FONTE: Luciana Mastrorosa, Colaboração para o UOL, em Buenos Aires, (http://estilo.uol.com.br).
Os adoçantes artificiais vêm sendo usados há anos
para diminuir as calorias dos alimentos, mas seu efeito no emagrecimento é
controverso. Peter Rogers, da Universidade de Bristol, no Reino Unido,
apresentou dados animadores no 21º Congresso Internacional de Nutrição, em
Buenos Aires, Argentina.
Estudos com ratos e humanos apontaram que o uso
de adoçantes em substituição ao açúcar, especialmente em bebidas, poderia,
de fato, levar a uma ingestão calórica reduzida, ajudando, assim, na perda de
peso. A vantagem das bebidas com adoçantes seriam comparáveis até à ingestão de
água, pois teriam o bônus de ajudar a reduzir o desejo por doces. E, se
consumidas antes das refeições, poderiam contribuir também para uma maior
saciedade, levando à menor ingestão de comida.
Os resultados apresentados por Rogers no
Congresso seriam ótimos, não fosse o fato de que, em julho deste ano, Meghan
Azad e equipe, do Canadá, apresentaram outro artigo científico, afirmando que
não há evidências suficientes que suportem os apregoados benefícios no consumo
de adoçantes com objetivo de emagrecer.
E mais: de acordo com esse estudo, a longo prazo,
o consumo rotineiro dessas substâncias poderia estar associado não só a um
risco cardiovascular aumentado, como ao risco de... ganho de peso!
Rogers criticou o artigo durante sua palestra,
dizendo que a quantidade usada era muito acima do consumo normal. Mas não
mencionou que Azad rebateu publicamente essas críticas e que afirmou, entre
outras coisas, tratar-se de algo potencialmente irresponsável dizer que bebidas
com adoçantes seriam melhores para a saúde do que água.
Um ponto a favor aos adoçantes, como explicou
France Bellisle, da Universidade de Paris é que eles, de fato, podem contribuir
para reduzir o desejo por doces, com a vantagem da redução calórica. “A vontade
de comer doce vai diminuindo gradativamente ao longo da vida, mas alguns adultos
continuam a ter um desejo muito forte por esse tipo de sabor”, diz ela. Assim,
nesses casos, as bebidas adoçadas seriam até mais interessantes para colaborar
com a perda de peso, pois substituem o açúcar.
E agora, tomar ou não?
Para entender melhor esse cenário, O UOL
conversou com a nutricionista Ana Paula Gines Geraldo, professora da
Universidade Federal de Santa Catarina e doutora pela Universidade de São Paulo
com pesquisa sobre adoçantes.
“São necessários mais estudos para que sejam
realmente comprovados os benefícios do uso de adoçantes”, diz. Mas sentencia:
“Adoçante como única estratégia não funciona”.
Ana Paula explica que, até recentemente, os
benefícios e indicações do consumo de adoçantes estavam muito claros, tanto no
controle da glicemia quanto na manutenção do peso corporal. Só que, a partir de
um certo ponto, foram descobertos receptores para o gosto doce no intestino, e
isso motivou cientistas do mundo todo a estudar o impacto dos adoçantes na microbiota,
muitos deles ainda sendo desenvolvidos. Os primeiros resultados já começaram a
aparecer, alguns com resultados destoantes do cenário anterior, como no caso do
artigo de Azad.
Não adianta adoçante sem mudar o estilo de vida.
A questão, como aponta Ana Paula em seu doutorado, é que, em geral, os
consumidores desse tipo de produto estão em guerra com a balança e acabam
enxergando nos edulcorantes uma esperança para reduzir o peso, sem alterar
outros aspectos do estilo de vida.
“É aquela pessoa que vai na lanchonete, pede o
hambúrguer e a batata frita, e toma um refrigerante
diet. Não adianta nada”.
Além disso, há pessoas que acabam consumindo
adoçantes, ou produtos elaborados com eles, em grande quantidade, o que não é o
mais adequado.
Mesmo sendo seguros para consumo, existe um
limite, a IDA – Ingestão diária adequada – para cada tipo de produto. “O
recomendável é estar sempre bem abaixo da IDA”, diz Ana Paula.
“Se você come tudo diet, acaba não sabendo o
quanto está consumindo, porque os rótulos não informam a quantidade exata do
adoçante, só o tipo utilizado”.
A recomendação mais segura até agora para quem
faz uso desses produtos continua sendo o equilíbrio.
“Dentro de tudo o que estudei, acho que os
diabéticos se beneficiam sim do consumo de adoçantes”, afirma Ana Paula. No
caso de emagrecimento ou manutenção do peso, o ideal é que ele seja consumido
na menor quantidade possível, dentro do contexto de um estilo de vida saudável
e uma dieta que realmente leve à perda de peso.
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