O Ministério Público
Federal (MPF) instaurou um inquérito criminal para apurar se os brasileiros
filmados assediando uma mulher durante as comemorações da Copa do Mundo, na
Rússia, cometeram crime de injúria.
Requisitadas em regime
de urgência e prioridade, as investigações vão permitir a identificação de
todos os brasileiros envolvidos no episódio. Para a Procuradoria da República
no Distrito Federal, a conduta dos brasileiros ofendeu a dignidade da mulher
ainda não identificada, expondo-a à humilhação pública por meio de um
comportamento “nitidamente machista e discriminatório”.
A investigação foi
aberta com base na Convenção Internacional sobre Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Contra a Mulher, que define o comportamento preconceituoso
contra as mulheres. O Brasil e demais signatários do acordo devem observar e
zelar pelos direitos humanos e liberdades fundamentais em igualdade de
condições entre homens e mulheres.
O vídeo em que um grupo
de torcedores aparece ridicularizando uma moça que parece não compreender o
sentido das frases ofensivas gritadas, em coro e em português, é apenas um dos
três registros que, recentemente, se espalharam pelas redes sociais, com
brasileiros constrangendo pessoas de outras nacionalidades.
Em um segundo vídeo, um
rapaz vestindo a camisa da seleção brasileira pede a um menino russo que repita
uma série de frases obscenas e depreciativas. Em outro, três rapazes pedem a
três garotas que repitam frases de baixo calão. Um dos jovens que aparecem
neste último vídeo foi identificado como funcionário de uma empresa aérea
brasileira que o demitiu tão logo o assunto começou a ser noticiado.
O procedimento
investigatório criminal já instaurado pelo MPF visa a identificar os autores e
apurar os fatos relativos apenas ao primeiro vídeo. Justamente o que alcançou
maior repercussão, motivando a manifestação de repúdio de várias autoridades e
entidades brasileiras.
Os ministérios do
Turismo e do Esporte se apressaram em condenar o comportamento dos brasileiros.
Na Rússia, o ministro do Esporte, Leandro Cruz da Silva, disse que a atitude
dos brasileiros filmados ridicularizando a moça envergonharam todo o Brasil,
desdenhando da receptividade russa.
Em nota, o Ministério
do Turismo afirmou que o machismo e a misoginia não são aceitáveis sob nenhum
aspecto, muito menos em um evento como a Copa do Mundo, realizado para
“promover a integração entre povos e culturas do mundo todo”.
A Polícia Militar de
Santa Catarina (PM-SC) e a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em
Pernambuco identificaram nominalmente dois dos homens que aparecem no vídeo que
ganhou as redes sociais nos últimos dias. A PM anunciou que o tenente, que está
de férias na Rússia, vai responder a processo administrativo disciplinar quando
retornar ao trabalho. E a OAB repudiou “veementemente” o episódio e o
envolvimento de um advogado pernambucano.
Na Rússia, onde o
episódio parece ter repercutido menos que no Brasil, uma ativista criou um
abaixo-assinado para reunir manifestações de apoio à punição aos brasileiros.
Mais de 23 mil pessoas já assinaram a petição que Alena Popova pretende
entregar às autoridades russas e à embaixada brasileira na Rússia a fim de
exigir a aplicação das leis que preveem punição a quem humilhe a honra ou a
dignidade de outras pessoas.
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