sexta-feira, 10 de novembro de 2017

DE PSORÍASE À OBESIDADE: MICROBIOTA PODE AJUDAR A TRATAR DOENÇAS...

FONTE: Jane E. Brody, Do New York Times, (http://estilo.uol.com.br).


A tecnologia moderna permite que os pesquisadores médicos analisem os habitantes de nossas entranhas, micróbios que a maioria das pessoas provavelmente não gostaria nem de saber que existem. Mas a informação resultante pode, um dia, salvar sua saúde ou mesmo sua vida.

Estou me referindo aos trilhões de bactérias, vírus e fungos que moram virtualmente em todas as partes do corpo, incluindo os tecidos que os pesquisadores achavam que eram estéreis. Juntos, eles formam o microbioma, ou microbiota, e representam o que é talvez a mais promissora e desafiadora tarefa da medicina moderna: determinar os habitantes normais de cada órgão e descobrir como restaurar o equilíbrio adequado dos organismos quando ele é abalado.

Com respaldo dos Institutos Nacionais de Saúde, uma grande equipe de cientistas está envolvida na criação de um mapa microbial "normal" para os seguintes tecidos: trato gastrointestinal, cavidade oral, pele, vias aéreas, trato urogenital, sangue e olhos. O esforço, chamado Projeto do Microbioma Humano, aproveita uma nova tecnologia que pode analisar rapidamente amostras grandes de material genético, tornando possível identificar os organismos presentes nesses tecidos.

Dependendo do local do corpo, é impossível cultivar e até mesmo identificar, por meio das técnicas mais antigas e tradicionais usadas pelos microbiólogos, qualquer coisa entre 20 e 60 por cento dos organismos que formam a microbiota.

Se o projeto de cinco anos do instituto tiver sucesso em definir as mudanças no microbioma associadas a doenças, terá o potencial de transformar a medicina, assumindo que é possível descobrir maneiras de corrigir as distorções microbiais dos tecidos afetados.

Seguem alguns projetos de demonstração já em andamento:
Pele: O doutor Martin J. Blaser, microbiólogo e diretor do programa de microbioma humano da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, está coordenando o exame dos organismos da pele de 75 pessoas com e sem psoríase, para checar se os agentes usados para tratar a doença podem prejudicar o microbioma.

Vagina: Jacques Ravel, da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, e Larry J. Forney, da Universidade de Idaho, estão estudando 200 mulheres para determinar as mudanças microbiais que podem resultar em uma infecção comum chamada vaginose bacteriana, que aflige mais de 20 milhões de mulheres em idade fértil nos Estados Unidos.

Sangue: Na Universidade de Washington, em St. Louis, o doutor Gregory A. Storch, especialista em doenças infecciosas pediátricas, e seus colegas estão examinando o papel dos vírus e do sistema imunológico no sangue e nos tratos respiratório e gastrointestinal de crianças que sofrem com febres sérias, que resultam em cerca de 20 milhões de visitas por ano ao pronto-socorro dos hospitais.

Trato gastrointestinal: A microbióloga Claire M. Fraser-Liggett e o geneticista doutor Alan R. Shuldiner, ambos da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, estão explorando como o microbioma afeta o uso de energia pelo corpo e o desenvolvimento da obesidade.

Estudos anteriores já encontraram diferenças na microbiota do intestino de adultos magros e obesos. Também há evidências de que a dieta típica dos Estados Unidos, altamente calórica e rica em açúcares, carnes e alimentos processados pode prejudicar o equilíbrio dos micróbios que vivem no intestino e promover a extração e a absorção de um excesso de calorias dos alimentos.

Uma dieta com mais plantas pode resultar em um microbioma que contém uma gama mais ampla de organismos saudáveis. Em estudos, ratos que tiveram a microbiota pré-condicionada com a dieta típica dos EUA não responderam de maneira tão saudável a uma dieta com base em plantas.

Também existe evidência de que os micróbios que moram no intestino podem afetar outras partes do corpo por meio de sua influência nas respostas imunológicas do indivíduo. Essa ação indireta foi sugerida como o mecanismo que possivelmente está por trás da artrite reumatoide. Nos ratos, provou-se que uma bactéria específica no intestino promove a produção de anticorpos que atacam as articulações, resultando na destruição típica que ocorre nos casos de artrite reumatoide.


O papel da microbiota (e da dieta) na saúde e nas doenças.
Estudos sugerem que existe um papel da microbiota no risco de desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas como esquizofrenia e até mesmo síndrome da fatiga crônica. Pesquisadores acreditam que em pessoas com suscetibilidade genética, os micróbios alterados no intestino podem romper a barreira entre o cérebro e o sangue, levando à produção de anticorpos que impedem o desenvolvimento cerebral normal.

Um dos desafios de se descobrir qual o papel do microbioma na saúde e nas doenças é determinar se mudanças descobertas nos micro-organismos que habitam vários órgãos são a causa ou o efeito. A maior parte do que é conhecido sobre a microbiota em pessoas com vários problemas de saúde tem base na observação, o que dificulta dizer o que veio primeiro: a doença ou o microbioma desequilibrado.

Estudos em animais são uma pista, mas não uma prova de um efeito parecido em pessoas. Até que os estudos terapêuticos que agora estão sendo feitos terminem, pacientes com problemas que se acredita sejam influenciados pelo microbioma não têm escolha a não ser confiar em possíveis tratamentos sugeridos pela pesquisa animal e por alguns estudos preliminares em humanos.

As pessoas com síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal, problemas de alergia e infecções por organismos resistentes aos remédios podem se beneficiar ao tomar probióticos, embora alguns não sejam efetivos. Pode ser necessário fazer remédios para cada condição ou até mesmo para cada paciente.


As pessoas interessadas em promover um conjunto de micro-organismos saudável deveriam considerar a ideia de mudar de uma dieta focada em carnes, carboidratos e alimentos processados para uma que enfatize as plantas. Como o doutor Jeffrey Gordon, especialista de genômica da Escola de Medicina da Universidade de Washington, contou ao New York Times no ano passado: "O valor nutricional dos alimentos é influenciado em parte pela comunidade de micróbios que vai lidar com essa comida".

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