Ana Cricia, que está a 11 anos na Derca, disse
ainda que os maiores índices de lesões corporais, maus-tratos, violência
psicológica e violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem dentro de
casa, seja praticado pelo pai ou pela mãe. “Em muitos casos, familiares,
vizinhos e os próprios cuidadores são os que praticam abusos ou agressões. É
impressionante como o local que deveria ser o mais seguro para os pequenos, se
torna o mais temível”.
De acordo com dados da SDH (Secretaria de
Direitos Humanos), cerca de 70% dos casos de violência contra crianças e
adolescentes no Brasil acontece em residências, seja da vítima ou do agressor.
No ano de 2013, pais e mães foram os principais acusados, das 170 mil
denúncias, cerca de 53% do total, foram contra eles.
Em Salvador, os dados de 2014 ainda não foram
fechados, mas dão conta que menores entre três e 14 anos são os que mais sofrem
com todo o tipo de abuso, sendo que a porcentagem de meninos aumenta com
relação a lesões corporais e maus-tratos e o de menina supera, quando se fala
em abuso sexual. A delegada da Derca diz que muitas vezes a tentativa de educar
de forma excessiva ultrapassa os limites do bom senso. Fatores sociais e a
cultura do ensinar batendo também pesam.
“Muitas crianças crescem adultos revoltados
ou agressivos. Isso se deve ao tratamento que tiveram na infância. As
consequências são para o resto da vida, por isso peço aos pais: moderem no
castigo de seus filhos e fiquem alerta ao comportamento deles. Muitas vezes é
possível prevenir uma situação ruim, só com atenção”, comentou Ana Cricia.
Delegacia especializada
apoia criança e adolescente.
A Delegacia Especializada de Repressão a
Crimes contra a Criança e o Adolescente – DERCA, atende menores de 18 anos,
seja em situação de maus- tratos, lesões corporais, ou violência sexual, como estupro,
pornografia infantil na internet, dentre outros.
A delegacia é a principal porta para se
responsabilizar a pessoa que pratica qualquer ato irregular contra uma criança
ou adolescente. Assim que a delegacia toma conhecimento de algum fato, seja pela
mãe ou pelo pai da criança ou através de denúncia, prepara um inquérito
policial, ouve a vítima, as testemunhas e depois o (a) acusado (a). “Muitas
vezes a criança chega receosa, com vergonha, aí pergunto se prefere ficar
sozinha e em muitos casos elas preferem”, comentou a titular da Derca,
lembrando que a abordagem tem que ser de forma a deixar o menor tranquilo e a
vontade.
“É uma investigação difícil, pois o
acusado(a) geralmente nega e em algumas situações a vitima é obrigada a
retroceder, por imposição do gestor da casa ou da família. Sem falar na
reincidência, que é bastante grande. Às vezes quem pratica determinado ato com
alguém, repete com outros também”, relevou, acrescentando que no caso de
violência sexual a pena varia de 8 a 15 anos de reclusão e que a tentativa de
desistência existe, mas não é possível. “É uma conduta que não depende da
vontade familiar, depois da denúncia, vamos até o final e encaminhamos para a
Justiça, pois tem que existir a punição”.
Um inquérito pode durar cerca de 30 dias,
mas esse tempo não é uma regra, já que as vezes as testemunhas não são
encontradas, outras vezes a vítima troca de endereço, ou o acusado falta às
audiências. Independente do tempo que dure, assim que termina na delegacia, que
conta com o apoio de médicos e psicólogos, o inquérito é enviado para a
Justiça, que dá andamento ao caso.
A delegada Ana Cricia Macêdo faz um alerta
às famílias com menores dentro de casa. Ela pede que observem o comportamento
de cada membro da família e, sobretudo das crianças, assim como as pessoas que
elas convivem na escola ou outros ambientes. “Muitas vezes uma criança que era
alegre se torna triste, quem gostava de brincar com os amigos, tende a se
isolar. Tem outras que começam a se tocar mais ou ter medo de tudo e até chorar
sem motivo”, todas essas atitudes são um alerta, assegura Cricia.
A ameaça de morte, abandono ou agressão,
convivem com quem sofre abuso. Por isso, muitas vezes a criança demora a
contar, pois também tem medo de que lhe responsabilizem pelo ocorrido. Por isso
os pais devem pedir que a criança não tenha segredos e que conte tudo o que
acontece no seu dia. “Infelizmente a prevenção é difícil, nunca se sabe quando
pode acontecer. A cabeça do ser humano surpreende e as atitudes são sempre
inesperadas. O que eu posso dizer é que na delegacia, que só tem delegadas
mulheres, iremos atuar com rigor e certamente o culpado será punido”,
finalizou.
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