FONTE: Fabiana Cambricoli, do Estadão Conteúdo, em Punta del Este (noticias.uol.com.br).
A maioria dos
pacientes que sofrem de artrite reumatoide não sabe que as lesões nas
articulações provocadas pela doença são irreversíveis, mostra pesquisa
divulgada na terça-feira, 18, no Congresso da Liga Panamericana das Associações
de Reumatologia (Panlar), em Punta del Este, Uruguai. Doença crônica e
autoimune, a artrite reumatoide atinge cerca de 2 milhões de brasileiros e pode
levar à incapacidade e até à morte.
O levantamento, o
maior já realizado no mundo sobre a doença, aponta que, na América Latina, 55%
dos entrevistados não sabiam que as lesões que comprometem as articulações não
podem ser revertidas. Além disso, 43% dizem acreditar que a doença não é tão
séria quanto outros problemas crônicos, como o diabetes e a hipertensão
arterial. No Brasil, o índice chega a 46%, quase o dobro do observado no resto
do mundo (24%).
Apesar da
desinformação, 88% dos entrevistados acreditam ter boa compreensão sobre a
importância de manter a doença controlada e outros 61% disseram estar bem
informados sobre como fazer isso. "Esses dados são preocupantes porque
mostram que o paciente acha que compreende bem a sua doença, mas não sabe
coisas básicas sobre ela. Sem essas informações, fica mais difícil de fazermos
com que ele siga o tratamento e mantenha a doença controlada", afirma o
reumatologista Roger A. Levy, professor da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ) e membro do comitê que coordenou a pesquisa na América Latina.
No continente, foram ouvidos 1.032 pacientes. Em todo o mundo, foram mais de 10
mil entrevistados.
Controle.
O médico ressalta,
ainda, que a artrite reumatoide pode ter complicações tão graves quanto às
demais doenças crônicas e que, por mais que ela não tenha cura, precisa estar
controlada. No entanto, muitos pacientes pensam que só devem tomar a medicação
quando sentem dor. De acordo com a pesquisa, 63% dos entrevistados dizem
acreditar que sua doença está controlada quando não manifestam o sintoma.
"Essa percepção prejudica o paciente. Se ele para de tomar a medicação
quando não sente dor, a doença pode evoluir e provocar as lesões irreversíveis,
que vão causar deformidades e incapacidade de funções em vários membros,
sobretudo nas mãos", alerta o especialista.
Líder de um grupo de
pacientes, a universitária Priscila Torres, de 33 anos, diz que o comportamento
de buscar ajuda apenas no momento da dor é comum. "Muita gente procura
nosso grupo da internet, faz desabafos, tira as dúvidas, e quando a crise passa,
apaga tudo e desaparece, como se acreditasse que a doença pudesse sumir",
diz ela.
Para Levy, a falta de
informação não é culpa do paciente. "Temos que fornecer informação de
qualidade para ele e estabelecer uma relação de maior igualdade. Como médico,
não posso apenas impor o tratamento ao paciente sem ouvir a opinião dele",
disse. Com a desinformação constatada pela pesquisa, associações médicas,
grupos de pacientes e indústria farmacêutica lançaram uma campanha para
melhorar a educação daqueles que possuem artrite reumatoide. Batizada de
"AR: Juntos Por Esta Causa", a iniciativa disponibiliza informação em
uma página da internet (www.despertarbrasil.com.br) e elaborou um guia para que
os pacientes estabeleçam um diálogo com o médico para que ambos possam decidir,
juntos, um plano de tratamento viável e que o paciente possa seguir.
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