A primeira constatação foi a presença de uma
espécie de embutido congelado para cachorro sendo comercializado nas gôndolas,
em lugar de carne para consumo humano.
A crise na
Venezuela atingiu um novo patamar nos últimos dias. A Provea, ONG de defesa dos
direitos humanos, percorreu supermercados em Caracas e constatou que os
venezuelanos começaram a consumir comida para cachorro e ração de galinha.
Na quinta-feira,
11, quatro pessoas morreram em saques e confrontos com a polícia causados pela
falta de comida, aumentando para sete o número de mortos nas últimas duas
semanas. Carlos Patiño, um dos diretores da Provea, disse nesta sexta-feira ao
Estado que rumores de que a população estava consumindo comida para animais
fizeram a ONG percorrer vários supermercados de Caracas, nos últimos dias de
dezembro e no início de janeiro. Entre os locais visitados está o Ipsfa, no
Centro Comercial Los Proceres, shopping center de um bairro de classe média da
capital.
A primeira
constatação foi a presença de uma espécie de embutido congelado para cachorro
sendo comercializado nas gôndolas, em lugar de carne para consumo humano. Ao
entrevistar as pessoas que compravam o produto, os pesquisadores escutaram
histórias parecidas envolvendo receitas diferentes. Alguns preparavam a comida
para cachorro com ovos mexidos.
Outros, faziam
uma gororoba com arroz, para disfarçar o sabor. “As pessoas estão comendo uma
espécie de salsicha para cachorro. É uma mistura de partes não comestíveis do
frango: ossos triturados, penas, pele e cartilagem”, disse Patiño. “Médicos que
consultamos afirmam que o consumo humano desse tipo de produto é altamente
perigoso, porque o processamento não segue padrões de higiene”.
De acordo com
Patiño, a ração para galinhas também passou a ser consumida com frequência, em
substituição ao arroz, por ser mais econômica e render mais. É cada vez mais
comum, segundo ele, relatos de famílias que não conseguem mais comprar comida.
A crise humanitária na Venezuela não é só causada pela escassez.
O preço dos
alimentos também atingiu um patamar proibitivo para a maioria dos venezuelanos.
O salário mínimo é de 456 mil bolívares, o equivalente a US$ 136 na utopia do
câmbio oficial e US$ 2,5 na realidade do câmbio paralelo. Um quilo de açúcar
custa em média 155 mil bolívares – um terço do salário mínimo.
O litro de leite
pode ser encontrado por 60 mil bolívares, cerca de 15% de um salário mínimo.
Quinta-feira, no Estado de Mérida, quatro pessoas morreram em distúrbios
causados pela falta de comida – 16 pessoas foram feridas por tiros disparados
pela polícia. Nas últimas duas semanas, foram sete mortos em situações
semelhantes. Em carta aberta ao presidente Nicolás Maduro, um grupo de economistas
alertou ontem que a inflação na Venezuela pode fechar 2018 em 400.000%.
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