A indústria açucareira
americana mascarou resultados e deixou de financiar pesquisas científicas sobre os efeitos negativos do açúcar 50
anos atrás, de acordo com um estudo publicado nesta terça-feira no
periódico PLOS Biology. Os autores
analisaram documentos da década de 1960 e perceberam evidências de intervenção
por parte da Fundação de Pesquisa sobre Açúcar (SRF, na sigla em inglês), que
manipulou pesquisas em animais para proteger interesses comerciais e
influenciar a opinião pública.
Segundo
os autores do estudo, se os experimentos não tivessem sido manipulados, o
debate sobre o impacto do consumo de açúcar na saúde teria começado bem antes,
adiantando medidas de prevenção contra doenças cardíacas, diabetes, obesidade e
outros. “A Associação do Açúcar [organização americana voltada ao comércio] provou
em 1969 que as calorias do açúcar tinham diferentes efeitos metabólicos do que
as calorias do amido”, disse em comunicado a autora Cristin Kearns, da
Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos. A cientista
descobriu os documentos da indústria e decidiu dar início às investigações.
“Isso contrasta radicalmente com a posição pública [da associação], da época e
de agora, de que todas as calorias são iguais.”
Kearns
e sua equipe descobriram documentos que revelavam que a indústria açucareira
começou a trabalhar em conjunto com nutricionistas e outros cientistas para
apontar a gordura e o colesterol como as principais causas das doenças
arteriais coronarianas, um conjunto de graves doenças cardíacas. O objetivo era
minimizar evidências de que o consumo de sacarose também é um fator de risco e
incentivar o consumo por parte do público. Os pesquisadores relatam no estudo
recém-publicado que a SRF financiou secretamente uma revisão no New
England Journal of Medicine, em 1967, para eliminar qualquer evidência que
ligasse o consumo de sacarose aos níveis de lipídios no sangue e às doenças
cardíacas.
Os
estudos mascarados teriam revelado que a sacarose, principal substância que
compõe o açúcar de mesa, é uma indutora da hiperglicemia (níveis altos de
açúcar no sangue, que leva à diabetes) e que seu consumo pode estar associado
ao câncer de bexiga. Se essas informações fossem disponibilizadas ao público já
na década de 1960, saberíamos há 50 anos que o açúcar é um produto
potencialmente carcinogênico.
Todas
essas descobertas foram feitas durante o Projeto 259, uma série de estudos em
animais financiados pela SRF de 1968 a 1970 que foi interrompido e enterrado
depois que resultados preliminares começaram a indicar efeitos negativos do
açúcar.
“Este
caso é mais uma ilustração de que, assim como a indústria do tabaco, a
indústria do açúcar tem uma longa história de supressão de resultados
científicos que não apoiam seus interesses econômicos”, disse o coautor Stanton
Glantz, professor de medicina na Universidade da Califórnia e diretor do Centro
de Pesquisa e Educação em Controle do Tabaco da instituição.
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