Abuso ou assédio sexual
não é um tema fácil de ser discutido em público, mas as redes sociais têm
exercido um papel importante para, ao menos, mostrar que o problema existe. E
muitos pesquisadores têm aproveitado esses movimentos para observar o que as
pessoas pensam e identificar alguns mitos que precisam ser combatidos.
No ano passado, na
esteira do movimento #MeToo (#EuTambém, no Brasil), o jornalista australiano
Benjamin Law decidiu lançar no Twitter a hashtag #HowIWillChange (Como vou
mudar, em tradução livre). Ele concluiu que se quase todas as mulheres que ele
conhecia já tinham sido assediadas, abusadas ou agredidas, então ele conhecia
homens que cometeram esse tipo de violência. Ou talvez até fosse um deles.
De acordo com
pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Boston, nos Estados Unidos, muitos
usuários do Twitter têm utilizado a hashtag para divulgar estratégias
potencialmente eficazes de prevenção à violência sexual. Eles analisaram o
conteúdo de uma amostra de 1.493 tweets com a menção.
O estudo, publicado no Journal
of Interpersonal Violence, mostrou que 52,7% dos tweets discutiam algum
tipo de forma de prevenção, desde ensinar crianças sobre respeito e
relacionamentos até pensar melhor nas próprias atitudes. Parte considerável, ou
34% dos tweets, sugeria estratégias mais reativas, como desafiar piadas e
declarações misóginas ou sexistas, bem como incentivar denúncias.
Mas a análise também
trouxe pontos negativos. Os pesquisadores perceberam que a maior parte dos
usuários ainda a ideia de violência sexual como algo que é praticado por um
estranho, um mito que não procede. A maioria dos casos de assédio e mesmo de
estupro é cometida por conhecidos ou até por parceiros das vítimas.
A pesquisa também
mostrou que 22,4% dos tweets continham opiniões negativas em relação à hashtag,
com colocações como culpar a vítima ou alegar que a cultura do estupro não
existe ou é um exagero. Como observam os autores, ainda vamos ver muito
retrocesso. Mas enxergar a realidade é importante para se pensar em mudanças.
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