FONTE:, Em Paris, (noticias.uol.com.br).
A maioria dos
remédios antidepressivos é ineficaz em crianças e adolescentes que sofrem de
depressão grave, podendo ser, eventualmente, até perigoso, aponta um estudo
publicado na quinta-feira (8) no periódico médico britânico "The Lancet".
Realizado por um
grupo internacional de pesquisadores, o estudo revê 34 testes em mais de 5.000
crianças e adolescentes, com idades entre 9 e 18 anos, envolvendo 14
antidepressivos.
Apenas um desses
medicamentos, a fluoxetina -- comercializada principalmente como Prozac --,
mostrou-se mais eficaz do que um placebo para tratar dos sintomas de uma
depressão.
A fluoxetina também é
mais bem tolerada do que os demais antidepressivos.
No sentido contrário,
a nortriptilina foi considerada a menos eficaz dos 14 antidepressivos
estudados, e a imipramina, a menos tolerada. Já a venlafaxina está associada a
um risco crescente de pensamentos suicidas.
Os pesquisadores
reconhecem, porém, que a verdadeira eficácia e os riscos de efeitos colaterais
indesejáveis graves desses medicamentos continuam no campo do desconhecido,
devido à fragilidade dos testes clínicos existentes.
É o caso, sobretudo,
dos pensamentos e comportamentos suicidas ligados aos antidepressivos. Em um
comentário agregado ao estudo, o pesquisador australiano Jon Jureidini destaca
que, no que diz respeito à paroxetina, eles atingem 10% em uma nova análise de
dados, contra 3% em estudos já publicados.
Segundo estimativas
citadas pelo estudo, 2,8% das crianças entre 6 e 12 anos e 5,6% dos
adolescentes sofrem de problemas depressivos graves nos países desenvolvidos.
Esse número pode estar subestimado, levando-se em conta a dificuldade de diagnosticar
a patologia.
Esses sintomas são
diferentes dos observados nos adultos e incluem, em especial, irritabilidade,
não querer ir à escola, ou comportamento agressivo.
Em relação aos
antidepressivos -- que também podem causar, além das ideias suicidas, dor de
cabeça, náusea e insônia --, sua prescrição continua a aumentar, ainda que a
maioria dos países ocidentais recomende, a partir de agora, que sejam
reservados às depressões mais graves e após o fracasso das psicoterapias.
"Os antidepressivos
não parecem oferecer um benefício claro nas crianças e nos adolescentes",
concluem os autores do estudo, que acrescentam que "a fluoxetina é,
provavelmente, a melhor opção quando o tratamento medicamentoso é
indicado".
Vários especialistas
comemoraram os resultados do estudo, que fortalecem as recomendações de países
como a França, ou o Reino Unido, no que diz respeito à prescrição de
antidepressivos às crianças e aos adolescentes.
O primeiro tratamento
das depressões em ambos os grupos deve continuar sendo "a abordagem
psicológica, ou relacional", que é "mais eficaz no longo prazo",
disse o vice-presidente da Sociedade Francesa de Psiquiatria da Criança e do
Adolescente, Daniel Marcelli, que participou da elaboração das recomendações
francesas.
"Estamos de
acordo com as conclusões dos autores, que consideram que os antidepressivos
devem ser utilizados de forma sensata e acompanhados de perto", declarou a
psiquiatra britânica, Bernadka Dubicka.
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