FONTE: Helena Bertho, do UOL, (http://estilo.uol.com.br).
Se você é homem, provavelmente já ouviu que
"homem que é homem, nunca nega sexo". Ou então que "está sempre
disposto para transar", porque isso seria da natureza masculina. Mas, na
verdade, isso é apenas uma construção social. Inclusive, segundo especialistas,
essa crença é responsável pela maior parte das disfunções eréteis.
É pressão demais.
Para o auxiliar de laboratório Joseildo Domingos,
29 anos, essa ideia é um grande incômodo. "Acho muito ruim quando a mulher
pensa que temos que ser assim. Não sou uma máquina. Ter passado isso com a
minha ex, essa pressão para estar sempre pronto, afetava muito meu desempenho.
Não consigo reagir sob pressão", conta ele.
O sexólogo João Borzino, autor do livro "Nem
Sapo, muito menos príncipe", explica que isso é comum. "Quando se
fala em disfunção sexual erétil, todo mundo pensa na esfera orgânica. Mas, na
verdade, a maior parte dos problemas masculinos estão ligados à ansiedade pelo
desempenho na cama".
E não só as mulheres cobram dos homens a
prontidão na cama, mas toda a sociedade. "Vem de todos os lados. Na
conversa de bar, ele está sempre querendo se gabar de ser o alfa, o macho
caçador", explica Borzino.
João*, 23 anos, recentemente decidiu assumir para si e
para os outros que às vezes não está afim de transar e com frequência é julgado
pelos amigos. "Por não fazer a linha 'hétero padrão', às vezes perguntam
se sou gay". É comum que essa visão da masculinidade ligada ao desempenho
sexual ande junto da homofobia, quando se considera que ser gay é uma ofensa.
Homem pode não estar afim.
O tesão e o prazer não estão ligados apenas aos
hormônios e questões físicas, mas são influenciados por diversos outros
fatores. "Outras esferas influenciam isso, o relacionamento, o emocional,
o trabalho e até os fatores socioculturais", explica Borzino. Às vezes a
química com a mulher não é boa, ou o momento não é adequado, e tudo bem o homem
não querer transar.
"Tem dia que você está disposto a transar,
cheio de vontade, tem dia que não. Quando ela quer, eu não, eu falo que não
estou afim", conta o estudante Arnaldo*, 24 anos. Ele diz que sua namorada está
aprendendo a aceitar isso.
Para a especialista em terapia da sexualidade e
diretora do InpaSex, Carla Zéglio, não se sentir obrigado é libertador tanto
para os homens, quanto para as mulheres que se relacionam com eles. "Se
ele não se obrigar, não tem a ansiedade que gera adrenalina e impede a ereção e
pode até ser que acabe rolando", diz.
Ela reforça também que quando o homem entende que
não tem a obrigação de transar, ele passa a entender que a mulher também não
tem a obrigação de estar disponível e isso melhora a relação e diminui a
violência.
É uma crença que não faz mais sentido.
E quando foi que surgiu essa ideia do homem que
não nega fogo? Segundo os especialistas, isso vem do início da história da
humanidade, quando era necessário reproduzir para manter a espécie. "Lá
nos primórdios da humanidade, existia a necessidade de que os homens tivessem
relação com várias mulheres", explica Carla Zéglio.
Já a ideia contrária, de que a mulher tem que se
guardar, surgiu posteriormente, quando a propriedade privada passou a existir.
"O homem precisava saber se o filho era seu", explica João Borzino,
pois a descendência determinava o destino da herança dos bens.
No entanto, a sociedade já mudou muito. Métodos
contraceptivos foram criados e a população cresceu. "A gente não precisa
mais de gente para povoar o mundo, o sexo não é mais para isso. O sexo hoje é
por prazer, qualidade de vida, se aproximar da parceira, tem outras funções e a
última delas é procriar", diz Carla. E completa: "os homens que
conseguem admitir que não estão prontos, eles são os verdadeiros homens que
estão participando do processo de mudança social e relacional".
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