Um novo estudo
internacional relaciona o Alzheimer a infecções virais, dando mais força a uma
teoria até aqui considerada controversa e abrindo caminhos para novos
tratamentos e prevenção. O trabalho, publicado na revista científica Neuron,
atesta que dois subtipos do vírus da herpes (HHV-6A e HHV-7) foram encontrados
no cérebro de pacientes de Alzheimer em níveis até duas vezes maior do que os
achados no tecido cerebral de pessoas que não têm a doença.
Especialistas
envolvidos no estudo frisam que o vírus da herpes (ao qual 90% da população é
exposta ainda na infância) não causa Alzheimer. Mas o trabalho sugere que o
vírus pode deflagrar uma resposta do sistema imunológico capaz de aumentar o
acúmulo da proteína amiloide, responsável pelo Alzheimer. Já se sabia que a
inflamação dos tecidos cerebrais estava relacionada à doença. O novo estudo
fornece uma causa para a inflamação.
Os pesquisadores
fizeram o sequenciamento do RNA do vírus em quatro diferentes regiões do
cérebro humano, a partir de mais de 600 amostras de tecidos cerebrais. O
objetivo era quantificar quais genes estavam presentes nos tecidos e se
poderiam ser associados ao desenvolvimento da doença.
O grupo constatou uma
complexa rede de associações inesperadas, relacionando os vírus com diferentes
aspectos da biologia do Alzheimer com a formação das placas de proteína
amiloide e a severidade da doença. Para dar mais robustez aos resultados, eles
replicaram o experimento usando outras 800 amostras cerebrais provenientes de
outros bancos de tecidos, obtendo o mesmo resultado.
“O estudo representa um
avanço significativo na compreensão da hipótese viral do Alzheimer”, afirmou o
principal autor do trabalho, Joel Dudley, da Escola de Medicina da Universidade
Mount Sinai, nos EUA. “Nosso trabalho tornou evidente que determinados vírus
contribuem diretamente para o risco do indivíduo desenvolver Alzheimer e também
na própria progressão da doença.”
A teoria que relaciona
vírus ao Alzheimer não é uma unanimidade entre os especialistas na doença. Para
eles, o fato de serem encontradas grandes quantidades de vírus em cérebros com
Alzheimer não tem, necessariamente, uma relação de causa e consequência.
Entretanto, esse foi o estudo mais amplo a constatar a relação.
“Acho que o estudo é
muito importante porque adiciona fortes evidências sobre a relação entre
infecções virais e Alzheimer a demonstrações menos contundentes já feitas no
passado”, afirmou o professor da Escola de Medicina da UFRJ, Rogério
Panizzutti, especialista na doença. “Uma questão muito importante é que o
trabalho traz mais uma evidência de que existem fatores de risco modificáveis
para a doença e, se essa relação se confirmar, reduzir o grau de infecção das
pessoas poderá ajudar a diminuir a incidência de novos casos.”
Complexidade.
“É uma doença complexa,
e a resposta não será apenas uma coisa”, constatou o diretor do Centro de
Pesquisa em Alzheimer, da Escola de Medicina da Universidade de Washington,
John Morris, em entrevista ao The New York Times. “Se os vírus fazem parte
disso, nós, definitivamente, temos de estudar isso.”
*** As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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