Quando uma pessoa
está prestes a morrer, do que ela costuma falar?
A "BBC News"
entrevistou enfermeiras especializadas em cuidados paliativos e de pacientes
com câncer do hospital da Universidade Royal Stoke, no Reino Unido, para saber
o que ocupa a mente de pessoas em estado terminal e quais são seus desejos
derradeiros.
"Alguns pedem
seu drink favorito", diz a enfermeira Dani Jervis.
"Às vezes, elas
só querem uma xícara de chá", afirma Carina Lowe, que trabalha no mesmo
hospital.
Outra enfermeira se
recorda de uma paciente idosa que estava internada em uma ala de cirurgia
bastante movimentada.
"O marido dela
também ficou doente, e eles só queriam que suas camas ficassem juntas",
diz Angela Beeson.
"Deitados um ao
lado do outro, de mãos dadas, vi eles cantando juntos. Os dois morreram naquela
ala, com dez dias de diferença um do outro."
Sem medo.
Naturalmente, é
esperado que o período logo antes da própria morte, quando uma pessoa está
ciente de que não lhe resta muito tempo, seja de muita tristeza na maioria das
vezes.
No entanto, esse
estágio final não é inteiramente marcado por sentimentos ruins, conta a
enfermeira Louise Massey.
"Ver a alegria
no rosto de uma pessoa quando ela está morrendo e seu cachorro vem visitar é
algo que não tem preço", diz ela.
Esse tipo de situação
não é incomum, como se recorda a enfermeira Nicki Morgan: "Já tivemos uma
vez um border collie e um pastor alemão deitados na cama com um senhor, esse
era seu desejo final".
A enfermeira Massey
leva na memória o caso de um paciente que, há muitos anos, estava morrendo e
apenas parcialmente consciente.
"Ele disse que
estava feliz de morrer, porque havia tido um vislumbre do céu, que era um lugar
maravilhoso e que não tinha mais medo de partir."
Premonições.
Uma das enfermeiras
ouvidas pela BBC conta que, com frequência, ocorrem coincidências que alguns
interpretam como premonições.
"Pessoas já
disseram: 'Completo 80 anos em algumas semanas. Vou ter minha festa de
aniversário e depois eu vou partir'. E, estranhamente, vimos isso
acontecer", recorda-se Morgan.
Mas e quanto a
arrependimentos? Há muitos? Ou os pacientes deixam isso para trás?
"Lembro de uma
pessoa me dizendo que a vida é muito curta e que devemos fazer o que nos deixa
felizes", afirma Jervis.
A enfermeira Morgan
diz que é muito comum as pessoas nesta situação pensarem em suas
aposentadorias.
"Com frequência,
as pessoas trabalharam muito, determinaram uma data para se aposentar e pensam
que ficaram doentes justo neste momento e não tiveram tempo suficiente para
aproveitar e fazer as coisas que gostam".
Lowe se lembra de
sobre um episódio que ocorreu há pouco tempo com ela: "Uma coisa que foi
dita para mim bem recentemente é que o processo de morrer não é como na TV ou
no cinema".
'Boa morte'.
Por sua vez, Jervis
diz acreditar ser possível ter uma experiência que pode ser descrita como
"uma boa morte". "A comunicação é essencial", afirma.
Massey concorda:
"Isso pode significar não sentir dor, ter a família ao lado, pode ser o
local onde querem morrer".
As enfermeiras têm
alguns conselhos que acreditam que podem ajudar neste que é o único momento
inescapável da vida: a morte.
"Se há algo que
você quer fazer, corra atrás disso", diz Jervis.
"Falamos de
todos os outros assuntos hoje em dia, mas viver também significa falar sobre a
morte. Quais são seus objetivos na vida? O que é importante para você?",
afirma Massey.
A enfermeira Beeson
fala que seu trabalho acabou por completo com seu medo da morte e mudou sua
postura diante do assunto. "Falo disso abertamente com a minha
família", diz.
"Precisamos
planejar com antecedência os cuidados que receberemos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário