“Uma coisa é envelhecer e outra é ter Alzheimer.
A doença está virando um problema, pois não possui tratamentos eficazes e cada
vez mais pessoas têm a condição”. A frase de Yaakov Stern, professor de
neuropsicologia na Universidade Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos,
alerta sobre a realidade da condição no mundo.
Segundo Stern, o
estágio das pesquisas sobre a doença é o mesmo do câncer anos atrás: “O
Alzheimer está se tornando complicado. Talvez estejamos onde o câncer estava
anos atrás. A maioria dos estudos já sabe tudo sobre os biomarcadores
beta-amiloides, mas isso não ajuda a chegar num tratamento eficaz ou na cura.”
O professor afirma que não são só as amiloides responsáveis pela doença, como
também as proteínas TAU, a genética e outras patologias, e ainda não está claro
qual o tratamento ideal e qual o meio certo de diagnosticá-la.
O problema é as
pessoas podem começar a ter doença vinte anos antes de desenvolver os sintomas,
mas ela quase nunca são diagnosticadas. “Quando pensamos em fatores de risco, a
idade é o maior deles. Um estudo do The Lancet de 2015 mostrou que 77%
das pessoas com demência no Brasil não são diagnosticados”, disse Benjamin
Hampstead, neuropsicologista da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos,
especializado em demência e envelhecimento, durante o Brain Congress, na
quarta-feira (20).
Mas nem tudo está
perdido. Garantir uma reserva cognitiva pode retardar o aparecimento e o avanço
da doença. De acordo com Stern, mudanças no estilo de vida podem ser muito
benéficas. Estudar, ter um ensino completo, trabalhar e ter uma ocupação e
uma boa relação social podem mudar isso. Sem contar a prática de exercícios
físicos e a dieta
mediterrânea, que podem diminuir o risco de demência
e manter o cérebro funcional.
“A ideia de reserva
cognitiva não tira de você o risco de ter a doença, mas garante mais anos de
cérebro ativo”, diz o professor de neuropsicologia. “É uma doença muito
horrível, mas há intervenções de estilo de vida que podem ajudar as pessoas a
manterem suas habilidades por mais tempo.”
E o remédio para o
Alzheimer, ele vai existir?
A psicóloga Mônica
Yassuda, orientadora do programa de pós-graduação em gerontologia da EACH USP e
da Unicamp ressalta que existem exames que detectam a presença de biomarcadores
no cérebro, mas isso não quer dizer que o diagnóstico está garantido. “A
questão é que muitas pessoas têm amiloide e TAU no cérebro e não desenvolvem a
doença. Por isso, o ideal é que os indivíduos implementem as mudanças de vida o
quanto antes”, diz.
O neurologista Paulo
Caramelli, coordenador do Grupo de Pesquisa em Neurologia Cognitiva e do
Comportamento da UFMG, afirma que em breve medicamentos estão disponíveis:
“Talvez aprovaremos não uma droga que foque nos sintomas, mas que diminua a
quantidade amiloides no cérebro. Nos próximos três ou quatro anos uma dessas
drogas estará no mercado. Mas isso não significa que a doença será curada.”
Caramelli lembra que
existe uma droga genérica no mercado, mas não um tratamento eficiente para a
doença. “A questão é que tem que melhorar a forma de diagnosticar o Alzheimer e
depois ir atrás de uma droga eficaz. Por enquanto, não temos como diagnosticar
a maioria das pessoas, já que elas podem ter amiloide e não ter a a condição.
Essa droga só funcionará em uma pessoa com uma patologia específica, fora o
preço, que deverá ser alto.”
Stern, no entanto, está
esperançoso e acredita que novas descobertas estão por vir. “Eles sabem muito
sobre amiloide, mas isso não significa que abrange todos que têm Alzheimer. É
caro e complicado tratar as diferentes patologias do problema. É um copo meio
cheio e meio vazio. Eu estou esperançoso há muito tempo. Minha esperança é que
algo novo apareça, e os cientistas estão atrás disso.”
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